quarta-feira, 31 de julho de 2013

Globo é condenada por reportagem em Unidade de Conservação do Tocantins




A Justiça Federal no Tocantins condenou a emissora Globo e a empresa Quatro Elementos Turismo a repararem o dano causado à Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins pelo uso indevido de imagem durante a veiculação de uma reportagem exibida no programa Esporte Espetacular em abril de 2010, que associa a imagem da cachoeira da fumaça à prática de rafting esportivo, o que é incompatível com os objetivos das estações ecológicas.
A sentença da juíza federal Denise Dias Dutra Drumond acatou a ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal e condenou as empresas ao pagamento de indenização ao Meio Ambiente no valor de 500 mil reais e a reparação do dano por meio da produção de uma reportagem, previamente autorizada, com o tema “Turismo Sustentável na Região do Jalapão”, que deverá ser exibida em horário semelhante e com a mesma duração da anterior.
A reportagem exibida foi feita mesmo com o pedido de autorização negado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão federal que administra a área. De acordo com o relatório do ICM, a equipe foi avisada sobre o impedimento de realizar gravações com foco na prática de esportes radicais naquela área, tendo em vista que a Instrução Normativa do IBAMA 05/2002 determina que as matérias jornalísticas realizadas em Estações Ecológicas e Reservas Biológicas não deverão fomentar atividades que não sejam de caráter científico e preservacionista.
A Estação Ecológica foi criada para evitar a exploração turística e econômica desordenada. Para isso a legislação proíbe a visitação pública, exceto quando com objetivo educacional ou científico.
“Em outras palavras, a Estação Ecológica tem em seu anonimato um de seus grandes trunfos, pois fica assim protegida da curiosidade leiga e da depredação que a atividade turística em massa e desordenada promove. Logo, a exposição em si mesma da Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins como área propícia à prática esportiva, diversa de sua finalidade legal específica, já configura o dano ambiental”, constatou Denise.
Na defesa, as empresas alegaram inexistência de dano ambiental e a Globo Comunicações alegou ofensa a liberdade de imprensa. O argumento foi rebatido pelo juízo federal. Para a magistrada, não se pode permitir abusos no desfrute da liberdade de imprensa e este direito não está imune à obrigação de indenizar caso haja lesão à bem jurídico de terceiros.
Neste link é possível ver a chamada para a matéria condenada pela Justiça.
As informações são da Justiça Federal do Tocantins.

Fonte: http://ciclovivo.com.br/noticia/globo-e-condenada-por-reportagem-sem-autorizacao-em-unidade-de-conservacao-do-tocantins

Estudo inédito mapeia DNA de onça-pintada em Sorocaba




Pela primeira vez os genes da onça-pintada (Panthera onca) serão mapeados pela ciência. O animal escolhido para a pesquisa foi a onça Vagalume, um macho de 16 anos que desde filhote vive no Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, de Sorocaba, no interior paulista.
Pesquisadores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) vão participar do projeto junto com colegas da Universidade de São Paulo (USP), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Minas Gerais, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e Instituto Pró-Carnívoros.
Eles já estão em Sorocaba para elaborar o mapa genético do maior felino da fauna brasileira. O estudo do DNA do animal vai ajudar a desenvolver estratégias que contribuirão para sua preservação, além de indicar os hábitos da espécie e as características físicas do animal. A onça-pintada é citada no Livro Vermelho da Fauna Brasileira na categoria vulnerável.
A onça Vagalume chegou ao zoo com 45 dias de vida com dois irmãos, após escapar do cerco de caçadores em Miranda, em Mato Grosso do Sul.
As informações são do ICMBio.

Fonte: http://ciclovivo.com.br/noticia/estudo-inedito-mapeia-dna-de-onca-pintada-em-sorocaba

Ibama: consórcio não cumpre condicionantes de Belo Monte


 
Obras da hidrelétrica Belo Monte. Imagem tirada em dezembro de 2011. Foto: Divulgação.
O Ibama publicou um novo relatório informando que apenas 4 das 23 condicionantes impostas para a obtenção da licença de Belo Monte foram atendidas. O não cumprimento das condicionantes pode resultar em atraso na concessão da próxima licença ambiental da usina, referente ao enchimento do reservatório.

O relatório foi publicado no site do Ibama na última quinta-feira (25). São 132 páginas onde os técnicos do órgão ambiental analisam o relatório sobre o cumprimento do Plano Básico Ambiental (PBA) que o Consórcio Norte Energia (construtora da usina) entregou em 30 de janeiro. “Como resultado da análise dos relatórios e outros documentos encaminhados pela Norte Energia (...) fica claro o descompasso entre as obras de construção da UHE Belo Monte e a implementação das medidas mitigadoras e compensatórias, fato agravado pelas contínuas mudanças na gestão da Norte Energia. Torna-se evidente que tal descompasso poderá se refletir em atraso na emissão da Licença de Operação para o empreendimento, e consequente enchimento dos reservatórios”, afirma o relatório.

O Ibama não detalhou quando o empreendimento será notificado e se receberá multa. No ano passado, o consórcio foi multado em 7 milhões por atraso na implementação das condicionantes.

Em nota, o Consórcio respondeu que, desde que o relatório foi entregue, no começo do ano, “várias ações já foram executadas de maneira a atender às exigências do órgão”. E que obras de saneamento em Altamira e construção do hospital Mutirão, na mesma cidade, já foram iniciadas. “Entre essas ações estão obras de escolas, de Unidades Básicas de Saúde e de postos odontológicos e iniciativas de capacitação voltadas para diversos públicos como dirigentes municipais e, ainda, a continuidade nos atendimentos a migrantes. Vale destacar a aquisição de glebas para os programas de reassentamento urbano coletivo em Altamira, com o início subsequente da construção das 4.100 casas previstas para esses novos bairros. A construção de 2.500 casas na Vila dos Trabalhadores também ocorre normalmente”.

A nota conclui que a ação de dar andamento aos projetos demonstra que a empresa trabalha para manter todos os projetos em execução e dentro dos cronogramas preestabelecidos.

Fonte: http://www.oeco.org.br/noticias/27431-ibama-consorcio-nao-cumpre-condicionantes-de-belo-monte

terça-feira, 30 de julho de 2013

Mamíferos são monogâmicos para evitar morte de filhotes, afirma estudo




Curiosos com a união exclusiva de machos e fêmeas em algumas espécies de mamíferos, cientistas investigaram a razão desse comportamento monogâmico e chegaram à conclusão de que o motivo principal seria para proteger os filhotes. O estudo foi publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS), na última segunda-feira (29).
A pesquisa foi realizada em parceria pela UCL (Universidade de Londres), Universidade de Manchester e Universidade de Oxford, no Reino Unido, e pela Universidade de Auckland, na Austrália. Segundo Christopher Opie, da UCL, principal autor do estudo, o romance é posterior à monogamia. Para ele, as descobertas põem fim a um longo debate sobre a origem desta forma de se relacionar.
Foram coletados os dados genealógicos e comportamentais de 230 espécies de primatas. Segundo os cientistas, na maior parte dos casos, a ameaça aos bebês provocada por outros machos fez com que eles aderissem à monogamia.
Outra descoberta da equipe mostrou que os machos, após o vínculo de fidelidade, são mais propensos a cuidar dos filhotes. Isso faz com que o período de dependência infantil seja menor e possibilita que as fêmeas se reproduzam de novo mais rapidamente, o que significa o aumento da prole.
A pesquisa ainda ressalta que os seres humanos são os únicos animais que têm uma infância longa e as mães podem se reproduzir rapidamente após darem à luz, comparados com outros grandes primatas, como gorilas e orangotangos.
Outro lado
Já uma pesquisa publicada na revista “Science” não acredita que a monogamia tenha relação com a morte de filhotes. Para os estudiosos, manter a fidelidade dos parceiros é uma grande vantagem para a reprodução.
Os zoólogos Dieter Lukas e Tim Clutton-Brock, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, analisaram 2.545 espécies de mamíferos, sendo monogâmicos menos de 9%. Entre os primatas, a porcentagem sobe para 25%. Há animais, como os gibões, que são altamente fiéis, enquanto outros, como os chimpanzés, que são extremamente “promíscuos”.
Os pesquisadores explicam que esse comportamento surgiu no momento em que as fêmeas começaram a se espalhar por grandes territórios e quando passaram a não tolerar concorrência. Essa situação fazia com que os machos tivessem que manter a mesma parceria, já que poderiam ficar sem opção. Eles abriam mão de outras fêmeas, que também ficariam expostas aos rivais. “A monogamia surgia quando proteger uma só fêmea era a melhor estratégia reprodutiva de um macho”, resume Clutton-Brock. Com informações do G1.
Redação CicloVivo

Fonte: http://ciclovivo.com.br/noticia/mamiferos-sao-monogamicos-para-evitar-morte-de-filhotes-afirma-estudo

Destruição do habitat contribui para ataques de tubarões em Pernambuco, dizem especialistas

por Marcelo Brandão, da Agência Brasil
praia Destruição do habitat contribui para ataques de tubarões em Pernambuco, dizem especialistas
Brasília – A morte da adolescente Bruna Gobbi após um ataque de tubarão, no último dia 22, foi o 59º caso registrado no estado em 21 anos. A jovem paulista, atacada na praia de Boa Viagem, no Recife, foi socorrida pelos bombeiros, mas não resistiu aos ferimentos. As praias de Boa Viagem, com 24 ataques; e Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, com 17; são recordistas de ocorrências.
A morte de Bruna foi a 24ª e motivou a recomendação do Ministério Público Estadual de interditar praias com risco de ataques até a instalação de redes de proteção para os banhistas.
Segundo a presidenta do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), Rosângela Lessa, o desenvolvimento da região contribuiu para a aproximação dos tubarões das praias. Com a construção do Porto de Suape, no início dos anos 90, rios foram desviados e arrecifes implodidos. Uma das espécies de tubarão foi diretamente afetada pela alteração de seu habitat. “O tubarão cabeça-chata guarda uma grande fidelidade ambiental e usa a área em todos os ciclos de vida. Ele encontrava uma barreira de salinidade e agora não encontra mais. Então, ele continua procurando seus espaços”, explica.
Ela também explica que os tubarões capturados são levados para outras áreas para serem estudados. “Capturamos os tubarões, levamos a uma distância de 20 milhas, marcamos e os soltamos. Assim, o comportamento deles é estudado. Esse monitoramento retira os tubarões da área”.
Rosângela, que também trabalha com dinâmica de populações de tubarões e arraias na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), ressalta a importância dos banhistas tomarem os cuidados necessários. São 44 pares de placas colocadas ao longo da área de risco. As placas orientam os frequentadores a evitar o banho em áreas de mar aberto, durante a maré alta, e em áreas profundas, com água acima da cintura.
O oceanógrafo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mário Barletta, também reforça que a poluição interferiu no comportamento dos animais. “Quando ocorre a vazão dos rios, os peixes saem para a região costeira e, nesse momento, os tubarões chegam para procriar. Com a poluição dos estuários [local de encontro entre o rio e o mar], essas espécies de peixes desapareceram. A única coisa que aumentou foi a oferta de turista na praia”.
Ele lembra que a área é naturalmente povoada por tubarões, e banhistas e surfistas são, muitas vezes, confundidos com peixes e tartarugas, um alimento natural deles. O professor destacou ainda os cuidados que os banhistas devem ter. “O tubarão está ali, é um ambiente natural deles. Se passar dos arrecifes, a probabilidade de levar uma mordida, ser atacado, é grande”, acrescentou.
* Edição: Carolina Pimentel.
** Publicado originalmente no site Agência Brasil.
(Agência Brasil) 

Fonte: http://envolverde.com.br/noticias/destruicao-do-habitat-contribui-para-ataques-de-tubaroes-em-pernambuco-dizem-especialistas/

Kátia Abreu perde processo contra Greenpeace


Ativistas foram detidos ao tentarem entregar à senadora Kátia Abreu uma faixa de Miss Desmatamento. Foto: Divulgação
A Justiça deu ganho de causa ao Greenpeace em ação movida pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO) pedindo indenização por danos morais. Em 2009, a ONG realizou a entrega da faixa de “Miss Desmatamento” em protesto pela atuação da senadora como relatora da MP 458, conhecida como “MP da Grilagem”, que permitiu a legalização da invasão de terras na Amazônia.

Na ocasião, três ativistas da organização foram detidos pela polícia do Senado. A senadora entrou com ação na Justiça pedindo reparação, que foi concedida pelo juízo de 1ª instância da Justiça do Distrito Federal. O Greenpeace recorreu da decisão e, na semana passada, por decisão unânime dos desembargadores da 2ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, foi negado o pedido de 10 mil reais por danos morais.

Os desembargadores entenderam que "não houve (...) exercício abusivo da liberdade de manifestação do pensamento e da expressão" e que "a liberdade de pensamento não pode ser tolhida nesse caso, já que atende plenamente ao interesse da sociedade".


Depois da lama, Campus Fidei pode virar bairro popular


Imagens tiradas no dia 19/07, das obras no Campus Fidei, em Guaratiba, onde o papa faria a vigília campal no sábado (27) e a missa campal, no dia seguinte (28). Foto: Tomaz Silva/ABr.
Dados do Ministério do Meio Ambiente já mostravam que o terreno do Campus Fidei (latim para “Campos da fé”) é considerada de alto risco de alagamento. Localizado em Guaratiba, era lá o local previsto para a missa final do Papa na Jornada Mundial da Juventude. A chuva da semana passada transformou o terreno em um lamaçal e obrigou a mudança da missa para Copacabana. Agora, sob o pretexto de não desperdiçar o investimento feito em terraplanagem do terreno, o prefeito Eduardo Paes anunciou que quer erguer no terreno um novo bairro popular, através do programa Minha Casa, Minha Vida. O decreto com a desapropriação será publicado nesta terça, 30, no Diário Oficial do Município.

De acordo com o Ministério Público o terreno fazia parte de um mangue e não poderia ter sido aterrado. Entretanto, as obras para a realização da missa foram aprovadas pelo INEA.

Os dados do mapa abaixo foram retirados do documento “Risco à Inundação da Zona Costeira e Marinha do Brasil”, de 2009. Os pontos em azul claro representam risco Baixo e Médio; os pontos em azul escuro, como a região da área de 1,8 km2 (ou 180 hectares) do Campus Fidei, representam risco muito alto. 


Os moradores do bairro de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, já estão acostumados com o alagamento. Mesmo com a terraplanagem do terreno, após 3 dias de chuvas, a água tomou conta do local. A igreja foi obrigada a transferir a festa para a praia de Copacabana.

O anúncio do novo bairro veio via twitter e depois confirmado por meio de entrevista coletiva. Segundo Eduardo Paes, a ideia partiu do arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, que queria que o local ficasse como um legado da visita do Papa à cidade. O novo bairro popular seria chamado de Campo da Fé/Papa Francisco. Mas, para especialistas, ainda é cedo para saber se terreno seria apropriado para edificações.

Representantes de empresas estão sendo ouvidas e o responsável pela licença de instalação concedida pelo Instituto Estadual do Ambiente (INEA) será chamado para prestar depoimento na Delegacia de Proteção do Meio Ambiente (DPMA). A licença venceu no último dia 19. José Fagundes, delegado titular da DPMA também aguarda o resultado da perícia realizada no local na última sexta-feira (26).

Durante entrevista coletiva realizada na tarde desta segunda-feira, o prefeito Eduardo Paes defendeu a organização do JMJ: “A Igreja fez tudo dentro das regras, pedindo as licenças necessárias. Inclusive, nas exigências da Secretária de Meio Ambiente, estava o cuidado com o manguezal que tem ali perto”, afirmou. Ao todo, a prefeitura gastou 26 milhões no evento JMJ, mas não revelou o valor gasto nas obras do terreno. 

Desmate de 330 árvores em paróquia também foi polêmica
O terreno de Campus Fidei não é a primeira polêmica envolvendo meio ambiente com o evento católico. Há 10 dias do início oficial da Jornada Mundial da Juventude, a prefeitura de Niterói multou a Paróquia de São Sebastião de Itaipu, na Região Oceânica de Niterói, pelo desmatamento de 334 árvores da Mata Atlântica. A igreja limpou o terreno para celebrar uma missa campal durante a JMJ.

O INEA também obrigou a paróquia a apresentar um plano de reflorestamento da área, em prazo de um mês, contando a partir do dia 8 de junho. 

Lixo recolhido em Copacabana é menor que Réveillon
Nem tudo é notícia ruim para o meio ambiente, quando se refere à Jornada Mundial da Juventude. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, apresentou o balanço de 3 dias de missa na cidade e constatou que a quantidade de lixo nesses três dias foi bem menor que se costuma recolher no réveillon. Na Missa de Abertura, de terça-feira (23), na Festa de Acolhida do Papa, na quinta-feira (25), e na Via Sacra (26), foram recolhidos 47 toneladas de lixo. Na virada do ano, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana costuma recolher 300 toneladas de lixo, uma diferença de mais de 538%.
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Fonte: http://www.oeco.org.br/noticias/27427-campus-fidei-pode-virar-bairro-popular

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Hortas urbanas: uma revolução gentil e orgânica


Em meio à megalópole de São Paulo, organizados em coletivos nascidos na web, os paulistanos estão ocupando os espaços públicos e semeando ideias para deixar a cidade menos cinzenta através das hortas urbanas. Elas são uma forma de se conhecer melhor a vizinhança, revitalizar o uso do espaço urbano e mudar a maneira de produzir comida. A ideia é facilitar o acesso a alimentos frescos e saudáveis, aumentar as áreas verdes nas metrópoles e diminuir o impacto do transporte de hortaliças, que hoje se baseia em um complexo mecanismo orquestrado de produção, transporte e distribuição. O conceito também já pegou em outros locais do mundo, como Havana, em Cuba, ou São Francisco, nos EUA.

A jornalista Cláudia Visoni é uma das principais representantes do coletivo de “Hortelões Urbanos” da cidade de São Paulo. Segundo ela, o grupo reúne na internet atualmente mais de 4.000 pessoas interessadas em trocar experiências de plantio doméstico de alimentos. A grande maioria já cultiva ervas, frutas e hortaliças no quintal, em jardins verticais, sistemas hidropônicos ou até mesmo em varandas de apartamentos. Além disso, eles pretendem inspirar os vizinhos a se envolverem no plantio voluntário de alimentos em áreas públicas. É o caso das hortas que têm se erguido informalmente e dado vida a terrenos baldios, beira de rios e praças da cidade, como na Vila Beatriz, na Vila Industrial, em Taboão da Serra, na Pompéia e até na Praça do Ciclista, em plena Avenida Paulista. Qualquer um pode por a mão na terra, plantar, colher e levar para casa o que cultivou gratuitamente. Para que essa realidade se espalhe, o Coletivo de Hortelões Urbanos da cidade de São Paulo entregou à Prefeitura de São Paulo uma carta com a reivindicação de que uma horta comunitária seja implementada em cada bairro, em cada escola, parque e nos postos de saúde.

Horta no telhado

Porém, a densa urbanização de São Paulo torna um desafio pensar na destinação de terrenos vagos para o plantio. O shopping Eldorado encontrou uma forma de criar sua horta urbana usando o telhado do prédio. Construir uma horta de 1.000 metros quadrados , que se aproveita de 600 kg diários de resíduos da praça de alimentação e da poda dos jardins do shopping, preparados para o plantio em uma composteira no subsolo do prédio. Desta forma, produz-se o substrato natural responsável por adubar alfaces, quiabos, camomilas, tomates, cidreiras, entre outras plantas que, quando colhidas, são distribuídas aos funcionários das lojas. Duas enzimas desenvolvidas pelo Bio Ideias possibilitaram a aceleração da compostagem (que em condições naturais pode levar até 180 dias) e a eliminação de odores. No início, o composto foi doado para hortas comunitárias e, em 2012, começou a implantação da horta no próprio telhado.

Uma crítica a concepção ao potencial da agricultura urbana é o fato dela ser considerada de pequena escala e pouco produtiva. Cláudia Visoni reconhece que esse tipo de prática tem cunho mais educativo e ambiental do que potencial de abastecimento, mas explica que para se ganhar escala de produção, o estímulo da gestão pública é imprescindível. “As residências e empresas deveriam ter abatimento do IPTU no caso de compostarem seus resíduos orgânicos”, afirma. Outra ideia seria a distribuição de mudas orgânicas em estufas municipais (atualmente desativadas) para os agricultores periurbanos e a inclusão da horticultura no currículo das escolas. 

Inspiração internacional

Um exemplo onde as iniciativas espontâneas da população ganharam a adesão e o estímulo do governo é Cuba. Na década de 90, a cidade de Havana enfrentou uma forte crise de abastecimento com o colapso da União Soviética, responsável até então pelo fornecimento de boa parte dos alimentos consumidos no país, além dos insumos para a monocultura, como fertilizantes e pesticidas. Na época, os moradores da capital tomaram terraços, pátios e terrenos baldios e começaram a plantar feijões, tomates, bananas e diversos outros tipos de alimentos nos próprios bairros, pois o já precário sistema de transporte da ilha entrava em decadência. Em vez de coibir essas ações, o governo criou o Departamento de Agricultura Urbana e liberou o cultivo em terrenos sem uso produtivo, treinou agentes públicos para a implementação e manutenção de hortas nos bairros, construiu locais de distribuição de sementes e consolidou pontos de venda direta dos alimentos. 

De acordo com Maria Caridad Cruz, engenheira agrônoma da FANJ (Fundacion Antonio Núñez Jiménez de la Naturaleza y el Hombre), hoje, 80% dos alimentos frescos de Cuba vêm das agricultura urbana - que abrange desde lotes de manejo individual até grandes propriedades de gestão estatal – cujos produtos são orgânicos (o controle biológico de pragas substituiu os pesticidas). 

O deputado estadual Simão Pedro (PT), que é também secretário de serviços da cidade de São Paulo, atua há 11 anos com políticas públicas na área de agroecologia e reconhece que Havana é um ótimo exemplo, mas tem buscado inspiração também em outras cidades. Nos Estados Unidos, por exemplo, várias estão criando planos de agricultura urbana, conselhos de política alimentar e mapas de locais potenciais para o plantio. Empresas de paisagismo também têm incluído no seu portfolio os chamados projetos apelidados de “foodscape” (algo como “alternativa para a comida”), que inserem o cultivo agrícola em jardins, parques municipais, condomínios e até no telhado de estacionamentos gigantes. Em São Francisco, na Califórnia, a prefeitura mudou os regulamentos de zoneamento, a fim de permitir o cultivo local de alimentos, e criou o sistema de compostagem municipal, transformando resíduos orgânicos em insumo para as hortas públicas.

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Simão Pedro diz que um projeto similar com relação aos resíduos foi incluído no Plano de Metas da capital paulista. Segundo o secretário, hoje 52% de todo lixo encaminhado para os aterros da cidade são de natureza orgânica, ou seja, são resíduos que produzem chorume, contaminam o solo e proliferam doenças, mas que poderiam ser transformados em adubo. Além disso, o deputado quer instalar em bairros periféricos de São Paulo o projeto “Revolução dos Baldinhos”, de Florianópolis, O projeto catarinense surgiu em 2008 como resposta a uma epidemia de ratos no bairro Monte Cristo, na periferia da cidade, que culminou na morte de duas crianças. Para solucionar a crise, lideranças comunitárias em parceria com o agrônomo Marcos de Abreu, do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), começaram a estimular a população a separar os resíduos orgânicos em baldes (por isso o nome do projeto). Depois de recolhidos, 15 toneladas de materiais orgânicos se transformam todo mês em composto utilizado em hortas comunitárias e domésticas que se espalharam pelo bairro e resolveram o problema dos ratos. Atualmente, o excedente do composto está sendo beneficiado e embalado por jovens da periferia, que querem criar uma cooperativa para gerir o negócio.

Participante da Horta dos Ciclistas e Horta das Corujas (Vila Beatriz), Cláudia Visoni enumera as vantagens das hortas urbanas: “a horticultura precisa ganhar mais espaços pois é uma solução simples diminuir os custos alimentares e melhorar o clima da cidade atenuando ilhas de calor. Também é uma alternativa gratuita de lazer, aumenta a permeabilidade do solo, reduz as emissões de gases do efeito estufa (pois evita o transporte motorizado de alimentos) e inaugura espaços práticos de educação ambiental.

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Fonte: http://www.oeco.org.br/reportagens/27417-hortas-urbanas-uma-revolucao-gentil-e-organica

Os Guarás que habitam os manguezais de Cubatão



O guará (Eudocimus ruber) é uma ave típica de manguezais e chama a atenção por sua coloração vermelha. No Brasil ocorrem duas populações aparentemente disjuntas, uma do litoral oeste do Ceará (onde são bastante raros) até o Amapá. A outra é mais pro sul, do litoral de São Paulo até o litoral norte de Santa Catarina. Há registros pontuais na Bahia e Sergipe provavelmente de indivíduos provenientes de cativeiro.

Apesar de morar no Nordeste, a primeira vez que vi guarás na natureza foi no estado de São Paulo. Um dos pontos mais tradicionais para sua observação são os manguezais de Cubatão, onde é possível agendar uma visita com lancha motorizada exclusivamente para essa atividade.

Em Maio de 2011, fui para São Paulo participar do Avistar Brasil (Encontro Brasileiro de Observação de Aves) e o colega fotógrafo Almir Almeida, que havia viajado comigo pelo Nordeste (e sabia que eu ainda não tinha visto guarás na natureza) me convidou para enfim conhecer os famosos guarás de Cubatão.

O passeio é excelente, com oportunidades de se fotografar espécies costeiras, com destaque, é claro, para os guarás, que são muitos e vem aumentando sua população na região. É incrível o contraste do mangue, guarás, chaminés das indústrias de Cubatão e a ainda verdejante Serra do Mar ao fundo.

Dentre as centenas de fotos feitas nesse dia, o destaque foi pra essa que ilustra a matéria. Com a aproximação do barco, o bando foi se concentrando e formou uma seta com o reflexo na água. Após garantir os clicks, ainda fiz um pequeno vídeo do bando já se dissipando pelo lamaçal exposto na maré seca.

E acabo de ser informado que essa imagem foi publicada na galeria de fotos do Volume Especial do HBW "Handbook of the Birds of the World" (Manual das Aves do Mundo). 

Foram duzentas imagens de aves do mundo todo, selecionadas entre milhares e milhares em um concurso internacional realizado ano passado (HBW World Bird Photo Contest 2012) para ilustrar esse volume especial, que é histórico, pois além de belas fotos, traz a descrição formal de 15 novas espécies de aves da Amazônia, com a participação de vários pesquisadores brasileiros.

Ciro Albano é ornitólogo, guia de observação de aves, principalmente no Nordeste do Brasil, e fotógrafo de aves. Quando não está guiando grupos de observadores, viajar para locais ainda pouco explorados em busca de aves raras é sua principal “diversão”. Em uma dessas, descobriu recentemente uma possível nova espécie de ave para a Ciência (ver matéria no ((o))eco) e fotografou raridades como a saíra-apunhalada.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Parasitas procuram gato ou humano para chamar de seu


Pode parecer que este balaio de gatos quer te hipnotizar, mas o que vive dentro deles já pode estar dominando sua mente. Foto: Fábio Olmos.
Parasitas e patógenos desenvolveram infinitas maneiras de utilizar seus hospedeiros para multiplicar-se e conquistar novos territórios. A evolução por seleção natural atrelada à corrida armamentista entre parasita e parasitado produziu ciclos de vida complexos onde a bioquímica do hóspede interage de forma precisa com a do hospedeiro, usado como alimento e vetor para produzir mais patógenos e parasitas. 

Uma das técnicas mais sofisticadas de manipulação é o controle mental.

vírus da raiva é um dos exemplos mais incríveis. Ele é basicamente uma cápsula proteica em forma de bala que protege uma fita de RNA com o equivalente a 12 Kb de informação que codificam cinco proteínas. Ao infectar um hospedeiro, essa criatura faz com que sua vítima deixe de ser ela mesma e se torne uma versão Mr. Hyde com comportamento agressivo e propensão a morder. Ao mesmo tempo, vírus prontos para serem transmitidos se acumulam nas glândulas salivares. 

É fácil ver de onde veio a inspiração dos zumbis de filmes como Contágio e, no passado, de histórias de possessão demoníaca, vampiros e lobisomens.

Como estes 12 Kb de informação conseguem manipular um sofisticado cérebro mamífero para que Rex ou tio João se transformem em máquinas mordedoras que não conseguem se controlar é uma daquelas coisas que fazem o estudo da biologia ser algo tão incrível.

O vírus da raiva não é a única criatura capaz de controlar as mentes dos que possui. Um dos parasitas mais fascinantes controla a mente de boa parte da humanidade. E, possivelmente, a sua.

Protozoário manipulador

"Como disse um pesquisador, o Toxoplasma não mata, mas induz os ratos ao suicídio."
Toxoplasma gondii é um “protozoário” aparentado dos Plasmodium que causam malária que, originalmente, parasita gatos e outros felinos, vivendo e se reproduzindo nas paredes de seu intestino. Normalmente o bichano excreta cistos dos parasitas em suas fezes e estes acabam ingeridos por roedores. Os cistos eclodem no novo hospedeiro e os parasitas se multiplicam formando cistos no cérebro e vísceras do Rodentia. Quando o rato é comido por um bichano, o Toxoplasma está onde queria estar e o ciclo recomeça.

O interessante é que o Toxoplasma pode manipular a mente dos roedores para aumentar a probabilidade de acabar dentro de um gato. Ao sentir o cheiro de urina de gato um rato ou camundongo normais irão fugir. Um roedor contaminado por Toxoplasma, ao contrário, ou se torna indiferente ou é atraído pelo odor da urina de gato. O interessante é que urina de outros predadores (como cães) continua causando reação de medo e fuga, mostrando um efeito cirúrgico do Toxoplasma sobre o roedor.

Pesquisadores descobriram que os cistos do Toxoplasma se agregam ao redor da amígdala, a região do cérebro onde são processados o medo e outras emoções. E ali afetam o funcionamento de um circuito cerebral associado a comportamentos de fuga, reduzindo sua atividade quando o estímulo é felino, e outro circuito associado à excitação sexual. Os roedores com Toxoplasma sentem tesão quando há cheiro de gato no ar, com os resultados esperados pelo parasita.

Como disse um pesquisador, o Toxoplasma não mata, mas induz os ratos ao suicídio.

Humanos também são alvos

"Como acontece com os Rodentia, há um crescente corpo de evidências de que o Toxoplasma afeta profundamente o comportamento de seus hospedeiros humanos."
O Toxoplasma não contamina apenas roedores. Alguns acabam no bicho errado e estima-se que 1/3 da humanidade carrega cistos de Toxoplasma na cabeça e outras partes de sua anatomia. O parasita pode causar complicações sérias, incluindo encefalite, em pessoas com o sistema imune comprometido. Felizmente, nosso sistema imune e o parasita mantém uma relação equilibrada, mas sempre tensa, com poucos estragos. 

Quer dizer, mais ou menos. Como acontece com os Rodentia, há um crescente corpo de evidências de que o Toxoplasma afeta profundamente o comportamento de seus hospedeiros humanos. Por exemplo, há evidências associando o parasita a condições como esquizofrenia, transtorno obsessivo-compulsivo e síndrome de déficit de atenção

Mas a influência do parasita pode ser mais sutil. Estudos que avaliaram diferenças de personalidade entre contaminados e não contaminados descobriu que os homens se tornam menos propensos a submeter-se aos padrões morais da comunidade, preocupam-se menos com a possibilidade de serem punidos por quebrar as normas sociais de conduta e confiam menos nos outros, enquanto as mulheres ficam mais afetuosas e cordiais (veja aquiaqui e também aqui).

Há diferenças entre os sexos, mas ambos perdem uma dose do medo que os afastaria do perigo, resultado do Toxoplasma ter hackeado o cérebro do hospedeiro e estar influenciando seu destino.

Ter um parasita que está tentando ser levado para dentro de um gato vivendo no seu cérebro produz mudanças de personalidade. O problema é que como não somos o hospedeiro intermediário correto (poucas pessoas acabam na barriga de um felino) os sinais muitas vezes acabam trocados e o parasita pode produzir contradições ambulantes.

Além das características acima, hospedeiros do Toxoplasma também tendem a ser mais apreensivos, inseguros, preocupados e ansiosos, com uma queda para a autoflagelação. Ou seja, tendem a ser neuróticos.

Nem todo comportamento vem da cultura

A pesquisa de Kevin Lafferty, cientista do USGS na University of California, Santa Barbara, que arrepiou muitos sociólogos (adoro quando sociólogos ficam estressados com o que a biologia descobre), cotejou esses traços individuais com estatísticas sociais, perguntando se, nos países onde a infestação é mais disseminada, as alterações de comportamento virariam caráter nacional.

"(...) os efeitos sutis de parasitas sobre a personalidade de um número grande o suficiente de pessoas podem ter um efeito significativo sobre culturas nacionais."
Dados de 39 países, em cinco continentes, filtrados para isolar os efeitos de variáveis como renda e idade, mostram que há uma boa correlação entre altas taxas de infecção e um menor interesse por novidades e o sentimento de culpa generalizado. 

Há uma "correlação significativa" entre o Toxoplasma a "neurose agregada" da população. Segundo os pesquisadores "a variação geográfica da prevalência latente do Toxoplasma gondii pode estar por trás de diferenças nos aspectos culturais relativos ao ego, ao dinheiro, às posses materiais, ao trabalho e às normas de conduta".

Tendemos a pensar na cultura como o resultado das ações coletivas de pessoas com livre arbítrio que agem com liberdade. No entanto, os efeitos sutis de parasitas sobre a personalidade de um número grande o suficiente de pessoas podem ter um efeito significativo sobre culturas nacionais. Afinal, há mais gente com Toxoplasma que conectada à internet.

Como os cistos de Toxoplasma no solo duram mais em climas quentes, o clima pode ter um efeito maior e mais sutil sobre a cultura do que se admite. Uma hipótese é que o parasita poderia iniciar a reação que resulta nos papéis mais divergentes de homens e mulheres em sociedades que se desenvolveram em climas mais quentes, que tendem a ser mais desiguais, quando não misóginas. 

A possibilidade, muito instigante, é que parasitas (isolados ou em coquetel) podem ter uma influência muito maior em determinar da personalidade individual (no micro) a atributos de sociedades (no macro) do que mentes crentes no livre arbítrio amplo, geral e irrestrito julgavam. 

Parasitas nacionais

O Brasil é o campeão mundial de Toxoplasma gondii, com 67% da população infectada (incluindo eu, simpatizante de gatos desde sempre). Talvez tenhamos aí a raiz do caráter nacional, de nosso pouco caso pelas regras, de nossa vontade de apreciar a vida acoplada à culpa (o que enche as igrejas), de nosso jeitinho, da forma como pulhas são afetuosamente perdoados e reeleitos.

A parasitologia talvez complemente o que Sergio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Roberto DaMatta e tantos tentaram explicar. Ou talvez não. Uma correlação não é suficiente para indicar uma relação causal. Talvez…

"A sociedade brasileira sustenta uma parcela parasitária que fez boa parte da população acreditar que mudariam tudo que aí estava, e trariam progresso como nunca antes na história do Brasil."
Algumas meditações filosóficas são inevitáveis. O fato de criaturas “simples” como vírus e protozoários alterarem a personalidade, a forma de pensar, as ansiedades, a forma de lidar com o mundo, os desejos, etc, etc (em resumo, o “eu”) das pessoas que contaminam, juntamente com dados sobre pessoas com lesões cerebrais (quem não leu O Erro de Descartes de Antonio Damasio deveria) é uma evidência robusta de que o “eu” é resultado da estrutura cerebral e dos processos eletroquímicos que acontecem ali, e não alguma coisa imaterial. 

Em resumo, você é seu cérebro e mudanças na carne resultam em mudanças na alma. O software emerge do hardware. Se o “eu” de cada um fosse, na essência, algo imaterial como uma alma dissociada da carne, como é que um vírus de 12 Kb ou um protozoário (ou um dano cerebral) poderiam, literalmente, te transformar em outra pessoa?

Parasitas que manipulam as mentes de hospedeiros de outra espécie para melhor explorá-los também lembram os parasitas que manipulam as mentes de membros de sua espécie para melhor explorá-los. Regimes populistas baseados em um salvador da pátria idolatrado que acabam em autoritarismo cleptocrático dominado por um partido (ou quadrilha), uma tradição latino-americana, são um bom exemplo.

A sociedade brasileira sustenta uma parcela parasitária que convenceu muitos de que mudaria tudo que aí estava e traria progresso como nunca antes na história do Brasil. Ter a 7ª economia do mundo acoplada ao 85º Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) resume a história tão bem quanto o que se vê gasto em estádios e publicidade, em oposição ao que temos nos quesitos saneamento, saúde, áreas protegidas, transporte e educação públicos. Algo está muito errado.

Temos uma democracia disfuncional contaminada por corrupção em todos os níveis e que não representa a sociedade. E não apenas porquê as bancadas estaduais não refletem o número de eleitores de cada estado. A coisa é muito pior, já que, 1/3 dos deputados e senadores tem processo tramitando no STF. A proporção da população brasileira com problemas na justiça, acredito, é muito menor. 

Nossa classe política é formada por uma parcela desproporcional de bandidos que, pelo caradurismo sem medo de ser feliz, devem ter muito Toxoplasma na cabeça. 

Livrar-se de parasitas que nos exploram enquanto nos fazem acreditar que vivemos no melhor dos mundos não é fácil. A maioria das vítimas da raiva morre, enquanto livrar-se dos toxoplasmas encistados pode ser impossível (nossos congressistas me fazem pensar se lobotomias não seriam úteis).
Desparasitar nossa democracia e termos governos realmente representativos talvez seja mais fácil. Talvez...

Nota – este artigo é uma homenagem a Marcos Sá Correa, um dos fundadores do ((o))eco e com quem tive divertidas conversas sobre o Toxoplasma e a política brasileira. Sua visão sobre o Toxoplasma pode ser degustada aqui. Qualquer semelhança não é mera coincidência. 


Autor deste blog, Fabio Olmos é biólogo e doutor em zoologia. Tem um pendor pela ornitologia e gosto pela relação entre ecologia, economia e antropologia. Seu último livro, sobre ecossistemas brasileiros e conservação, éEspécies e Ecossistemas.

Fonte: http://www.oeco.org.br/olhar-naturalista/27408-parasitas-procuram-gato-ou-humano-para-chamar-de-seu