Fábio Olmos, biólogo e colunista de ((o))eco, foi o palestrante da tarde e discorreu sobre sua vasta experiência enquanto consumidor de serviços de turismo de vida selvagem. Ele citou as boas e más experiências que teve como turista.
A primeira dessas más experiências são as chamadas “tourist traps” (armadilhas para turistas, em tradução livre), que consistem em estabelecimentos que visam mais o dinheiro do turista do que a experiência no destino turístico. “Um exemplo é um pacote que vende um passeio a uma área natural com duração de trinta minutos e em seguida leve os turistas para ficarem duas horas em uma loja de souvenirs”, afirma.
Na visão de Olmos, são ocasiões em que o prestador de serviço não preza pela qualidade daquilo que vende. Ele deu ainda muitas dicas de como o prestador de serviço não deve oferecer o que não pode garantir que aconteça, como um evento natural ou um avistamento de animal raro, mas deve empenhar-se em vender um produto ou destino que deixe uma experiência positiva, que se torne uma lembrança inesquecível para o turista.
“Deve haver um equilíbrio, que consiste no custo-benefício, que está atrelado principalmente na qualidade dos serviços. O turista não vai reclamar de pagar caro por experiências únicas, fantásticas, por momentos 'uau'”.
Ainda de acordo com Olmos, as empresas de turismo e hotelarias pecam por cobrar muito caro por um serviço mediano. “O Brasil se tornou um país muito caro em hotelaria e alimentação, mas falho na prestação desses serviços. Paga-se muito mais caro por um serviço mediano no Brasil do que na África do Sul, na Colômbia, na Costa Rica ou no Peru. Isso ocorre por conta de uma tributação absurda, por um custo de mão-de-obra alto, que encarece o setor de serviços, impactando diretamente o setor de turismo. Então quando o Real está valorizado, o brasileiro vai para o exterior. Outras falhas são hotéis 3 estrelas no Brasil cobram como se fossem 5 estrelas e deixam por desejar”.
A falta de estrutura adequada para visitação em Unidades de Conservação também foi mencionado. “Como observar aves no Parque Nacional do Iguaçu, que só abre às 9 da manhã, funciona com turismo de massa e tem helicópteros sobrevoando produzindo ruído que quebra a harmonia com a natureza?” questiona.
O tema visitação em unidades de conservação também já foi tratado pelo biólogo em coluna publicada no ((o))eco.
Turismo de base comunitária
Segundo ele, a região passou uma grave crise econômica que afetou a cultura do cacau, principal matriz econômica local. O setor de turismo foi a alternativa que conseguiu reerguer a economia da região. Para isso, houve investimentos do poder publico na construção de rodovias, foram criadas Unidades de Conservação e a partir de então a instalação de equipamentos e serviços.
“A receita para o sucesso é saber trabalhar em sintonia com as comunidades tradicionais, que valorizam a região, respeitar a cultura e incentivar a economia criativa, fomentando o ecoturismo de base comunitária, que é o nato potencial da região”, disse.
Agora, a economia local está sendo novamente ameaçada por conta do projeto de megaporto que escoará a produção de minério de ferro e uma estrada e ferro que vai rasgar áreas protegidas da região e ligará Figueiropólis, em Tocantins, a Ilhéus, na Bahia, percorrendo 1.500 quilômetros através de 49 cidades. O controverso projeto porto do Porto Sul, recebeu a Licença Prévia do Ibama em novembro do ano passado.
A experiência de Bonito
Por fim, Juliane Salvadori, secretária municipal de Turismo de Bonito, expos o caso de sucesso de gestão descentralizada do turismo, mais especificamente o voucher único, espécie de passaporte que o turista que chega a Bonito deve adquirir nas agências de turismo da cidade para poder visitar a maioria dos atrativos turísticos. Trata-se de uma rede de cooperação mútua, criada por um empresário local, aceito em unanimidade pelo poder público municipal e trade turístico.
O voucher possibilitou uma melhor gestão da entrada de turistas e promoveu a organização de todo o trade possibilitando um controle efetivo das visitas aos passeios; controle da visitação por atrativos; análise da capacidade de carga dos mesmos; fiscalização pelo poder público; transparência nas negociações controle por parte de todos os envolvidos (agência, o guia de turismo, o turista e o proprietário do atrativo), e uma estatística real do movimento de turistas incluindo quantidade e origem, possibilitando ainda a arrecadação impostos e melhoria da infra-estrutura.
Juliana ressaltou ainda que 40% dos empregos no município são do setor do turismo e que o cidadão bonitense tem gratuidade nos dois principais atrativos da cidade: o Monumento Natural da Gruta do Lago Azul e o Balneário Municipal. De fato, o modelo de gestão é exemplar, apesar de haver ocasionais falhas, mas o resultado positivo se sobrepõe. Exemplo disso é que a cidade foi eleita pela 11ª vez consecutiva por leitores de uma publicação especializada o melhor destino de ecoturismo do Brasil.
Fonte: http://www.oeco.org.br/reportagens/27339-a-valorizacao-do-turismo-de-vida-selvagem
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