quinta-feira, 31 de julho de 2014

Expedição internacional chega ao Brasil para estudar tubarões




Em parceria com cientistas brasileiros, a equipe da ONG Ocearch iniciou os trabalhos de pesquisa e educação relacionados aos tubarões em Recife, capital de Pernambuco, no último dia 22. O objetivo principal é coletar os dados necessários para compreender a migração desse animas e sua relação com os ataques na costa de Pernambuco.
Até o dia 13 de agosto, o barco da expedição passará por Fernando de Noronha e Natal, no Rio Grande do Norte. O trabalho é patrocinado em grande parte pela empresa Caterpillar, visando melhorar a sustentabilidade dos oceanos.
“Embora a maioria dos ataques ocorra ao longo de um trecho de 20 km da costa, a possibilidade de marcar tubarões de outras áreas nas águas do Nordeste do Brasil permitirá a coleta de informações cruciais para a compreensão da migração e ciclo de vida dos tubarões e, consequentemente, da dinâmica dos ataques, levando a melhorias importantes nos métodos de mitigação de ataques adotados”, diz Fabio Hazin, professor do curso de Engenharia da Pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco e pós-doutor pelo Serviço Nacional de Pesca Marinha dos Estados Unidos.

Foto: Divulgação
Na última quarta-feira (23), os representantes da Ocearch estiveram na Escola de Referência de Ensino Médio João Bezerra, no Recife. Cerca de 200 alunos puderam conhecer mais sobre os tubarões e sua importância para o equilíbrio marinho. O programa também inclui uma visita a uma escola em Aracaju.
"Queremos que a comunidade brasileira seja parte desta expedição histórica e desta descoberta científica. Acreditamos que a inclusão da comunidade seja inspiradora e que vá levar à criação de um movimento global em prol dos oceanos", afirma Chris Fischer, fundador da ONG.
A expedição brasileira capacita os cientistas e o público em geral a acompanhar, em tempo real, os movimentos destes predadores marcados por um período de até 10 anos. Há também um aplicativo disponível gratuitamente ao público.

Foto: Divulgação
A organização não governamental já marcou mais de 100 tubarões em várias áreas do mundo, inclusive na África do Sul, nas Ilhas Galápagos e nos Estados Unidos. Os pesquisadores que recebem o apoio da Ocearch trabalham a bordo de um barco de 126 pés (38,5 m) com propulsão Cat, equipado com uma plataforma de pesquisa hidráulica de 34 toneladas. O veículo atua como um laboratório em alto-mar e é capaz de acomodar animais de grande porte para fins científicos. Saiba mais sobre a ONG aqui.


Fonte: http://ciclovivo.com.br/noticia/ong-internacional-chega-ao-brasil-para-estudar-tubaroes
Foto: Divulgação

Vaqueiros gentis criam bois mais sustentáveis


Camila Fróis - 30/07/14

A-fazenda-possui-um-programaA fazenda possui um programa de melhoramento genético que visa aumentar a produtividade por hectare, diminuindo a necessidade de área desmatada. Fotos: Fernando Angeoletto
Dos milhares de hectares de florestas postos abaixo na Amazônia brasileira, 75% viraram pasto, em especial no Mato Grosso, estado campeão em produção de carne e também em desmatamento acumulado. Apesar do estigma, há fazendas mato-grossenses buscando melhorar suas práticas, com as Fazendas São Marcelo, que conseguiram o selo da ONG Rainforest Alliance de pecuária sustentável. Lá, há muita floresta, animais silvestres e caubóis gentis.
A preocupação com a expansão das pastagens sobre florestas tropicais motivou a Rainforest a lançar padrões de certificação para fazendas de gado na América do Sul. A organização tem mais de 17 mil membros pelo mundo e lidera a Rede de Agricultura Sustentável, um conjunto de ONGs de países latino-americanos dedicadas a projetos de redução de impacto da agropecuária.
Sabrina Vigillante, diretora de iniciativas estratégicas da Rainforest Alliance, diz que o objetivo é estimular um modelo de produção de carne economicamente viável e compatível com a conservação da biodiversidade local. A aposta é que as fazendas certificadas inspirem o avanço do setor nesta direção.
O desafio para diminuir a pegada da pecuária, porém, não é lá tarefa simples no Brasil, país que tem o segundo maior rebanho bovino do mundo, atrás só da Índia, onde boi não vai para a panela por motivos religiosos.
O topo do ranking tem seus custos. Segundo o relatório "A farra do boi na Amazônia", do Greenpeace, a cada 18 segundos, no Brasil, em média um hectare de Floresta Amazônica é desmatado e convertido em pasto. A ONU diz que a pecuária mundial gera 20% da emissão dos gases de efeito estufa no mundo. No Brasil, essa taxa sobe para mais de 60%. O gado produz metano, um mal inevitável, já que o gás é produto do processo digestivo dos animais ruminantes. Outro ônus é o consumo de água. Para cada 1 kg de carne são necessários 15 mil litros, quantidade cinco vezes maior do que na produção de cereais, de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).
De acordo com projeções de janeiro deste ano feitas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o aumento do poder aquisitivo dos consumidores brasileiros irá gerar um crescimento de 42,8% na quantidade demandada de carne nos próximos 10 anos.
As Fazendas São Marcelo saíram na frente. Com unidades em Tangará do Sul e Juruena (Mato Grosso), em 2012, elas foram as primeiras do mundo a conquistar o selo da Rainforest Alliance de pecuária sustentável. Isso significa que oferecem um bife desvinculado do desmatamento ilegal na Amazônia, dos maus tratos de animais e do trabalho informal. Para o Grupo JD, que administra as fazendas, é possível transformar em bons negócios o reconhecimento internacional pela proteção das florestas brasileiras.
"A certificação já fez a diferença para um contrato de venda de 100% da produção das fazendas para o Frigorífico Marfrig, num período em que a disputa pelo mercado estava acirrada", diz Arnaldo Eijsink, engenheiro agrônomo e diretor-geral da São Marcelo.
Mata ocupa o maior espaço
Nas-Fazendas-Sao-MarceloNas Fazendas São Marcelo, o gado é criado parte do ano no sistema extensivo (solto no pasto) e, durante as secas, em sistema de confimamento para diminuir o tempo de engorda.
"A Sepotuba fica em Tangará da Serra (MT) e preserva 60% da vegetação nativa, o que significa 2.400 hectares de mata densa."
O gado na fazenda Sepotuba, visitada pelo ((o))eco, é criado em sistema semiextensivo, o que significa ficar solto durante parte do ano e confinado nos meses de seca. A Sepotuba é uma das quatro unidades pertencentes às Fazendas São Marcelo – que abrangem no total 32 mil hectares incluindo áreas de Cerrado e Amazônia. Além de ao todo guardarem 60 mil cabeças de gado, essas terras servem de lar para antas, veados-campeiros, macacos bugios, jaguatiricas, onças-pintadas e uma diversidade de aves provindas de comércio ilegal, reintroduzidas na reserva da fazenda depois de passarem por um centro de reabilitação do IBAMA.
O horizonte é verde a perder de vista, os voos rasantes de araras e o reflexo de pinho cuiabano em uma represa quase nos fazem esquecer que estamos em uma propriedade que abriga cerca de 30 mil cabeças de gado entre as raças nelores, zebuínas e crioulos.
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A Sepotuba fica em Tangará da Serra (MT) e preserva 60% da vegetação nativa, o que significa 2.400 hectares de mata densa. A Reserva Legal ali é 10 pontos percentuais maior do que os 50% exigidos da propriedade pela lei na época em que ela foi adquirida. Em 2003, parte da fazenda se tornou uma Reserva do Patrimônio Natural (RPPN), a primeira do estado do Mato Grosso. "Hoje, a área é patrimônio da humanidade e jamais poderá ser derrubada", diz Arnaldo.
Os métodos usados na sua produção de gado reduzem o impacto, embora não sejam orgânicos. O gado se alimenta de soja e o milho transgênico, duas culturas controversas da perspectiva ambiental. O pasto é adubado com insumos químicos. Ainda assim, a propriedade mostra que é possível produzir carne de qualidade, cuidar do solo e da água e manter árvores em pé.
Mais do que manter uma porção de vegetação a salvo do motosserra, quem almeja receber o selo Rainforest precisa cumprir 136 critérios diferentes ligados a práticas socioambientais. Entre elas, o rastreamento de todo o gado da fazenda, a recuperação de áreas degradadas no entorno das nascentes, garantir o bem estar dos funcionários com bom treinamento e salários justos, além da destinação adequada do lixo.
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Caubóis educados
"Quem trata o boi com educação, vê que ele entende o que a gente quer e se faz entender também. Isso deixa o rebanho menos assustado, evita acidentes e torna o trabalho mais leve."
Com chapéu, lenço no pescoço e calça de couro, rústicos e capazes de dominar os animais no laço, os vaqueiros das fazendas São Marcelo são responsáveis por uma de suas transformações mais emblemáticas: eles tratam o gado com "gentileza".
De voz tranquila e linguajar simples, o capataz Edmar Cruz explica que o vaqueiro não precisa ser um homem bruto para comandar os rebanhos. "Antes eu achava que trabalhar com o boi era pegar o bicho na unha, gritar, bater. Depois que a gente recebeu um treinamento aqui na fazenda, aos poucos, fui mudando o comportamento".
Um exemplo de mudança citada por Edmar é o uso de bandeiras para conduzir o gado, no lugar das varas com que se costuma açoitar o boi em fazendas convencionais. "O gado só caminha para onde ele enxerga, então quando você coloca a bandeira ao lado do seu olho, ele naturalmente caminha para frente. Isso evita o uso da violência para conduzir o bicho", explica Edmar.
A solução simples é símbolo de uma série de condutas mais respeitosas com o animal. Em meio às pastagens extensivas gigantescas, o papel dos vaqueiros é dos mais importantes. É ele que faz o rastreamento do gado (anotar suas informações de origem, peso, saúde), o conduz de uma fazenda para outra, identifica e cuida dos doentes, o protege de atoleiros e ataques de cobras e onças.
A sensação ao caminhar pela fazenda é de transitar por uma cidade de bois, com caminhos, estruturas cobertas, represas, tudo para os animais. O curral de touros nelore parece um mar de bois branquinhos. Ainda assim, há vaqueiros capazes de identificar alguns animais e chamá-los pelo nome em meio a milhares de cabeças de gado. Alguns bois têm personalidade mais forte, segundo os funcionários, e é preciso conduzi-los com mais calma.
"Quem trata o boi com educação, vê que ele entende o que a gente quer e se faz entender também. Isso deixa o rebanho menos assustado, evita acidentes e torna o trabalho mais leve", ressalta Edmar, que recebeu um prêmio do portal Beefpoint de melhor vaqueiro de 2014. De acordo com ele, a regra é clara: gritos, choques e pancadas são vetados.
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Além do ganho ético, os bons tratos aumentam a produtividade e qualidade, explica Mateus Paranhos, zootecnista e um dos principais estudiosos em bem-estar animal do Brasil. Ele é responsável pelo treinamento dos profissionais da Fazenda São Marcelo.
Segundo o pesquisador, que também é professor na Unesp (Universidade Estadual Paulista), o treinamento passou pela adequação de instalações e procedimentos, por exemplo, durante a vacinação, o desmame ou o embarque dos animais nos caminhões. "As novas técnicas reduzem acidentes de trabalho e prejuízos, como hematomas nos bois, animais fraturados ou mortos", diz.
Arnaldo Eijsink explica que o gado menos estressado, poupado de pancadas, produz uma carne mais sadia e macia, o que aumento o seu valor de mercado. "É o que a gente chama de melhor rendimento por carcaça", diz.
Mais eficiência, menos desmatamento
O-vaqueiro-Emar-CruzO vaqueiro Emar Cruz manja o tronco que evita o excesso de esforço físico, diminui o estresse dos animais os riscos de acidentes na pesagem e vacinação.
"A boa nutrição do rebanho reduz o tempo de engorda e, em consequência, a emissão de gás metano."
O gerente técnico da Fazenda, Leone Furlanetto, explica que o investimento em tecnologia é outra estratégia importante para manter o padrão de qualidade e sustentabilidade da fazenda.
"Um exemplo de ferramenta tecnológica que colabora com o bem estar animal é o tronco hidráulico, utilizado no curral para minimizar o uso de força física no manejo", diz Leone. Quando o boi entra no tronco, a porta se fecha em volta do pescoço, através de um dispositivo que o imobiliza para os procedimentos necessários como vacinação, marcação e pesagem. A imobilização evita acidentes, baques e fraturas nos animais, que costumam reagir a esses procedimentos.
Outra estratégia de redução de impacto ambiental, segundo Leonardo Mello, agrônomo e gerente de unidade, é o pasto adubado (em parte com esterco reutilizado do próprio gado da fazenda) e usado em rotação. Isso significa dividir a terra em piquetes, pequenos lotes usados alternadamente. A técnica evita a degradação do solo e permite que o gado se alimente de capim de ponta. "Quando todo gado é criado em grandes áreas não rotacionadas, algumas cabeças podem se alimentar do melhor capim, enquanto outras ficam prejudicadas", afirma Mello.
A boa nutrição do rebanho reduz o tempo de engorda e, em consequência, a emissão de gás metano. Aumenta-se a produção de carne por hectare e reduz-se a necessidade de área desmatada.
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Selo e lei se somam
O agrônomo Rodrigo Cascalles é especialista em pecuária na ONG Imaflora, certificadora oficial da Rainforest no Brasil. É a Imaflora que faz a auditoria das fazendas que querem receber o selo de pecuária sustentável. Cascalles explica que "a legislação ambiental brasileira é uma das mais exigentes do mundo, então, quando um proprietário já cumpre a lei, em geral, ele não vai ter grandes problemas para conseguir o selo".
Entretanto, ele defende que o selo é importante para agregar valor ao produto final e para estimular uma competição saudável entre os pecuaristas. "Quando os consumidores começarem a priorizar produtos de grupos comprometidos com a sustentabilidade, mais empresas vão se interessar em repensar suas produções".
O-agronomo-Rodrigo-CascallesO agrônomo Rodrigo Cascalles da ONG Imaflora observa a RPPN da Unidade Sepotubal das Fazendas São Marcelo.

 Fonte: http://www.oeco.org.br/reportagens/28527-vaqueiros-gentis-criam-bois-mais-sustentaveis

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Sudeste, rumo à desertificação



por Julio Ottoboni*
secawiki 300x204 Sudeste, rumo à desertificação
Foto: Wikimedia commons
O sudeste do Brasil, parte da região central e do sul caminham para se tornar desérticas. A seca registrada este ano na porção centro-sul, principalmente em São Paulo, está ligada a permanente e acelerada degradação da floresta amazônica. O transporte de umidade para as partes mais ao sul do continente está sendo comprometida, pois além de sua diminuição é trazido partículas geradas nos processos de queimadas que impedem a formação de chuvas.
Os cientistas do (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa) há mais de uma década fizeram esse alerta, que a cada ano está pior e mais grave. E coloca em confronto o modelo econômico agropecuário, baseado em commodities, com a área mais industrializada, produtiva e rica do país. E também a mais urbanizada e detentora de 45% da população brasileira e abrigada em apenas 10,5% do território nacional.
O cientista e doutor em meteorologia do Inpe, Gilvam Sampaio de Oliveira, a situação é preocupante e bem mais grave do imaginado em relação a eventos extremos. A comunidade científica está surpresa com a dinâmica das alterações do clima. O número de desastres naturais vem crescendo. Entre 1940 e 2009 houve uma curva ascendente de inundações e o número de dias frios, principalmente em São Paulo, está em franca decadência.
“As questões que já estamos passando, como essa seca, eram projetadas para daqui há 15 ou 20 anos. A área de altas temperaturas está aumentando em toda América do Sul. Em São Paulo e São José dos Campos, por exemplo, há um aumento de chuvas com mais de 100 milímetros concentradas e períodos maiores sem precipitação alguma. E quanto mais seca a região, aumenta o efeito estufa e diminui a possibilidade de chuvas”, alertou o cientista.
O sistema principal formador do ciclo natural que abastece a pluviometria do sudeste começa com a massa de ar quente repleta de umidade, formada na bacia do Amazonas, seguindo até os Andes. Com a barreira natural, ela retorna para a porção sul continental, o que decreta o regime de chuvas.
A revista científica Nature publicou em 2012 um estudo inglês da Universidade de Leeds. O artigo apresentou o resultado de um estudo no qual os mais de 600 mil quilômetros quadrados de floresta amazônica perdidos desde a década de 1970, e com o avanço do desmatamento seguido de queimadas cerca de 40% de todo complexo natural, estará extinto até 2050. Isso comprometerá o regime de chuvas, que seriam reduzidas em mais de 20% nos períodos de seca.
Faixa dos desertos
O sudeste brasileiro está na faixa dos desertos existente no hemisfério sul do planeta. Ela atravessa enormes áreas continentais, como os desertos australianos de Great Sendy, Gibson e Great Victoria, na plataforma africana surgem as áreas desertificadas da Namíbia e do Kalahari e na América do Sul, o do Atacama. Sem qualquer coincidência, ambos desertos africanos, inclusive em expansão, estão alinhados frontalmente, dentro das margens latitudinais, com as regiões dos Estados do Sudeste e do Sul do país.
Essa porção territorial só se viu livre da desertificação com o êxito da Amazônia e a formação da Mata Atlântica. Ambas foram determinantes para se criar um regime de chuvas que mantiveram essas partes do Brasil e da América do Sul com solos férteis e índices pluviométricos mais que satisfatórios à manutenção da vida.
O geólogo do Inpe  e assessor da Agência Espacial Brasileira (AEB), Paulo Roberto Martini,  tem sua teoria para esse fenômeno. Na qual a desertificação destas regiões ocorrerá se o transporte de ar úmido for bloqueado ou escasseado, por ação natural ou antrópica. Exatamente o que vem acontecendo. As investigações geomorfológicas já mostraram que entre os anos 1000 e 1300 houveram secas generalizadas e populações inteiras desaparecerem nas Américas. E isto pode ocorrer novamente, agora potencializado pela devastação causada pelo homem.
“Esse solo da região Sul e Sudeste tem potencial enorme para se tornar deserto, basta não chover regularmente. A distribuição da umidade evitou que essa região da América do Sul fosse transformada num imenso deserto”, explicou Martini.
Segundo o pesquisador, no fim do período glacial, por volta de 12 mil anos, a cobertura do Brasil teria sido predominantemente de savana, como na África, pobre em diversidade e formada por gramíneas e poucas espécies arbóreas. O que ainda é encontrado no interior de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e no Mato Grosso. Entretanto, a umidade oceânica associada à amazônica possibilitou a constituição da Mata Atlântica e seu ingresso continente adentro.
A penetração da flora em áreas de campo realimentou o ciclo das chuvas, nível de umidade das áreas ocupadas e a fertilização do solo. Em milhares de anos formou-se um vasto complexo florestal, atualmente reduzido a menos de 5% de seu tamanho original na época do descobrimento.
“Há uma cultura de degradação e falar em restauração das matas no Brasil é ficção. Só se produz água quando se faz floresta, a sociedade tem que reagir a isso”, observou o dirigente da entidade SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani.
As pesquisas mostram que o povoamento vegetal no que é hoje o território brasileiro teria começado pela costa do Oceano Atlântico, seguindo para o interior ao longo das várzeas dos rios, onde se encontram os solos mais ricos em nutrientes. Foram milhares de anos neste ritmo, o que induziu diversos especialistas a defenderem a tese de que a Mata Atlântica esteve intimamente ligada a Floresta Amazônica, pois ambas detém diversas semelhanças em seus ciclos sazonais e em espécimes de fauna e flora.
Mas com a derrubada desta proteção vegetal e o encurtamento do ciclo de chuvas oriundas do mega sistema amazônico, as mudanças climáticas ganharam impulso e têm causado alterações no desenvolvimento de diferentes culturas agrícolas, entre elas milho, trigo e café com impactos imensos na produção brasileira e norte-americana. A avaliação partiu dos integrantes do Workshop on Impacts of Global Climate Change on Agriculture and Livestock , realizado em maio na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto (SP).
Júlio Ottoboni é jornalista diplomado e pós-graduado em jornalismo científico.
Fonte: http://envolverde.com.br/ambiente/sudeste-rumo-desertificacao/

terça-feira, 29 de julho de 2014

Extinção de dinossauros foi 'azar', diz estudo

por Pallab Ghosh, Repórter de ciência da BBC News

A extinção dos dinossauros se deu graças a uma trágica conjunção de fatores, segundo um estudo publicado na revista especializada Biological Reviews.

Várias espécies atravessavam um período de fragilidade quando um asteroide atingiu a Terra há 66 milhões de anos.
Veja Álbum de fotos
Fatores como elevação dos níveis do mar e alta atividade vulcânica já vinham reduzindo algumas populações de dinossauros.

O estudo reuniu 11 especialistas britânicos, canadenses e americanos para avaliar as mais recentes descobertas sobre a extinção dos gigantes de sangue frio.

"Os acontecimentos formaram uma tempestade perfeita no momento em que os dinossauros estavam mais vulneráveis", afirmou à BBC o estudioso Steve Brusatte, da Universidade de Edinburgo.

'Cadeia alimentar robusta'

Brusatte disse que se o choque do asteroide tivesse ocorrido 5 milhões de anos antes, as chances de sobrevivência dos dinossauros seriam maiores, uma vez que os "ecossistemas eram mais fortes, mais diversificados" e a "base da cadeia alimentar, mais robusta".

Segundo o especialista, populações de dinossauros tiveram diversas altas e baixas ao longo da sua existência, mas sempre se recuperaram.

"Se eles pudessem ter tido alguns milhões de anos a mais para recuperar a sua diversidade, teriam tido chances maiores de sobreviver ao impacto do asteroide."

Foi a extinção dos dinossauros que permitiu a evolução de outras espécies, como mamíferos.

Por isso, Steve Brusatte diz que se o asteroide não tivesse atingido a Terra naquele momento histórico, o mundo seria provavelmente dominado por dinossauros até hoje.

Dinossauros inteligentes

Mais que isso: o especialista acredita que, se tivessem continuado, "certamente é possível" que os dinossauros tivessem desenvolvido inteligência.

A hipótese, no entanto, é minimizada por outro especialista, o professor Simon Conway-Morris, da Universidade de Cambridge.

Conway-Morris afirma que o experimento evolucionário sobre a inteligência dos dinossauros já aconteceu. "Nós os chamamos de corvos", brincou.

Segundo as evidências científicas, as aves evoluíram a partir de um grupo de dinossauros - e nem assim um dos pássaros mais inteligentes, o corvo, atingiu o nível de inteligência dos seres humanos.

Conway-Morris acredita que, mesmo sem o fatídico asteroide, os dinossauros não teriam sobrevivido até os dias de hoje, porque outros grupos de animais teriam desenvolvido inteligência e passado a usar ferramentas.

"Deste momento em diante, os dinossauros teriam virado pó", afirmou.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/bbc/2014/07/28/extincao-de-dinossauros-foi-azar-diz-estudo.htm

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Alunos de jornalismo da ECA criam matéria hipermídia sobre crise hídrica


Com informações do Projeto 200 e Água
O Estado de São Paulo vivencia a maior crise hídrica de sua história. O Sistema Cantareira, responsável por 45% do abastecimento de água da região metropolitana, atingiu suas maiores baixas no verão, quando mais deveria chover. Neste contexto, um grupo de estudantes do quarto ano de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP colocaram no ar o Hipermídia 2000 e água. Trata-se de um site para discutir a crise . Nele encontram-se vídeos, fotos, entrevistas, infográficos e textos sobre o tema, abordados sob diferentes perspectivas, como a social, a educação ambiental e a gestão pública.
Foto: Luiza GuerraRepresa Jaguari, março de 2014
Foto: Luiza Guerra
Represa Jaguari, março de 2014
Dos mananciais aos córregos, do campo à cidade, do abastecimento à má gestão e do uso ao desperdício. A partir da história de vida de duas moradoras da comunidade São Remo (Zona Oeste de São Paulo), de um senhor que dedica a vida a recolher o lixo do rio Atibaia (interior do estado) e de um paulistano que cresceu nadando nas águas do rio Pinheiros, a reportagem coletou dados e conversou com especialistas em planejamento, educação ambiental e esgotamento sanitário.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Após um amplo mergulho no ciclo social da água, o internauta conclui sua visita ao especial assistindo ao minidocumentário “Planos submersos”, que retrata a marcante história de pessoas que tiveram que deixar suas casas há 40 anos para a construção do Sistema Cantareira e, hoje, assistem ao reaparecimento delas com a seca dos reservatórios.
Reiniciando o ciclo, a reportagem também mostra a angustiante realidade de quem terá suas terras desapropriadas para a construção de mais uma barragem no rio Jaguari.
Em quatro meses de pesquisas e entrevistas, o 2000 e água presenciou momentos em que o ciclo da água cruza com o irrefreável crescimento urbano, e convida todos a conferirem este processo de uma maneira nunca antes vista. Os autores são os alunos Frederico Gabre, Guilherme Speranzini, Luiza Guerra, Carolina Santa Rosa, Otávio Lino, e Nicolas Gunkel.
Mais informações: (11) 95918-3461, emailprojeto2000eagua@gmail.com, site http://www.2000eagua.com.br

Fonte: http://www5.usp.br/47840/estudantes-de-jornalismo-da-eca-criam-reportagem-hipermidia-sobre-crise-hidrica/

Estudo indica presença de compostos poluentes no organismo de tartarugas

Da Assessoria de Imprensa do Cena
Resultados das análises da bióloga Silmara Rossi em tartarugas-verdes acometidas, ou não, por uma doença tumoral, a fibropapilomatose, capturadas em cinco regiões monitoradas pelo Projeto Tamar-ICMBio, indicaram exposição a compostos poluentes e sua provável acumulação no organismo dos animais amostrados. O objetivo da pesquisa, realizada no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba, foi o de estudar aspectos relacionados à imunossupressão causada por esta doença, além de verificar a presença de compostos orgânicos chamados de bifenilas policloradas (PCBs).
“Utilizados em transformadores, capacitores, fluídos de transferência de calor e como aditivos na formulação de plastificantes, tintas, adesivos e praguicidas, os PCBs estão proibidos no Brasil desde 1981, porém 31% da sua produção mundial atingiu o meio ambiente. Como possuem a capacidade de se acumularem nos seres vivos, podem causar diversos efeitos em sua saúde e, por isso, podem estar relacionados com o desenvolvimento da fibropapilomatose nas tartarugas verdes”, explica Silmara. A tese teve orientação da professora Eliana Reiko Matushima. Já as análises da presença de PCBs foram realizadas no laboratório de Ecotoxicologia, do Cena, sob a supervisão do professor Valdemar Luiz Tornisielo.
As tartarugas-verdes, da espécie Chelonia mydas, foram capturadas com a colaboração das equipes do Projeto Tamar-ICMBio, nas cidades de Florianópolis (Santa Catarina), Ubatuba (São Paulo), Vitória (Espírito Santo) e Almofala (Ceará), além da ilha de Fernando de Noronha (Pernambuco), e contribuíram para possibilitar a obtenção das amostras sanguíneas das tartarugas.

Fibropapilomatose

Durante três anos, entre agosto de 2010 e novembro de 2013, foram coletadas amostras e os resultados obtidos em 49 animais indicaram 33 com fibropapilomatose para aqueles que tiveram analisadas a atividade dos leucócitos e provenientes de Ubatuba. Já nas 80 tartarugas que tiveram os PCBs analisados, 59 não apresentaram fibropapilomatose e 21 tiveram a doença identificada.
“Os animais acometidos tiveram maiores concentrações dos compostos, com algumas exceções para as tartarugas capturadas em Vitória. Correlações indicaram que conforme aumentou a concentração de PCBs nas amostras, aumentou a atividade dos linfócitos. Porém, outros experimentos ainda precisam ser realizados para confirmar a relação dos poluentes com a fibropapilomatose”, afirmou Silmara.
A tese de doutorado, denominada Análise da atividade de leucócitos e de bifenilas policloradas aplicada ao estudo da fibropapilomatose em Chelonia mydas (Testudines, Cheloniidae) (Linnaeus, 1758), contou com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Silmara integrava o Programa de Pós-Graduação Interunidades Cena/Esalq, na área de concentração de Ecologia Aplicada.

Fonte: http://www5.usp.br/47727/estudo-identifica-doenca-tumoral-e-presenca-de-compostos-poluentes-no-organismo-de-tartarugas/

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Iniciativa do IB leva conhecimentos em genética para usuários do metrô




Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Uma ideia pioneira concebida no Instituto de Biociências (IB) da USP vai levar conhecimento científico sobre genética aos paulistanos que usam o metrô e também aos estudantes de Ensino Médio de todo o estado. O Centro de Pesquisa sobre Genoma Humano e Células-Tronco, um dos Centros de Pesquisa Inovação e Difusão (Cepid) ligados à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), criou cartazes e um hot site para divulgar a campanha “Semelhantes, mas diferentes”, dentro do ProjetoSemear Ciência.
A intenção dos organizadores é despertar a curiosidade do público para os assuntos ligados à genética, dando conta de uma de suas missões, que é a difusão do conhecimento. “Os centros de pesquisa da Fapesp têm que cumprir três funções: ‘pesquisa’, ‘transferência de tecnologia’ e ‘educação e difusão’. Dentro desses pilares, surgiu a ideia de levar um pouco dos conhecimentos científicos de genética para a população em geral”, conta a professora Eliana Dessen, uma das criadoras do projeto. A campanha alerta as pessoas sobre a semelhança genética que outros seres vivos guardam com o ser humano, reafirmando a teoria da evolução das espécies concebida por Charles Darwin, ainda no século 19.
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
A professora revela que no início a ideia era fazer uma exposição no metrô. Uma exposição com painéis maiores em uma única estação. “Depois, nós pensamos na possibilidade de fazer os painéis menores que podem ser distribuídos e expostos em diversos locais”, conta. Ao todo serão cerca de 200 cartazes espalhados no metrô de São Paulo, expostos de agosto a setembro deste ano. Além disso, as peças também serão colocadas em terminais de ônibus e possivelmente dentro dos coletivos, atingindo ainda mais pessoas.
Apesar da intenção inicial ser alcançar os usuários do transporte público paulistano, “a ideia evoluiu” e se ampliou para atender às escolas públicas do estado. A equipe entrou em contato com a Secretaria de Educação e os cartazes também serão distribuídos para as 3775 escolas de Ensino Médio localizadas em São Paulo. Além dos cartazes informativos, o programa também prevê uma vídeo-conferência que vai orientar os professores sobre como abordar o assunto na sala de aula.
Uma vídeo-conferência está marcada para o dia 8 de agosto com os 91 professores coordenadores de núcleos pedagógicos do estado. Eles vão receber orientações, conhecer os cartazes, o hot site e entre outras informações. “A partir disso, estarão capacitados para orientar os respectivos professores”, projeta Eliana.
Depois de seis meses de trabalho, desde a concepção da ideia até a elaboração dos cartazes, a iniciativa agora se encaminha para a fase final de divulgação. “Os 35 mil exemplares já foram impressos. A quantidade destinada ao metrô já foi entregue e a primeira metade destinada às escolas já está em posse da Secretaria de Educação de São Paulo para distribuição”, anuncia a professora.

Outras iniciativas

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Docente aposentada do IB, Eliana cuida especialmente de projetos como o Semear Ciência e empolga-se com novas ideias que vão ser colocadas em prática. “Nossa intenção é fazer duas campanhas como essa por ano. Depois que acabar o ‘Semelhantes, mas diferentes’, nós vamos fazer outra com o título: ‘É genético?’”, revela. A proposta é buscar características comportamentais do ser humano e explicar se elas têm alguma ligação com fatores genéticos ou não.
Semear Ciência é o primeiro projeto especialmente voltado e idealizado para o público em geral. Na maioria dos casos, os projetos desenvolvidos pelo Centro de Pesquisa buscavam se aproximar mais dos professores e alunos de Ensino Médio da rede pública estadual. A professora cita como exemplo o Aulas práticas nas escolas e relata que nesse projeto foi levado um laboratório móvel até as instituições de ensino. “Os professores interessados recebem capacitação e o material fica emprestado à escola durante três semanas”, explica.
Atualmente, o projeto atende a 52 escolas e em 2015 serão 60. Os microscópios e os seis kits de laboratório abrem uma nova possibilidade para os estudantes. “Esse projeto sempre dá um resultado muito positivo. Primeiro, porque os alunos podem ter uma aula em laboratório, o que é raro para as escolas da rede pública. Segundo, porque incentiva as escolas a montarem seus próprios laboratórios, já que os professores recebem treinamento e percebem que os materiais não são assim tão caros”, afirma Eliana.
O Centro de Pesquisa sobre Genoma Humano e Células-Tronco continua aumentando o número de projetos e servindo de inspiração para outros Cepids. De acordo com Eliana, outros centros se interessaram pela iniciativa e estratégia de divulgação e pretendem estruturar projetos com a mesma configuração. “Nós acreditamos que as próximas campanhas terão sua elaboração e aplicação cada vez mais rápidas, dado que a fase burocrática já foi superada dessa vez”, diz a pesquisadora. Dessa forma, a tendência é dar cada vez mais acesso para a população ao conhecimento científico produzido na Universidade.
Mais informações: site http://genoma.ib.usp.br/

Fonte: http://www5.usp.br/47485/iniciativa-do-ib-leva-conhecimentos-em-genetica-para-usuarios-do-metro/

DECRETO Nº 60.133, DE 7 DE FEVEREIRO DE 2014

DECRETO Nº 60.133, DE 7 DE FEVEREIRO DE 2014

Declara as espécies da fauna silvestre ameaçadas 
de extinção, as quase ameaçadas e as deficientes 
de dados para avaliação no Estado de São Paulo e 
dá providências correlatas.

Baixe aqui:

http://www.imprensaoficial.com.br/PortalIO/DO/GatewayPDF.aspx?link=%2F2014%2Fexecutivo+secao+i%2Ffevereiro%2F08%2Fpag_0025_8JDL3R1IUCR3UeBO89AIQC64DME.pdf

O ser humano provoca a sexta extinção em massa do planeta

Já são 322 as espécies de vertebrados terrestres que desapareceram desde 1500.

O muriqui (Brachyteles aracnoides) brasileiro corre risco de desaparecer. / PEDRO JORDANO (SCIENCE) 
A extinção em massa da fauna não é nenhuma novidade: ocorreram cinco nos 600 milhões de anos em que os animais povoam a Terra, causadas por vários tipos de catástrofes planetárias como o vulcanismo intenso, os impactos de meteoritos e outros ainda não esclarecidos. A novidade da sexta extinção da história do planeta, a que estamos vivendo agora, é que a causa somos nós, os seres humanos. Em certo sentido, somos piores que um meteorito.
Os últimos dados, apresentados em uma coletânea de ensaios na revista Science, são terríveis, com 322 espécies de vertebrados terrestres extintos desde o ano de 1500, e com o resto sofrendo uma redução média de 25% no número de indivíduos, o que, na verdade, é pior que as extinções por seu efeito nos ecossistemas. O quadro é ainda mais complicado entre os invertebrados, com declínios de 45% na população de 2/3 das espécies examinadas. Os cientistas criaram o termo defaunação (semelhante a desflorestação) para se referir a esse grave fenômeno.

Os geólogos ainda não chegaram a coincidir sobre suas causas: pode ter sido por uma crise de temperatura, com a superfície marinha superando os 28 graus e arruinando o estilo de vida dos animais que viviam aí, e depois destroçando todo o resto em uma cascata autoalimentada e catastrófica. Mas também está documentada uma mudança brusca no ciclo global do carbono em que se baseia toda a biologia. Também entraram em erupção os vulcões da Sibéria e, sobretudo, na época foi formado o supercontinente Pangea, que abarcava todos os atuais em uma única massa de terra. Na geologia, quando as coisas começam a mudar, não param no meio do caminho.
A extinção é tão conatural à evolução biológica quanto a morte é para a vida: as espécies nascem e morrem, assim como os indivíduos. Mas ocorreram cinco extinções nos 600 milhões de anos de história animal que se destacam por seu poder devastador. A pior de todas não foi a mais popular - a dos dinossauros -, mas outra que ocorreu 200 milhões de anos antes: a extinção do período Pérmico, que varreu do mapa metade não apenas das espécies, mas das famílias que abarcam milhares de espécies. Os braquiópodos e os corais se salvaram nos pênaltis, mas 70% de nossos ancestrais vertebrados não tiveram tanta sorte.
“Claramente a defaunação é tanto um componente ubíquo da sexta extinção em massa do planeta quanto um dos principais eixos impulsionadores da mudança ecológica global”, afirma Rodolfo Dirzo, da Universidade de Stanford na Califórnia, e o primeiro autor de um dos artigos apresentados na revista Science, com o título sucinto de ‘Defaunação no antropoceno’. O antropoceno não é um período geológico convencional, mas foi adotado por especialistas em química atmosférica, como o prêmio Nobel Paul Crutzen, para denominar a época em que a atividade humana começou a gerar efeitos globais. Dirzo e seus colegas consideram que o antropoceno começou há uns 500 anos, embora existam outras opiniões.
“Nos últimos 500 anos”, dizem os cientistas da Califórnia, Rio Claro (Brasil), México, Oxfordshire e Londres, “os humanos desencadearam uma onda de extinção, ameaça e declínio das populações locais de animais que pode ser comparada, tanto em velocidade quanto em magnitude, com as cinco extinções em massa anteriores da história da Terra”. Nas escalas dos geólogos, 500 anos é realmente um piscar de olhos: nem sequer os efeitos do impacto de um meteorito têm uma duração tão curta, muito menos a formação do supercontinente Pangea.

A extinção em massa que acabou com os dinossauros é a que mais captou a imaginação popular
A extinção em massa que acabou com os dinossauros - menos seus descendentes voadores, as aves - é a que mais captou a imaginação popular, com dois Steves (Jay Gould e Spielberg) entre os principais coadjuvantes. Seu nome técnico é “extinção K-T”, ou limite entre o Cretáceo (K, por kreide, giz ou calcário em alemão) e o Terciário (T). O que pouca gente se lembra é que não foram extintos apenas os dinossauros, mas também 80% das espécies animais existentes naquele momento, há quase 66 milhões de anos. Adeus aos amonóides, aos belemnites e à maioria dos corais. Dos inoceramus ninguém se lembra. A razão desta destruição em massa, terceira em importância na história do planeta, foi provavelmente um enorme meteorito que caiu perto do México nessa época, um impacto que eclipsou o sol por éones. Mas também houve um terrível período de vulcanismo, em um novo exemplo do caráter “pé-frio” dos eventos geológicos.
O termo defaunação quer enfatizar que o problema não se limita à extinção de espécies inteiras, mas que abarca também o desaparecimento de populações locais e a redução do número de indivíduos de cada população. “Embora as extinções tenham uma grande importância evolutiva”, explica Dirzo, “o declínio do número de indivíduos nas populações locais, e as mudanças na composição de espécies de uma comunidade, costumam causar um maior impacto imediato na função dos ecossistemas”. Os autores reconhecem que as extinções têm mais impacto nos meios de comunicação, mas ressaltam que “são apenas uma pequena parte da perda real de biodiversidade”.
Segundo diferentes estimativas, entre 16% e 33% de todas as espécies vivas de vertebrados estão ameaçadas ou “em perigo” de forma global, e somente nos últimos 500 anos, 322 foram extintas. Pior ainda, o número de indivíduos foi reduzido em uma média de 28%, com casos extremos como os elefantes, cuja população diminui a tal ritmo que sua extinção em breve é algo quase seguro. O elefante é um dos pouquíssimos animais com autoconsciência - se reconhecem no espelho - que nos acompanham neste vale de lágrimas evolutivo, junto com o golfinho e os grandes macacos.
“O declínio destas espécies animais afetará em cascata o funcionamento dos ecossistemas”, asseguram Dirzo e seus colegas, “e finalmente o bem-estar humano”.
Mesmo que seja só por causa disto, a defaunação deverá ganhar importância nos próximos anos.
Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/07/24/sociedad/1406224017_140906.html

Um décimo das espécies de aves estão ameaçadas de extinção



por Redação do CarbonoBrasil
avestruz Um décimo das espécies de aves estão ameaçadas de extinção
Foto: Avestruz-somali / Peter Steward
A BirdLife International acaba de divulgar a atualização da Lista Vermelha de Aves Ameaçadas para a IUCN e a notícia não é nada boa.
Mais de 350 espécies recém reconhecidas foram avaliadas pela primeira vez e mais de 25% delas foram listadas como ameaçadas, tornando-se prioritárias nas ações de conservação. No geral, 13% de todas as espécies avaliadas estão ameaçadas.
Uma das novas aves reconhecidas é o avestruz-somali (Struthio molybdophanes), que foi considerada como Vulnerável. Até então somente era reconhecida uma espécie de avestruz e que não é listada como ameaçada.
Dentre as aves brasileiras, a subespécie de mutum Crax fasciolata pinima, foi reconhecida como uma nova espécie, Crax pinima, e já foi classificada como Criticamente Ameaçada.
Além de avaliar as espécies recém reconhecidas, a Lista Vermelha 2014 também reavalia o status de algumas espécies já reconhecidas e aumenta a importãncia de diversas áreas que abrigam essas espécies ameaçadas.
* Com informações da Birdlife Internationl/ SAVE Brasil.
** Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.

Fonte: http://envolverde.com.br/noticias/um-decimo-das-especies-de-aves-estao-ameacadas-de-extincao/