terça-feira, 11 de dezembro de 2012
O primeiro caminho oficial da Transcarioca
Eleita como musa para inúmeras canções e poemas, a cidade do Rio de Janeiro tem suas belezas anunciadas há tempos por muitas vozes e letras. Corcovado, Pedra da Gávea e o Pico da Tijuca são só alguns dos pontos mais conhecidos e visitados, mas o mosaico de atrativos naturais vai além e engloba trilhas menos conhecidas, porém não menos belas. Essa é a ideia principal da Transcarioca, circuito que terá cerca de 150 quilômetros de trilhas, a maioria já existentes, e que irá conectá-las. O percurso total vai do Pão de Açúcar à Restinga da Marambaia, unindo áreas remanescentes de Mata Atlântica.
No primeiro sábado do mês (01/12), uma equipe do Parque Nacional da Tijuca fez uma expedição pelo trecho que vai da rua do Amado Nervo até a Mesa do Imperador. O objetivo do grupo era trabalhar na sinalização da trilha e “limpá-la” para torná-la apta para uso público.
A equipe que ajudou a tirar a Transcarioca do papel, por ironia, tem dois mineiros, um paulista, uma paraense, um argentino e um casal de suecos voluntários. Na parte carioca do grupo está Pedro da Cunha e Menezes, atual Diretor de Criação e Manejo de Unidades de Conservação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia que gere as unidades de conservação federais do país e Ernesto Castro, Coordenador Geral de Uso Público e Negócios do ICMBio. Pedro também já foi colunista do ((o))eco.
O trecho pertence ao Parque Nacional da Tijuca, “É preciso começar com os trechos mais fáceis, que já são do Parque. A partir do momento em que esses trechos estiverem prontos e com visitação constante, você faz pressão para os outros trechos que são mais difíceis de ter liberação, como por exemplo, as áreas militares.” explica Pedro Menezes, que tem como ideal de trilha a Appalachian Trail, nos Estados Unidos, que conquistou seus 3.500 quilômetros de extensão e cruza 14 estados norte-americanos.
O trajeto até a rua Amado Nervo é feito de carro. Escondida aos olhos distraídos e inexperientes, a entrada da trilha é camuflada pela mata fechada e só quem sabe que ali tem uma trilha consegue vê-la. Ao lado, uma casa privatiza o que já foi a entrada principal desse antigo caminho colonial, que se tornou uma trilha esquecida, que precisa ser limpa e reaberta. A vegetação esconde os vestígios do passado das fazendas de café que já dominaram o Parque e deixaram ali seus caminhos. O lugar por onde um dia já passaram até carroças hoje é uma trilha à beira da ribanceira, seguindo o curso do rio, que corre por baixo, silencioso.
À golpe de facões e com motosserras − necessárias para cortar troncos de árvores grossas caídos que obstruam o caminho −, abre-se mais um caminho da Transcarioca. O projeto idealizado por Pedro da Cunha e Menezes, durante sua gestão como chefe do Parque Nacional da Tijuca, ganha contornos mais nítidos. Olho para trás e onde antes éramos desbravadores no meio da floresta, agora enxergo uma trilha bem marcada.
Na terra onde outrora os escravos já deixaram suas pegadas, uma outra pegada intenta protagonizar uma nova era destes caminhos. O logo da Transcarioca, que ajudará na orientação dos visitantes no passeio, é uma simpática pegada amarela, que combina com as setas da mesma cor, padrão adotado em nível nacional. Essa é a primeira trilha a ganhar o logotipo oficial e o desafio é encontrar em seus contornos a silhueta do Cristo Redentor (há quem diga que tem dois Cristos no desenho!).
O trabalho de sinalização é intenso, mas não me impede de reparar na beleza daquele recanto de natureza tão preservado. Fungos e borboletas trazem outras cores à imensidão verde. Uma antiga contenção para chuvas, feita por pedras empilhadas, remonta aos tempos coloniais, e se torna um atrativo à parte no caminho reparar nessas heranças que resistem ao tempo e à floresta. Em momentos de encruzilhada de caminhos, a opção colonial é sempre priorizada. “O Parque Nacional da Tijuca não vai estimular o caminho erosivo, mesmo que ele seja mais rápido”, explica Pedro, para brincar logo a seguir: “Quem estiver de pressa vai de carro”. E de fato, esse não é um lugar para se ter urgência de nada, a beleza tem seu próprio tempo.
Depois de quase 5 horas de trabalho em equipe os progressos são visíveis, entretanto, não foi possível dar cabo de toda a trilha e o serviço é obrigado a ficar pela metade. E a trilha fica como promessa de conclusão para outro dia, quando todas as pegadas estarão em seus lugares, preparadas para indicar ao visitante que ali é um caminho da Transcarioca, ou melhor, da Cidade Maravilhosa.
FOnte: http://www.oeco.com.br/transcarioca/26732-o-primeiro-caminho-oficial-da-transcarioca
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