segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

A baleia-comum hoje é baleia-rara


((o))eco - 12/12/14

21b CSR Bp 20050624 17 NPIE 0550 bestUma baleia-comum (Balaenoptera physalus) fotografada em meio a um salto, no Mar Mediterrâneo. Foto: Cetacean Sanctuary Research Project (CSR)
baleia-comum (Balaenoptera physalus) é o segundo maior animal existente no planeta, depois da baleia-azul. Também conhecida como baleia-fin e rorqual-comum, este mamífero marinho pode atingir até 27 metros de comprimento. As baleias-comuns podem ser encontradas em todo os principais oceanos. Entretanto, elas foram severamente afetadas pela caça comercial de baleias: cerca de 750 mil animais foram mortos em áreas do hemisfério sul só entre 1904 e 1979, e elas raramente são avistadas lá hoje. O status atual destes animais é desconhecido na maioria das áreas fora do Atlântico Norte. Embora a Comissão Baleeira Internacional (CBI)tenha obtido uma moratória para a pesca comercial da espécie, Groenlândia, Islândia, Noruega e Japão ainda continuam a caça em determinadas épocas do ano. Também ameaçada por colisões com navios e ruídos de atividades humana nos oceanos, a baleia-comum é considerada com espécie Em Perigo de Extinção pela Lista Vermelha da IUCN.

Fonte: http://www.oeco.org.br/especies-em-risco/28829-a-baleia-comum-hoje-e-baleia-rara

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Para evitar o holocausto biológico: aumentar as áreas anecúmenas e reselvagerizar metade do mundo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves


“Há 10.000 anos os seres humanos e seus animais representavam
menos de um décimo de um por cento da biomassa dos
vertebrados da terra. Agora, eles são 97 por cento”.
Ron Patterson (2014)
área ocupada por humanos, pelos animais domésticos e animais selvagens

[EcoDebate] O ser humano é uma das espécies caçulas da Terra. O Homo Sapiens surgiu na África a cerca de 200 mil anos e se espalhou por todo o território mundial. As grandes migrações do passado e o processo de globalização têm tornado o mundo cada vez mais ecúmeno, com impactos crescentes das atividades antrópicas sobre o meio ambiente e a redução das áreas anecúmenas. O termo anecúmeno designa uma área da superfície terrestre emersa que não seja habitada pelo ser humano de forma permanente, opondo-se ao termo ecúmeno que designa uma área onde os humanos permanecem no presente.
Como o Planeta é um só, todas as espécies estão em constante competição entre si, bem como com os membros de sua própria espécie. Todas as espécies evoluíram e fizeram adaptações voltadas para a sobrevivência. A Águia tem voo, garras, mira telescópica e assim por diante. Todas as outras espécies têm adaptações similares. O Homo sapiens desenvolveu várias adaptações, sendo que há uma que lhe dá uma enorme vantagem sobre todas as outras: sua capacidade intelectual. Esta habilidade favorece a competição com outras espécies para a alimentação e território. O ser humano não só venceu as demais espécies, como, na verdade, está em processo de acabar com elas, provocando uma grande extinção em massa, especialmente dos vertebrados da Terra (Patterson, 2014).
Para tentar evitar os danos irreversíveis da crescente dominação humana sobre o Planeta – época conhecida como Antropoceno – existem várias propostas para salvar a vida de milhões de seres não-humanos e a biodiversidade da Terra.
O biólogo da Universidade de Harvard de 85 anos, Edward Osborne Wilson, duas vezes vencedor do Prêmio Pulitzer e autor de mais de 25 livros, acredita que o ser humano está provocando um “holocausto biológico” e para evitar a “extinção em massa de espécies”, ele propõe uma estratégia para destinar METADE DO PLANETA exclusivamente para a proteção dos animais. A tese também é defendida pela jornalista Elizabeth Kolbert no livro The Sixth Extinction.

The Sixth Extinction

Segundo reportagem de Marina Maciel, no Planeta Sustentável (09/09/2014), o plano de conservação do Dr. Wilson, chamado de “Half Earth”, inclui a criação de cadeias de corredores ininterruptos de vida selvagem, alguns deles grandes o bastante para abrigar parques nacionais de biodiversidade, idealizados para impedir o desaparecimento de espécies. Tais medidas ajudariam os animais a reagir aos efeitos das mudanças climáticas por meio da migração e também evitariam isolamento em ilhas sem conexão com outros habitats.
A Revista Science publicou, em julho de 2014, uma série de estudos em que mostra taxas alarmantes de crimes contra os demais seres vivos. A humanidade é responsável pelo risco de espécies desaparecerem com 1000 vezes mais intensidade do que os processos naturais. A Revista confirma que o ser humano está provocando, em um curto espaço de tempo, a sexta extinção em massa no planeta. Isto acontece em função dos impactos da perda da fauna devido ao empobrecimento da cobertura vegetal, à falta de polinizadores, ao aumento de doenças, à erosão do solo, aos impactos na qualidade da água, etc. Ou seja, os efeitos são sistêmicos e um dos artigos da revista chama este processo de “Defaunação no Antropoceno”, que ocorre devido ao aprofundamento da discriminação contra as espécies não humanas e à generalização do crime do ecocídio.
Segundo a WWF, no relatório Planeta Vivo 2014, o estado atual da biodiversidade do planeta está pior do que nunca. O Índice do Planeta Vivo (LPI, sigla em Inglês), que mede as tendências de milhares de populações de vertebrados, diminuiu 52% entre 1970 e 2010. Em outras palavras, a quantidade de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes em todo o planeta é, em média, a metade do que era 40 anos atrás. Esta redução é muito maior do que a que foi divulgada em relatórios anteriores em função de uma nova metodologia que visa obter uma amostra mais representativa da biodiversidade global.
Ainda segundo a WWF, a biodiversidade está diminuindo em regiões temperadas e tropicais, mas a redução é maior nos trópicos. Entre 1970 e 2010, o LPI temperado diminuiu 36% em 6.569 populações das 1.606 espécies em regiões temperadas, ao passo que o LPI tropical diminuiu 56% em 3.811 populações das 1.638 espécies em regiões tropicais durante o mesmo período. A redução mais dramática aconteceu na América Latina – uma queda de 83%. As principais causas destas reduções são a perda de habitats e a degradação e exploração decorrente de caça e pesca. As mudanças climáticas são a segunda ameaça primária mais significativa e é provável que exercerão mais pressão sobre as populações no futuro.

Índice do Planeta Vivo

Por tudo isto, se denomina Ecocídio o crime que acontece contra as espécies animais e vegetais do Planeta. Esse crime se espalha no mundo em uma escala maciça e a cada dia fica pior. Exatamente por isto, cresce a consciência de que é preciso mudar o modelo de desenvolvimento que adota um padrão de produção e consumo danoso para o meio ambiente e que é responsável pelo aumento da destruição da vida na Terra. Para tanto, é preciso considerar o Ecocídio um crime contra a paz, um crime contra a natureza e um crime contra a humanidade e as futuras gerações.
O site “Eradicating Ecocide” considera ser necessário a aprovação de uma lei internacional contra o Ecocídio para fazer com que os dirigentes de empresas e os chefes de Estado sejam legalmente responsáveis por proteger a Terra e as espécies não humanas. O Planeta teria que se tornar a prioridade número um da legislação nacional e internacional. O mundo já definiu o Genocídio como um crime, falta fazer o mesmo em relação ao Ecocídio. Não há direitos humanos no longo prazo sem o respeito aos direitos da natureza. Acabar com o ecocídio é também uma forma de evitar o suicídio.

Eradicating Ecocide

O site do Instituto Rewilding é uma outra fonte para informações sobre a integração da vida selvagem tradicional e a conservação de terras selvagens e a preservação das paisagens naturais. Ele fornece explicações sobre conceitos-chave com documentos para download e links para documentos importantes.

Rewilding Institute

Reselvagerizar o mundo pode ser uma alternativa, mesmo que parcial, aos crescentes crimes do especismo e do ecocídio. Para garantir espaços para a vida selvagem será preciso descivilizar amplas áreas territoriais, diminuindo a pegada ecológica antrópica global, regional e local. Neste sentido, a proposta de Caroline Fraser em seu livro “Rewilding the World” (Reselvagerizando o mundo) pode ser uma alternativa concreta para se evitar a extinção em massa da vida selvagem no Planeta e para criar uma esperança de conservação da biodiversidade e a convivência respeitosa e ética entre as espécies.

Rewilding the World

A humanidade ocupa cada vez mais espaço no Planeta e tem prejudicado de forma danosa todas as formas de vida ecossistêmicas da Terra. O ser humano está reincidindo cotidianamente nos crimes do especismo e do ecocídio. Se a dinâmica demográfica e econômica continuar sufocando a dinâmica biológica e ecológica a civilização caminhará para o abismo e o suicídio. Porém, antes de o antropoceno provocar uma extinção em massa da vida na Terra é preciso uma ação radical no sentido conter a ganância egoística, garantir a saúde do meio ambiente e a livre evolução da biodiversidade.
Referências:
PATTERSON, Ron. Of Fossil Fuels and Human Destiny, May 7, 2014
ATTENBOROUGH, David. Humans are plague on Earth. Telegraph, UK, 22/01/2013
Vanishing fauna. Science. Special Issue, 25 July 2014
MACIEL, Marina. Edward Wilson pede devolução de metade da Terra para os animais, Planeta Sustentável, 09/09/2014
HISS, Tony. Can the World Really Set Aside Half of the Planet for Wildlife? Smithsonian Magazine, 09/2014
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Publicado no Portal EcoDebate, 03/12/2014

Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2014/12/03/para-evitar-o-holocausto-biologico-aumentar-as-areas-anecumenas-e-reselvagerizar-metade-do-mundo-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

Baleias mudam respiração para evitar ataques de gaivotas que arrancam pedaços

Laura Plitt


Credito: Ana Fazio
Gaivotas bicam baleias e retiram pedaços de gordura e pele
É uma cena violenta. Um confronto difícil de assistir sem contorcer o rosto ou, de vez em quando, desviar o olhar.
Repete-se a cada ano entre julho e dezembro em Península Valdés, na Patagônia argentina.
Os rivais: gaivotas e baleias francas.
Embora pareça uma luta entre David e Golias, é a baleia que tem tudo a perder.
Desde os anos 70, inúmeros ataques de gaivotas a baleias têm sido registrados nesta região para onde os mamíferos aquáticos viajam com o objetivo de dar à luz e amamentar seus filhotes antes de iniciar sua viagem para a Antártida.
Credito: Ana FAzio
Feridas são circulares e, quando se unem, formam uma espécie de canal
Sempre que os cetáceos saem da água para respirar, as gaivotas usam seu bico para arrancar pedaços inteiros de pele e gordura.
A baleia, com dor, arqueia as costas imediatamente.
De acordo com uma nova pesquisa publicada na revista científica Marine Biology, esses gigantes marinhos, que podem medir até 16 metros de comprimento e pesar 50 toneladas, estão começando a mudar a forma como respiram para evitar esses ataques violentos.
"As gaivotas produzem feridas, úlceras circulares, que podem se tornar uma via de entrada para agentes infecciosos", diz Ana Fazio, pesquisadora do argentino Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet, na sigla em espanhol) e autora principal do estudo.
"Além disso, sem pele, elas podem perder a temperatura do corpo."
Credito: Ana Fazio
Baleias passaram a respirar sem tirar corpo da água, impedindo ataques das gaivotas
Algumas têm tantas feridas que, quando os ferimentos se juntam, formam uma espécie de pequeno canal.
Mas o maior problema são os filhotes, diz a pesquisadora. "Eles têm a pele muito mais frágil. Mudam de pele muito rapidamente porque crescem muito todos os dias", diz. Isso os torna mais vulneráveis.
Os ataques, que aumentaram desde que começaram a ser observados, não são para saciar a fome - na região, não faltam lixões a céu aberto ou áreas de descarte de peixes. Aparentemente, se trata de um comportamento adquirido e repassado de geração para geração de gaivotas.

Respiração oblíqua

Agora, os indícios são de que foram as baleias quem adquiriram conhecimentos para tornar essa convivência menos prejudicial para a sua espécie.
"Quando as baleias respiram, normalmente levantam primeira a cabeça e depois o corpo. E, se vão fazer um mergulho profundo, levantam a cauda também", disse Fazio.
"O que eu comecei a notar é que, agora, levantam a cabeça até o espiráculo (ofirício usado para respiração na altura da do que seria a nuca) e, em seguida, voltam a entrar na água. Inspiram em um ângulo de 45° e submergem novamente".
Credito: Ana Fazio
Nova forma de respiração exige mais energia das baleias
Fazem isso de forma rápida, explosiva, mantendo o corpo dentro da água.
A pesquisadora diz que esse tipo de comportamento, que ela batizou de respiração oblíqua, está presente apenas nas baleias de Península Valdés.
"Quando a baleia faz essa respiração oblíqua, a gaivota fica boiando ou planando e não ataca."
É diferente de curvar as costas, por exemplo - outro comportamento verificado em adultos -, uma estratégia que também pode evitar bicadas, mas não é exclusiva das baleias da Patagônia argentina.

Energia extra

Apesar de ainda não estar confirmado que isso reduz o número de lesões, é evidente que está limitando as possibilidades de ataque, diz Fazio.
A vantagem deste comportamento, explica, é que também pode ser adotado por filhotes. Porém, a nova estratégia também tem desvantagens.
Credito: Ana Fazio
Os ataques foram observados pela primeira vez nas décadas de 70 e 80
Manter o corpo embaixo d'água exige um gasto de energia extra, algo custoso para os filhotes, que deveriam usar a maior parte de sua energia para mamar, crescer e ganhar força para garantir a viagem para a Antártida.
Além disso, fugir das gaivotas nadando mais rápido também exige um custo de energia adicional.
Apesar de tudo, a estratégia parece estar se consolidando. Na medida em que a população das aves não diminui, os cetáceos continuarão dependendo de sua própria criatividade para ganhar a guerra contra as gaivotas.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/12/141209_baleia_gaivota_lab