segunda-feira, 2 de março de 2015

Fábrica de árvores

Viviane Taguchi | Fotos Ernesto de Souza, de Trancoso (BA)


Editora Globo
Bruno Mariani no viveiro de mudas em Trancoso (BA)

Uma nova despesa vai entrar no orçamento do produtor rural, a do reflorestamento das Áreas de Proteção Permanentes (APP) e de Reserva Legal (RL). O Ministério do Meio Ambiente estima que 35 milhões de hectares no país tenham de ser restaurados – replantados ou induzidos à recuperação – para que as fazendas atendam às normas do novo Código Florestal, e o preço dessa conta pode chegar a R$ 350 bilhões, calculados a partir do custo médio do reflorestamento com mudas (R$ 10 mil por hectare). É dinheiro que não acaba mais para um mercado novo, que já nasce com muitos gargalos: não há tantas sementes disponíveis, a mão de obra (os mateiros, homens que coletam sementes) é rara e há poucos viveiros de mudas nativas regularizados no país. Ou seja: investir nessa área pode ser um bom negócio. Para o produtor, um alento: com exceção das APPs, onde a exploração é proibida, reflorestar as Reservas Legais pode ser uma maneira inteligente de diversificar a propriedade e obter lucros com o comércio de madeiras nobres certificadas, a extração de óleos, a venda de sementes e até o recebimento por prestação de serviços ambientais. A fortuna que se esconde na mata já desperta o interesse de pequenos produtores de mudas e de grandes investidores, que estão plantando verdadeiras florestas pelo Brasil afora. 

“Doutor Renato, quero ter uma fábrica de árvores, um grande reflorestamento de Mata Atlântica, porque é disso que o mundo precisa e é isso que o mercado financeiro quer. Você topa?” Com esse convite, o banqueiro Bruno Mariani (BBM), de 50 anos, convenceu o engenheiro florestal Renato de Jesus, de 61 anos (40 de florestas), a colocar em prática um megainvestimento, inédito no mundo, a Symbiosis, em Trancoso (BA). O encontro dos dois foi mais ou menos como juntar a fome com a vontade de comer. Mariani vem do mercado financeiro e é apaixonado pela natureza. Levava bronca da avó quando criança, porque vivia plantando árvores no jardim da casa dela, no Rio de Janeiro, e até hoje “fala” com plantas. Jesus, por sua vez, visitou florestas do mundo inteiro em busca de conhecimento e já plantou 93 milhões de árvores, contabilizadas até dezembro de 2012. Mariani e Jesus trabalham, literalmente, em simbiose, uma relação mútua vantajosa em que dois ou mais organismos diferentes são beneficiados. 

Na fazenda de 330 hectares, a 17 quilômetros da praia, está a primeira floresta plantada pelos dois. “Aqui era uma área de pastagens degradadas. Estava abandonada”, lembra Mariani, que também é presidente do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). “Hoje, dois anos e meio depois de iniciarmos o plantio, temos todas as margens reflorestadas, com cerca de 200 espécies da vegetação local e mais 30 de árvores nativas plantadas para produção de madeira”, diz o banqueiro, que tem em mãos um plano de negócios que ele considera uma aposentadoria de ouro: 100.000 hectares de florestas nativas plantadas para atuar no mercado financeiro e na venda de madeiras nobres. 
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Na Symbiosis, 30 espécies nativas são plantadas para o mercado de madeira

Foi em 2006 que Mariani começou a pensar em plantar árvores. Primeiro, pensou que poderia unir sua paixão ao mercado de créditos de carbono para faturar, mas, conversando com Jesus, concluiu que poderia criar um negócio maior e mais valioso. “Florestas são investimentos de longo prazo e baixo risco. Sua rentabilidade é comparável a um investimento de renda fixa, e os preços da terra e da madeira têm alta correlação com a inflação”, diz ele. “Isso transforma a floresta no ativo mais desejado pelos fundos de pensão nos Estados Unidos e na Europa.” De acordo com o executivo, vários fatores influenciam na rentabilidade da floresta: a valorização da terra, o crescimento biológico das árvores, a perspectiva de redução da oferta de madeira que vem de florestas naturais, além do crescimento econômico de países emergentes. “O crescimento biológico melhora a rentabilidade porque, quanto maior a árvore, maior o seu uso e maior será o seu preço”, explica. “A floresta não depende de nenhum fator do mercado para crescer, só de água e luz. Então, em mais ou menos quatro anos, quando as árvores já são mais resistentes, é possível calcular o valor do ativo de forma transparente.” 

Mariani e mais sete sócios que entraram de cabeça no negócio estão na fase de investimentos, até agora de R$ 20 milhões. “É um bem que estamos fazendo para o planeta e, é claro, precisamos rentabilizar o negócio para ser viável. Isso vale tanto para o grande investidor como para o pequeno agricultor. É a regra do jogo”, diz. “O objetivo é atender à demanda por produtos madeireiros sem alterar os mecanismos dos ecossistemas que se sustentam.” O retorno pode girar em torno de 10% nos primeiros cinco anos, com a venda de madeira de crescimento rápido, como as utilizadas para produzir cabos de ferramentas, e podem ser retiradas de árvores que atingem o ponto de corte em 18 a 20 meses (cada cabo custa, em média, US$ 6). “Depois, vêm outras estratégias.” 

PLANTAR FLORESTAS 

Renato de Jesus não é sócio do empreendimento, mas o diretor executivo e a voz mais ativa do grupo. “Ele manda aqui”, diz Mariani. “Com toda a sua experiência (por 33 anos ele foi responsável pelos projetos ambientais da Vale), temos a certeza de estar fazendo a coisa certa”, afirma. “A coisa” é a floresta planejada e plantada em consórcio com 30 espécies de rápido, médio e longo tempo de crescimento. Nos próximos quatro anos, Jesus vai plantar 1.000 hectares de florestas em áreas planas, degradadas, com altitude máxima de 400 metros. É ele quem seleciona as espécies e matrizes, cuida do viveiro de mudas e se debruça na difícil tarefa de capacitar mão de obra, além de monitorar o plantio, testar espaçamentos e criar um banco de genética para garantir a oferta de sementes. “Nessa fazenda, faltam 50 hectares para ser plantados; terminaremos em maio. Então, começamos a segunda área comprada, de 450 hectares. Vamos tocar tudo ao mesmo tempo”, diz ele. “O negócio é simples: se você quer madeira nobre, tem de plantar e replantar florestas onde puder”, afirma. A nova fazenda, Água Branca, também fica na região de Trancoso e é uma terra degradada. Jesus visitou 67 propriedades antes de encontrá-la e conta que, em dois anos, o preço da terra na região dobrou. Nos próximos anos, mais uma área será comprada. “Quando terminarmos o plantio de florestas em 1.000 hectares, teremos viveiros para suprir nossa demanda, tecnologia e mão de obra especializada, além do banco genético, e aí sim poderemos passar para a fase seguinte, acelerar o processo”, afirma. “O ecossistema já terá saído da UTI, teremos oferta de madeira para vender, uma agrofloresta de uso múltiplo que não sofre com as oscilações do mercado, que se autossustenta”, diz Jesus. 
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Renato de Jesus: "Temos de plantar floresta onde pudermos"

A segunda fase será abrir o capital da empresa a investidores estratégicos e captar recursos. E é aí que entram os fundos de pensão, que pagarão ágio pelas ações, ou a criação de private equity para comprar mais 99.000 hectares de terras, em várias regiões do país, e construir um grande estoque “vivo” de árvores. “Não teremos estoque de madeira cortada, nosso estoque estará plantado”, afirma. “E, por conta das mudanças climáticas, é prudente diversificar a geografia do empreendimento, para minimizar os riscos de seca ou de excesso de chuvas”, diz Mariani. O plano é distribuir as fazendas por quatro regiões: Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais. Em 68% delas, serão usadas, em média, 30 espécies diferentes, que garantirão a preservação de sua genética e a sua propagação. 

 Jardins brasileiros

Seis biomas (conjunto de tipos de vegetação que abrange áreas contínuas, em escala regional, com flora e fauna similares definidas pelas condições físicas da região) cobrem o território brasileiro. São o clima, a geografia e as rochas que fazem com que um bioma seja dotado de uma diversidade biológica própria. “Cada qual tem suas características próprias, plantas e animais, por isso é necessário que o reflorestamento seja bem planejado”, explica o biólogo Severino Rodrigo Ribeiro, do Centro de Estudos Ambientais do Nordeste. 
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 Em fase de crescimento 

Não há sementes nem mudas em quantidade suficiente para atender à demanda crescente 
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André Nave, do viveiro Bioflora, em Piracicaba

Em Piracicaba, no interior de São Paulo, está o maior viveiro privado de mudas nativas do país, o Bioflora. O proprietário, André Nave, agrônomo, não tem nem sequer uma brecha em sua agenda desde 2011, quando ele resolveu ampliar o negócio. “Com ou sem o código, o setor vem crescendo. A demanda é muito grande e a oferta baixa”, diz. Nave percebeu isso quando as discussões sobre o Código Florestal estavam só começando e abriu duas filiais do Bioflora, na Bahia e no Rio de Janeiro. Neste ano, já com a lei aprovada pela presidente Dilma Rousseff, ele quer mais dois viveiros, no Pará e em Pernambuco. “Ainda há discussões pipocando no Congresso sobre o tamanho das APPs que deverão ser restauradas, mas, independentemente disso, a demanda por mudas e conhecimento especializado é grande. E vai aumentar”, acredita. 

Nave tem um olhar estratégico sobre o negócio. Em 1998, instalou o Bioflora em Piracicaba, região rodeada por usinas de cana, que estavam começando a acordar para a importância da restauração. “Em regiões onde há concentração de usinas, o reflorestamento de APP e RL é praticado faz tempo. São áreas historicamente degradadas”, conta. Depois, vieram os condomínios residenciais que buscam clientes da capital, cansados do caos urbano. “Já é possível comprar um terrenos com uma minifloresta”, conta o empresário, indicando uma tendência forte na região de Piracicaba. “O cidadão urbano quer proteger o meio ambiente, quer uma vida saudável, e o agricultor sabe que ele vai valorizar as terras se plantar florestas nelas”, diz. “Ter cobertura vegetal na propriedade rural é um ótimo negócio.” 
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Na Bioflora, são produzidos 4 milhões de mudas por ano

O Bioflora produz 4 milhões de mudas nativas por ano. “Em cada região, mesmo em se tratando do mesmo bioma, há uma grande variedade de mudas”, explica. “Nem sempre o que é bom em São Paulo é bom para a Bahia. Existem diferenças regionais.” O número de mudas de seu viveiro corresponde a um terço de toda a produção paulista, estimada em 41 milhões de unidades, de acordo com o Diagnóstico de produtores de mudas florestais nativas do Estado de São Paulo, realizado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente por meio do Instituto de Botânica (Ibot). “O Estado de São Paulo, líder em produção de mudas no país, tem condições de dobrar esse volume”, diz o relatório. 

O problema é que, dos 211 viveiros existentes no Estado, apenas 35 (16,5%) possuem o Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem), órgão do Ministério da Agricultura (Mapa). Isso mostra que, dos 41 milhões de mudas, 23 milhões estão sujeitas a sofrer sanções na comercialização ou na venda da madeira, na ponta final da cadeia, porque não terão um histórico de origem. “A rastreabilidade é uma garantia para o comprador”, lembra Nave. 

Fora de São Paulo, a coisa complica mais. De acordo com o Instituto Brasileiro de Florestas (IBF), Santa Catarina e Paraná possuem 82 e 46 estabelecimentos respectivamente. Depois, vêm Minas Gerais e Mato Grosso, com 15 cada um, e Mato Grosso do Sul, com 13 viveiros. As demais regiões padecem de escassez. “Temos uma área de Mata Atlântica na Região Nordeste, que vai do Rio Grande do Norte ao sul da Bahia, extremamente destruída e que necessita urgentemente ser restaurada. E só encontramos mudas em São Paulo, no Rio”, lamenta o biólogo Severino Rodrigo Ribeiro, do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), com sede no Recife (PE). “Quando chegam aqui, já perderam a qualidade, e o mesmo acontece com as mudas do Cerrado vendidas na Região Sul, que chegam ao destino sem aproveitamento. É um mercado carente, deficiente”, diz. “Vale lembrar que o viveiro é um dos setores essenciais dentro do processo produtivo, por conta da importância da qualidade das mudas.” 
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Ricardo Ribeiro, da Esalq: "O código não vai quebrar o país"

Outro item que pesa no reflorestamento é a logística. “O investimento já não é barato e arcar com mais um custo encarece, desestimula o produtor a investir voluntariamente”, diz. Segundo ele, o preço do reflorestamento por mudas, por hectare, varia entre R$ 8 mil e R$ 10 mil na Mata Atlântica (R$ 20 mil quando na Região Nordeste), de R$ 8 mil a R$ 12 mil na Amazônia e custa R$ 12 mil no Cerrado. “Mas há alguns sistemas de plantio, como a muvuca, que podem minimizar os custos. Tudo vai depender do diagnóstico da área, do bioma, das condições climáticas e se na região existe ou não um mercado florestal já estabelecido”, explica. Ricardo Ribeiro Rodrigues, do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (Lerf) da Esalq/Usp, de Piracicaba, diz que o plantio de mudas só é necessário quando a área está extremamente degradada. “Áreas não tão prejudicadas têm a capacidade de se regenerar sozinhas”, explica, citando casos em que a área pode ser induzida à recuperação. “Por isso, reflorestar não é tão caro quanto dizem, tudo vai depender do diagnóstico da área, feito por especialistas, antes do investimento inicial”, diz. “E também tem a questão do retorno que o produtor poderá ter no futuro com a comercialização de produtos florestais. Eu discordo quando dizem que o Código Florestal vai quebrar o país.” 

Rodrigues estima que as áreas de APP que deverão ser reflorestadas no Brasil cheguem perto de 13 milhões de hectares e as de RL a 10 milhões de hectares. No campo, ele recomenda o plantio de 1.700 mudas por hectare, o que implicaria em uma demanda de 40 bilhões de mudas para os próximos cinco anos. “Está muito, mas muito longe, de atender à necessidade”, alerta. “Isso sem falar no problema do mercado de fornecimento de sementes.” 



 Ficar bem na foto
Cadastro Ambiental Rural entra em vigor no mês de maio e é obrigatório 
A partir do mês de maio (prazo máximo para que o sistema comece a funcionar), entra em vigor no Brasil o Cadastro Ambiental Rural (CAR), um mapeamento via satélite em que todos os 5,2 milhões de propriedades rurais, pequenas, médias e grandes, serão “desenhadas” em um sistema virtual do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Paulo Guilherme Cabral, secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do ministério diz que o objetivo é unificar todos os dados nacionais para que a área exata que deve ser reflorestada, no país todo e em cada propriedade, seja definida. “O proprietário da terra deve entrar no site do Ministério do Meio Ambiente ou do Ibama e baixar um programa, exatamente como já se faz com o imposto de renda”, explica. “Ele terá acesso a uma foto feita por satélite de sua propriedade e irá desenhar sobre essa imagem as áreas que serão reflorestadas, as APPs e a Reserva Legal. Esses dados serão enviados ao sistema.” Cabral diz ainda que o sistema é inteligente. “Se houver conflito de informações de áreas, como ultrapassar a área do vizinho, por exemplo, o declarante vai receber uma notificação para voltar ao sistema e corrigir a sua declaração.” 

Segundo o secretário, o não preenchimento do CAR poderá trazer complicações, como a não adequação ao Programa de Regularização Ambiental Estadual (PRA) e o bloqueio do acesso ao crédito bancário. “Vai ser como cair na malha fina do leão, só que agora do Meio Ambiente”, afirma. De acordo com ele, cadastros já feitos por algumas instituições como ONGs, cooperativas e sindicatos já valem para o CAR. “Estamos estreitando as relações com essas instituições, que são mais próximas do produtor rural, para que todos os proprietários de terra estejam adequados”, diz. “É preciso pensar como um todo.” 
 Muvuca recupera cerrado
Técnica de reflorestamento, importada dos índios do Xingu, reduz custos e seduz os agricultores baianos 
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A ecologista Georgina Cardinot e sua muvuca

Em Luís Eduardo Magalhães, cidade baiana inserida no bioma Cerrado, a regeneração florestal faz parte da rotina dos produtores de grãos. O município é responsável por 60% da produção de grãos da Bahia e tem 99,9% das Áreas de Proteção Permanentes (APP) em conformidade com a legislação. Segundo Humberto Santa Cruz, prefeito e também produtor rural, faltam 1.600 hectares para ser regularizados. “Isso vai acontecer logo”, garante. “E com a muvuca”, diz. Muvuca é um sistema que vem sendo utilizado em larga escala na cidade desde agosto do ano passado, quando Georgina Cardinot pisou lá. Ela, ambientalista casada com um produtor de soja de Canarana, na região do Alto Araguaia (MT), aprendeu a técnica no Parque Indígena do Xingu e, junto com a ONG Conservação Internacional (CI) e a Monsanto, levou a técnica até Luís Eduardo Magalhães, em um projeto chamado APP 100%. “É uma muvuca mesmo, tudo bagunçado”, conta. “É uma confusão de sementes agrícolas e florestais típicas do Cerrado, misturadas à areia e disseminadas nas áreas que devem ser reflorestadas, com máquinas agrícolas”, diz. A manutenção da área exige aplicações de herbicida se a braquiária aparecer. Segundo Georgina, a muvuca alivia o bolso do produtor. De acordo com a CI, para reflorestar 1 hectare no Cerrado com mudas, é preciso desembolsar R$ 12 mil. Com a muvuca, esse custo cai para R$ 3.200 por hectare. 

O engenheiro florestal da entidade, Paolo Sartorelli, explica que, por ser mais rústica, a vegetação do Cerrado não exige tantos cuidados como a da Mata Atlântica e tem o crescimento mais rápido, com exceção de algumas árvores. “Um ano após realizar a muvuca, é possível ter uma vegetação de cobertura farta, pois no plantio também incluímos sementes agrícolas como a crotalária, o feijão-de-porco, o milheto e o guandu. Essa cobertura protege o solo, fixa nitrogênio e cria um ambiente favorável para as árvores”, explica. “O manejo fica por conta do olho do produtor”, diz. “O agricultor sabe muito bem como cuidar de uma área plantada. Agora, ele tem de se habituar a cuidar também da área reflorestada, até que ela se cuide sozinha.” 


 “Meu escritório é a mata” 
A renda mensal de um coletor de sementes como Marilene Mendes pode chegar a R$ 1.200 por mês 
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A coletora de sementes em mata do Cerrado

Marilene Mendes tem 57 anos, mora em Luís Eduardo Magalhães (BA) e está feliz da vida. Ela se empolgou tanto com a história de coletar sementes na mata (estima que já colheu 20 quilos) que virou a coordenadora de uma rede de coletores e já ganha mais que o marido, tratorista. Ele tem um salário mínimo; ela recebe R$ 1.200. “A primeira coisa que eu fiz com o dinheiro foi comprar um bode. Depois, uma geladeira, iogurte e também um cavalo”, diz ela, com lágrimas nos olhos. A emoção da mulher só não é maior que a vontade de faturar mais. Todos os dias ela se embrenha na mata para trabalhar. “Eu vou para a mata, faça chuva ou sol. Gosto de andar no mato, me faz bem, e principalmente descobri como é importante fazer esse trabalho. Quase ninguém faz”, afirma. A coletora de sementes diz que nunca havia ouvido falar que poderia ganhar dinheiro cuidando da mata antes. “Eu não botava fé nesse negócio. Não penso em outra coisa. Meu escritório é a mata.” Hoje, ela e mais 90 profissionais treinados pela CI e pela Monsanto vivem desse negócio no assentamento Rio das Ondas. É também lá que o comércio, a Bolsa de Sementes de Luís Eduardo Magalhães, funciona, com apoio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Após uma boa coleta na mata, as sementes são lavadas, passam por um choque térmico, para quebrar o ponto de dormência – técnica que Paolo Sartorelli ensinou às coletoras –, e depois são separadas por espécies e vendidas por quilo. Os preços são estabelecidos de acordo com o mercado, que oscila entre demanda, oferta e bioma. “As sementes aladas são as mais raras, portanto mais caras, mas elas também são mais leves e pesam menos. Você fica querendo encontrar cada vez mais delas na mata”, diz a mulher. 

No interior de São Paulo, André Nave, da Bioflora, também conta com coletores capacitados pelo Lerf, da Esalq. As sementes da Mata Atlântica valem um pouco mais e cada coletor consegue ter um rendimento mensal de cerca de R$ 2.500 a R$ 3 mil. “Com o tempo, o trabalho começa a deixar essas pessoas apaixonadas pela mata. Elas são profissionais que estão tendo uma ótima oportunidade, além de saberem que são extremamente importantes para a cadeia”, diz Nave.
Fonte: http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,ERT332272-18282,00.html

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