quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Padre, biopiratas variados e um duque inglês salvaram o Milu


Fabio Olmos - 26/11/13

Milu-abreUm grupo de Milus descansa sob o sol do sul da Inglaterra, país onde estes refugiados ambientais foram salvos da extinção. Foto: Fabio Olmos
O Milu (Elaphurus davidianus) é o único representante vivo do seu gênero, um grupo de cervos amantes dos pântanos originalmente encontrados no que é hoje o leste da China, Manchúria e sul do Japão.
Alterações ambientais na transição Pleistoceno-Holoceno e a expansão das populações humanas que converteram a maior parte das áreas inundáveis em plantações (os arrozais da China datam de pelo menos 8.300 anos atrás) e sua fauna em itens da variada culinária chinesa.
O último ato de um longo declínio aconteceu quando o último Milu selvagem foi morto no litoral do Mar Amarelo em 1939. Felizmente, os imperadores chineses gostavam de ter parques murados onde bichos ornamentais passeavam e podiam ser ocasionalmente caçados e no século XI a dinastia Yuan estabeleceu um parque imperial em Nanyuang, uma área brejosa de 200 km² ao sul de Beijing (Pequim). Esta foi murada e protegida do mundo exterior. Foi ali que uma manada de Milus sobreviveu em semi-cativeiro.
Em 1864 o missionário lazarista e grande naturalista Père Armand David "descobriu" os Milus em Nanyuan, segundo consta, pulando o muro. Um entusiasta da natureza (foi o descobridor do panda-gigante, entre outros bichos), Armand rapidamente percebeu que estava diante de um animal desconhecido e convenceu (alguns dizem subornou) os guardas imperiais para obter as peles e esqueletos de um casal adulto e um macho jovem. Este ato de espionagem científica por parte de uma potência colonial contra um poder submergente rendeu a Armand a homenagem de ter seu nome associado ao do Milu, também conhecido como Cervo do Padre David.
Mais convencimentos permitiram que mais Milus, desta vez vivos, fossem exportados para coleções e zoológicos na França, Reino Unido e Alemanha. No Brasil de hoje isso seria chamado de biopirataria.
O que foi uma boa coisa porque, em 1894-95, uma inundação destruiu o muro do parque e os cervos, fugindo das águas, acabaram na barriga do campesinato. Apenas 20 ou 30 sobreviveram.
O golpe final veio durante a Rebelião Boxer em 1900, quando tropas ocuparam o parque e comeram os últimos Milu. Parece que sobrou um ou outro, e algumas versões da história dizem que o último Milu na China morreu em 1922.

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O fim do Milu não passou despercebido e Herbrand Russell, 11º Duque de Bedford, conseguiu reunir os últimos 18 exemplares vivos (apenas 11 se mostraram férteis) para formar um núcleo de reprodução em sua propriedade em Woburn Abbey.
Note que estamos falando de um indivíduo, e não de governos, tomando a iniciativa de salvar uma espécie.
Contra as expectativas, as agruras de duas guerras mundiais e o que entendidos modernos diriam sobre diversidade genética e populações mínimas viáveis, a manada cresceu e indivíduos foram enviados a outras coleções. Na verdade, os Milu ou Père David's Deer, como os chamam no Reino Unido, são hoje criados em fazendas para produzirvenison (como os bichos de minha foto).
Foi apenas em 1985 que os primeiros Milus foram enviados de volta à China para estabelecer populações semi-cativas, a primeira em Nanyuang. Outros núcleos foram estabelecidos e hoje há 53 manadas de Milu na China, onde a taxa de crescimento populacional é de 15 a 20% ao ano (Milus não estudaram genética e não devem saber o que é depressão endogâmica).
A história do Milu mostra que o estabelecimento de populações cativas pode salvar espécies da extinção. E como a "biopirataria" (pelo menos como definida por aqui) em países que não dão a mínima para a conservação devido à sua situação política, social e econômica pode ser uma boa coisa para os bichos e plantas em questão.
Há inúmeros casos onde a coleta de animais e plantas para o cativeiro ajudou a dizimar populações e levou espécies à extinção na natureza, como aconteceu com a famosa ararinha-azul, embora a hidrelétrica de Sobradinho tenha muita culpa nessa história ou quase (veja aquiaqui e aqui).
Mas quando a situação é desesperada, como em países onde o negócio é o tal "progresso" no estilo anos 70, o biopirata de hoje pode ser o herói de amanhã, salvando algo que não pode ser substituído. Seja um Milu ou um fungo de solo que produz um fármaco que salva vidas.
No Brasil, o curioso é que espécies locais não valem o suficiente para que um órgão licenciador negue a conversão das poucas áreas onde vivem em condomínios ou hidrelétricas superfaturadas. Por outro lado, provocam um circo envolvendo a Polícia Federal, IBAMA e palhaços nacionalistas caso alguém seja pego contrabandeado peixinhos, aranhas, serpentes, fungos, solo, etc. para o exterior.
Lamento que bichos como o mutum-de-alagoas, extinto na natureza graças ao Proálcool e à cultura local de matar o que se move, não tenham sido contrabandeados para fora do país e populações cativas estabelecidas lá fora. Teríamos mais com que recuperar a espécie que os três indivíduos salvos por um empresário do Rio de Janeiro. O governo, como de praxe, ficou olhando a espécie desaparecer.
Muito coerente este nosso Brasil, que gosta de apontar o dedo para "ameaças" vindas do exterior que cobiçam nossa biodiversidade, mas onde governos "de vanguarda" demonstram absoluta e completa falta de vergonha aodeixarem nossas áreas protegidas na penúria enquanto gastam os tubos em agências de publicidade, estádios de futebol. O futuro julgará quem são os vilões da história.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Mais de 21 mil espécies estão em nova lista de animais em risco de extinção

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Conheça animais ameaçados de extinção no planeta142 fotos

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Nova lista vermelha de animais em risco de extinção inclui 71.576 espécies, das quais 21.286 estão ameaçadas. A girafa da floresta como é conhecida a Okapi (Okapia johnstoni) - símbolo nacional da República Democrática do Congo - é uma das novas espécies a entrar na lista, como em perigo, apenas um passo do alto risco de extinção. A perda de habitat, assim como a presença de rebeldes, caçadores e minas ilegais são as principais ameaças Divulgação/ IUCN
A União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) atualizou sua lista vermelha de animais em risco de extinção: ao todo são 71.576 espécies, das quais 21.286 estão ameaçadas.  A "girafa da floresta", chamada de okapi - um símbolo nacional da República Democrática do Congo - e o frango-d'água-d'asa-branca -  uma das aves mais raras da África - estão à beira da extinção.
São 799 espécies extintas e 61 extintas na natureza. O Brasil tem 937 espécies ameaçadas de extinção, sendo 82 mamíferos, 151 pássaros, 29 répteis, 33 anfíbios, 84 peixes, 22 moluscos, 32 outros invertebrados e 504 plantas. 
A ave Sarothrura ayresi foi de "em perigo de extinção" para "criticamente em perigo". Já a Okapia johnstoni foi de "perto da ameça" para "em perigo". A perda de seus habitat natural, assim como a presença de rebeldes, caçadores de elefantes e minas ilegais têm ameaçado sua sobrevivência.
"A okapi é reverenciada no Congo como um símbolo nacional - ele está inclusive nas notas de dinheiro", diz Noëlle Kümpel co-presidente do Grupo de Especialistas em Girafas e Okapis da IUCN. "Infelizmente, o Congo foi pego por um conflito civil e devastado pela pobreza por quase duas décadas, levando à degradação generalizada do habitat do okapi e à caça por sua carne e pele . Apoiar os esforços do governo para combater o conflito civil e da extrema pobreza na região são críticos para assegurar a sua sobrevivência".
A atualização ainda mostra que quase 200 espécies de aves agora  estão criticamente em perigo de extinção, o maior risco.  O frango-d'água-d'asa-branca, um pequeno e secreto pássaro que vive na Etiópia, Zimbábue e África do Sul, é a última espécie a entrar na categoria. A degradação de seu ambiente, incluindo a drenagem de zonas úmidas , a conversão para a agricultura, captação de água, excesso de pastagem pelo gado e corte de vegetação do pântano  levaram a este estado.
Melhorias
Apesar de a população global da tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) - a maior de todas as tartarugas vivas - melhorou de criticamente em perigo para vulnerável, a espécie continua a enfrentar sérias ameaças, principalmente na costa oeste do Pacífico, na Indonésia, Papua Nova Guiné, onde apresenta declínio da população pela colheita de ovos e pesca.
Duas espécies de albatroz - uma das mais ameaçadas famílias das aves - agora estão em menor risco de extinção, já que sua população aumentou. O albatroz-de-sobrancelha (Thalassarche melanophrys) saiu de "ameaçado" para "perto da ameaça" e o albatroz-patinegro (Phoebastria nigripes) passou de "vulnerável" para "perto da ameaça". A captura por redes de pesca é a maior ameaça para as espécies.
A raposa-das-ilhas (Urocyon littoralis) também melhorou sua classificação. Antes classificado como "criticamente em perigo", agora está "perto da ameaça". Ela é encontrada em seis das ilhas Channel da Califórnia e teve um declínio em sua população na década de 90, principalmente por doenças e pela inserção de espécies não-nativas nas ilhas
"Esta atualização da lista vermelha da IUCN mostra alguns fantásticos sucessos na conservação, dos quais precisamos aprender, para futuros esforços de preservação", disse Jane Smart, diretora global da biodiversidade da IUCN. "Apesar disto, a mensagem global permanece sombria. Com cada atualização, enquanto vemos algumas espécies melhorando seu estado, há um número significativamente maior de espécies que figuram nas categorias ameaçadas. O mundo precisa urgentemente aumentar os esforços para evitar esta tendência devastadora".

Pesquisadores aproveitam temporada para decifrar comunicação entre baleias


Esta é a época do ano em que o litoral de Santa Catarina é dominado por baleias. De junho a dezembro, as baleias francas transformam a região em um berçário. Por isso, os biólogos aproveitam para fazer todo tipo de pesquisa sobre a espécie.

Revista Science publica texto alertando para risco de extinção da onça-pintada




Um grupo de pesquisadores brasileiros, liderados por Mauro Galetti, professor do Instituto de Biociências (IB) da Unesp, Campus de Rio Claro, publicou na seção Letters, da revista Science, de 22 de novembro de 2013, o texto ‘Atlantic Rainforest’s Jaguars in Decline’, na página 930, em que alerta para o declínio populacional da onça-pintada na Mata Atlântica.
Integrante do Instituto Pró-carnívoros e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Ronaldo Morato aponta a relevância da publicação e o impacto positivo que ela trará. “Enquanto ações nos EUA de reintrodução de espécies e de reflorestamento vêm gerando um aumento do número de predadores em algumas áreas, o que vem ocorrendo com a onça pintada caminha no sentido contrário”, diz.
Morato aponta que coibir a caça ilegal do animal e a perda do seu habitat são ações que poderiam ser tomadas em termos governamentais para impedir o declínio do animal. “Desenvolvemos ainda, com o professor Galetti, estudos sobre as funções ecossistêmicas da onça pintada e o que pode acontecer com o a redução e desaparecimento do animal”, afirma.
"A nota publicada na Science tem pelo menos dois bons significados para todos nós; o primeiro, é a clara conclusão de que é possível (e necessário) reunir o conhecimento interdisciplinar de vários pesquisadores para encontrar soluções de recuperação e conservação de uma espécie ameaçada de extinção, e o segundo, é a indicação de que os estudos em biodiversidade que se realizam pelos pesquisadores brasileiros, encontram reconhecimento na comunidade científica internacional, e isso é muito bom por dar credibilidade aos nossos trabalhos e abrir novos caminhos de cooperação científica madura e de crescimento do conhecimento universal", comenta Pedro Manoel Galetti Junior, do Laboratório de Biodiversidade Molecular e Conservação do Departamento de Genética e Evolução da Universidade Federal de São Carlos, coautor do texto.
Fonte: Unesp Agência de Notícias (UnAN)

Fonte: http://ciclovivo.com.br/noticia/revista-science-publica-texto-alertando-para-risco-de-extincao-da-onca-pintada

Cientistas criam primeiro mapa digital da Grande Barreira de Corais

Em Sydney
  • Divulgação
Um grupo de cientistas desenvolveu pela primeira vez um mapa digital de toda a área que cobre a Grande Barreira de Corais, localizada no nordeste da Austrália, Patrimônio da Humanidade desde 1981, informou nesta quarta-feira a imprensa local.
Os cientistas australianos e alemães criaram um mapa em 3D que inclui dados sobre a profundidade da área de mais de 350 mil km², onde até agora quase a metade das águas superficiais não tinham sido capturadas em documentos digitais.
O especialista da Universidade James Cook, Robin Beaman, disse à emissora "ABC" que o mapa permite ver a forma de cada recife, a localização de cada lagoa e cada detalhe do ecossistema, o que contribuirá para entender as ameaças e saber como protegê-lo.
No caso da estrela do mar "Acanthaster planci", conhecida como coroa de espinhos e voraz depredadora de corais, o mapa ajudará a entender "como as larvas atuam e como se movimentam dentro e ao redor dos corais, o que pode ajudar a prever para onde viajam e o próximo foco", explicou.
O Instituto Australiano de Ciências Marinhas alertou no ano passado que a Grande Barreira de Corais perdeu mais da metade de seu corais nos últimos 27 anos, principalmente pelas tempestades e pela coroa de espinhos.
A Grande Barreira, que abriga 400 tipos de corais, 1.500 espécies de peixes e 4 mil variedades de moluscos, começou a se deteriorar na década de 1990 pelo duplo impacto do aquecimento da água do mar e o aumento da sua acidez devido à maior presença de dióxido de carbono na atmosfera. 

Só 4% das unidades de conservação na Amazônia têm gestão eficiente, diz TCU


Ouvir o texto
Apenas 4% unidades de conservação na região amazônica têm uma gestão eficiente, com a implementação de planos de manejo adequados, regulamentação fundiária em andamento, servidores e recursos necessários para sua manutenção.
É o que aponta auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) realizada ao longo de um ano em parceria com tribunais de contas de nove estados da região.
As unidades de conservação são espaços territoriais e marinhos protegidos, já que têm um papel importante na proteção e preservação do meio ambiente. São instituídas pelo poder público e podem ser de proteção integral ou de uso sustentável.
As 247 unidades criadas na região ao longo dos anos, que incluem parques nacionais, reservas extrativistas e florestas nacionais, ocupam 1,1 milhão de quilômetros quadrados, área maior que os territórios da Espanha e França.
O relatório aponta que há uma forte correlação entre a criação de unidades de conservação e a queda do desmatamento. Amostra apresentada de cinco unidades aponta que, após a criação delas, houve quedas de até 95% na área desmatada dentro da unidade nos anos seguintes à implantação. Dos 15 mil quilômetros quadrados de desmatamento registrado na região entre 2008 e 2012, apenas 6% foram dentro das unidades.
O trabalho aponta, contudo, que essas unidades não têm tido a atenção necessária pelos governos após a sua criação. Das 107 unidades federais, 62 ainda não têm plano de manejo, sendo que algumas dessas foram criadas há mais de 20 anos. O plano de manejo define a forma como a unidade pode ser explorada.
A falta de um plano de manejo dificulta, por exemplo, a visitação a Parques Nacionais na região, segundo o relatório. O trabalho aponta que em 2011 apenas 2 mil pessoas visitaram parques na região amazônica devido à falta de condições para receber turistas neles.

RANKING
O trabalho analisou 14 indicadores em cada uma das 247 unidades da região (que incluem as 107 criadas pelo governo federal e 140 estaduais) e elaborou um índice com notas de 1 a 3 relativo à qualidade da implementação e funcionamento dessas unidades após a sua criação.
De acordo com o levantamento, apenas oito unidades estariam atuando de forma adequada, sendo sete delas federais. Houve 117 unidades classificadas como com notas intermediárias; e 75 delas foram classificadas como de baixa implementação, sendo 18 federais.
Entre os itens analisados nas pesquisas feitas por questionários ou por visitas aos locais, os técnicos analisaram o número de servidores, por exemplo. Descobriram que há 62 unidades federais com até dois funcionários, sendo seis delas sem nenhum funcionário designado.
O relator do processo, ministro Weder de Oliveira, determinou ao ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), órgão responsável pelo gerenciamento das áreas de conservação e ligado ao ministério do Meio Ambiente, para que faça os planos de manejo dos parques e que inicie programas para incentivar o turismo nos parques nacionais.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Conferência do Clima termina com resultados duvidosos



por Fabiano Ávila, do CarbonoBrasil
cop1945ss 300x214 Conferência do Clima termina com resultados duvidosos
Foto: Portal oficial da COP 19
Os avanços no REDD, o estabelecimento do Mecanismo de Varsóvia e a decisão de os países terem que apresentar metas de emissão até 2015 não são suficientes para tirar a imagem de fracasso da COP 19
Um episódio bem no final da 19ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da Organização das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 19 – UNFCCC) ilustra perfeitamente por que essas negociações internacionais são tão difíceis e frustrantes.
Já era tarde de sábado (23) – a COP 19 estava prevista para acabar no dia 22 – e os países ainda discutiam o texto sobre “Perdas e Danos”, em especial o estabelecimento do Mecanismo de Varsóvia, que visa disponibilizar recursos para as nações impactadas pelas mudanças climáticas.
O ponto de discussão era a palavra “under” (sob), que indicava que o novo mecanismo deveria ficar sob a Estrutura de Adaptação de Cancún. Ou seja, uma ferramenta que tem como objetivo ressarcir localidades que tiveram prejuízos com eventos climáticos extremos, por exemplo, estava sendo considerada uma ação de adaptação. Isso não faz o menor sentido, uma vez que adaptação é uma prevenção e deve ser feita antes de qualquer chance de prejuízo.
Assim, nações em desenvolvimento queriam que essa parte do texto fosse alterada. Mas boa parte dos países mais ricos não. E por que não queriam mudar? Porque muitos deles já têm recursos destinados para a Estrutura de Adaptação, e preferem apenas realocá-los para o novo mecanismo a se comprometerem com outros financiamentos.
Depois de quase uma hora de discussão, prevaleceu a vontade dos Estados Unidos, Austrália, Canadá e Japão, e o “under” permaneceu. Tudo o que as nações em desenvolvimento conseguiram foi a promessa de que esse texto será revisto em 2016.
Esse exemplo de como funciona as negociações, brigando por cada palavra, cada vírgula, demonstra a falta de confiança entre as delegações e representa por que toda a COP acaba sendo um processo lento e penoso.
A COP 19 foi tão devagar e sem perspectivas que as organizações da sociedade civil que acompanhavam o evento decidiram abandoná-lo antes do fim, como uma forma de protesto.
“A COP 19 foi uma farsa. Era para ser sobre o aumento dos cortes das emissões, mas o que vimos foi o oposto – o Japão diminuiu sua meta, a Austrália desistiu de suas políticas climáticas e o Brasil apresentou aumento de 28% no desmatamento. Além disso, os países ricos falharam, não cumpriram suas promessas de disponibilizar financiamento climático de longo prazo”, afirmou Kumi Naidoo, diretor executivo do Greenpeace.
“Avanços”
No entanto, é preciso reconhecer que alguns fatos novos acabaram surgindo na COP 19, apesar de ainda existirem muitas dúvidas sobre seus reais benefícios.
O já mencionado Mecanismo de Varsóvia é um deles. Porém, a ferramenta decepciona não apenas por ser classificada como de adaptação, mas também porque o texto final não traz obrigações para contribuições. (Publicaremos uma reportagem à parte sobre esse assunto em breve).
A Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação de Florestas (REDD) talvez tenha sido o assunto com mais progresso na COP 19. Foram criadas novas formas de financiamento, assim como regras de monitoramento e verificação.
Com relação às metas de redução de emissões, ficou acertado que todos os países deverão apresentar as suas até o primeiro semestre de 2015. Assim, a COP 21, em Paris, contará com essas informações para estabelecer o novo acordo climático global.
Outro ponto positivo foi o aumento da capitalização do Fundo de Adaptação. Países europeus doaram mais US$ 72,5 milhões, e agora a ferramenta conta com US$ 157 milhões que serão destinados para programas e projetos de adaptação climática.
“Tivemos progressos essenciais. Mas precisamos deixar claro que estamos vendo cada vez mais eventos climáticos extremos, e os pobres e vulneráveis estão pagando o preço”, disse Christiana Figueres, secretária-executiva da UNFCCC.
Os representantes dos Estados Unidos e da China concordam que foram feitos progressos, mas não o suficiente.
“O novo texto é, em nosso julgamento, melhor que o antigo. Ainda não resolve todas as questões e poderia ter uma linguagem mais forte, mas é um passo à frente”, disse Todd Stern.
“Existem muitos pontos com os quais não estamos satisfeitos, mas que podemos aceitar. Olhando superficialmente, parece que assuntos como ‘Perdas e Danos’, financiamento e o caminho para o acordo de 2015 estão resolvidos, mas na verdade não estão. No fim, todos os países em desenvolvimento saíram desapontados”, declarou Xie Zhenhua.
A Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS) lembrou que a COP 19 começou sob a pressão do super tufão Haiyan, que assolou as Filipinas, e que nem assim conseguiu avançar de forma significativa.
“A ciência, as tempestades e o sofrimento estão gritando por ações urgentes. Apesar de ser tarde para as comunidades devastadas nas Filipinas, podemos evitar que essas tragédias aconteçam no futuro se agirmos agora”, afirmou Marlene Moses, embaixadora da AOSIS.
No fim, a COP 19 se destaca na história das conferências do clima como sendo aquela em que a vontade política mais ficou distante das evidências científicas e dos apelos das nações mais vulneráveis.
“Poucos países podem deixar Varsóvia de cabeça erguida. Testemunhamos uma corrida para o fundo do poço nessa negociação e são os pobres do planeta que perderam mais”, concluiu Winnie Byanyima, diretor da Oxfam.
Veja aqui os documentos finais da COP 19
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil) 

Fonte: http://envolverde.com.br/ambiente/conferencia-clima-termina-com-resultados-duvidosos/

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Polêmicas no povoamento da América

* Reinaldo Lopes

Uma das pesquisas antropológicas mais intrigantes dos últimos tempos saiu na revista “Nature” e foi coberta por este escriba que vos fala em reportagem desta semana na Folha. Em resumo (dá pra ter uma ideia do teor da pesquisa vendo também o infográfico abaixo), o estudo dinamarquês, coordenado por Eske Willerslev, sugere a contribuição de dois grupos populacionais humanos bem distintos para a formação dos atuais grupos indígenas americanos, ou ameríndios, tudo isso a partir do genoma de siberianos da Era do Gelo. É algo que lembra bastante a tese defendida há décadas por Walter Neves, bioantropólogo da USP que foi responsável por levar ao estrelato a hoje célebre “Luzia”, esqueleto de 11 mil anos achado em Lagoa Santa (MG) com traços “negros”, assim como toda a população que vivia na Lagoa Santa pré-histórica. A diferença é que o novo estudo aponta semelhanças entre ameríndios e europeus pré-históricos.
Falei com alguns dos principais estudiosos do tema no Brasil para tentar entender o que os achados significam. Como nunca é possível colocar toda a riqueza de informações dessas entrevistas na edição impressa do jornal, trago pra vocês abaixo o que cada um deles me disse, na íntegra, por e-mail. São cientistas que colaboram justamente nessa área de povoamento da América, daí as referência a “nosso grupo” nas respostas.
Fabrício Rodrigues dos Santos, geneticista e professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)
“Oi Reinaldo,
Estou em trabalho de campo, saindo agora mesmo… mas há duas semanas eu estava lá no laboratório do Eske Willerslev na Dinamarca e tinha recebido o PDF do artigo para um comentário no ‘NY Times’ junto com um colega que está aqui conosco, o Theodore Schurr.
Ele retorna muito ao ponto que levantamos em nosso artigo de 1999 desta conexão da área do lago Baikal e montes Altai com o povoamento da América.
Fluxo gênico/admixture [ou seja, mestiçagem entre populações] tem sido levantado como um fator importante na formação desta população eurasiana e no povoamento da América, mas acho que é melhor contextualizar que este é um evento demográfico de 25 mil anos atrás… por exemplo, eles ressaltam muito o fato de Mal’ta [o menino estudado na pesquisa] ter cromossomo Y (R1) e mtDNA (U5) que ocorrem na Europa, mas essas linhagens ainda ocorrem na mesma localidade, junto com outras que são as comuns entre nativos americanos.
A importância deste artigo é comprovar com dados genômicos de DNA antigo que a rota de colonização pela Eurásia Central, como já havia sido indicado por Marta Lahr e outros, também tem evidência genética, não só morfológica. E que esta deve estar ligada com o primeiro povoamento da América, com indivíduos não diferenciados (não mongólicos) e que subsequentes características mongólicas foram adquiridas via fluxo gênico, principalmente de populações do leste asiático…
Infelizmente, eles são da área de genômica e não têm o histórico de trabalhar com o povoamento da América, portanto ignoram muito da literatura que já mencionava estes eventos… mas é uma demonstração do que está por vir, já que o sequenciamento dessas amostras antigas está se tornando realidade, quem sabe conseguem o genoma de indígenas pré-colombianos…”
Rolando González-José, biólogo do Centro Nacional Patagônico, na Argentina.
“Oi Reinaldo!
Como vai? Muito obrigado por me consultar sobre isso. Minhas opinião sobre esses resultados é que, de algum modo, eles confirmam que os primeiros nativos americanos provêm de um estoque populacional euroasiático com características biológicas (genéticas e morfológicas) basais para nossa espécie. Quer dizer, o menino de Mal’ta tem marcas genéticas basais, que acabariam dando origem tanto aos europeus quanto aos ameríndios.
Isso não implica que tenha havido duas “ondas” migratórias para a América, mas sim que a maneira mais parcimoniosa de interpretar esses resultados é que existiu um estoque ancestral com alto grau de diversificação genética e morfológica, que depois se especializou (ou derivou) rumo a características genéticas e morfológicas mais particulares em distintas regiões do globo, inclusive na América. Um cenário de alta diversidade ancestral, expandindo-se sem competidores, e depois ficando mais derivada nos extremos da distribuição geográfica, é algo esperável no marco da teoria da genética populacional. Além disso, está em acordo com nosso cenário do povoamento americano que publicamos em 2008 e que vamos republicar na revista ‘PNAS’ em breve.” 
Maria Cátira Bortolini, geneticista e professora da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Oi Reinaldo, sigo na mesma linha de observações dos colegas. As conexões entre nativos americanos e a Eurásia já tinham sido detectadas com estudos do cromossomo Y e agora ganham reforço com esse belo trabalho com um genoma completo de uma amostra arqueológica/paleontológica. Na época em que viveu o menino de Mal’ta, padrões morfológicos heterogêneos e não diferenciados (não havia ainda o tipo “mongoloide”) e linhagens de mtDNA e Y basais são esperados na Eurásia.
A parada na Beríngia [ponte de terra entre a Sibéria e a América, hoje submersa] e a evolução autóctone dentro da América traz novos padrões. Além disso, migrações e fluxo gênico subsequentes ao fim da Beríngia também explicam a chegada de morfologias derivadas, como é o caso do tipo “mongoloide” entre os esquimós na América do Norte.
O que os dados recentes vêm fornecendo sobre esse fantástico evento migratório (colonização da América) é que foi algo complexo e que não se pode pretender entendê-lo sem uma abordagem interdisciplinar. Tendo isso em mente o panorama torna-se mais fácil de ser entendido.”
Sandro Luis Bonatto, professor do Centro de Biologia Genômica e Molecular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
“Grande Reinaldo,
Obrigado pela oportunidade de comentar este artigo.
Vou tentar acrescentar alguma coisa em relação ao que meus colegas já disseram.
Primeiro, eu acho que o artigo é forçado em relação a algumas conclusões mais específicas (os resultados não são tão claros quanto eles dizem). O objetivo foi focar o artigo em uma área ‘hot’, povoamento da América, e para ter mais publicidade eles tinham de ter alguma conclusão ‘diferente’, e para isso eles forçaram a mão em várias conclusões.
Concordo com os colegas que de modo geral os resultados e conclusões do artigo são bastante compatíveis com nosso modelo, mais do que com qualquer outro modelo (dois componentes do grupo do Walter, três migrações independentes etc.), e eu diria, inclusive, mais do que com o modelo dos próprios autores.
Por exemplo, na afirmação que você comentou, que está no resumo do artigo: ‘O fluxo gênico da linhagem MA-1 [a do menino de Mal'ta] poderia explicar porque vários crânios dos primeiros americanos parecem ter características morfológicas que não lembram as dos habitantes do leste da Ásia’.  Primeiro, como o Rolando comentou, esta não é a melhor explicação. Como os trabalhos do Rolando e os nossos já mostram, a simples evidência de que o povoamento da Beríngia se deu antes de 18 mil anos atrás (basta ser antes de 15 mil) já explica isso. Simplesmente a morfologia dos atuais habiantes do leste da Ásia não existia nesta época, nem mesmo na população do leste da Ásia. Ela só surgiu depois.
Portanto, independente da origem última da população que tenha colonizado a América nesta época (com ou sem fluxo gênico), não poderia ter trazido uma morfologia que ainda não tinha surgido. Portanto, não é necessário de modo nenhum acrescentar um fluxo gênico ancestral para explicar isso. Então, o cenário deles implicado por essa afirmação (que a pop. nativa americana ancestral era majoritariamente de morfologia mongoloide e que a morfologia não mongoloide se explicaria pelo fluxo gênico da pop. de Mal’ta) é portanto completamente errado. Isso revela total desconhecimento deles sobre o assunto (ver abaixo).
O difícil, na verdade, é explicar como a morfologia mais mongoloide se infiltra na América bem posteriormente, uma hipótese sendo justamente o modelo de substituição, o segundo componente do Walter. Neste sentido, aliás, os resultados deles refutam mais uma vez esse modelo de dois componentes (mais especificamente, de uma segunda onda migratória recente do leste da Ásia que teria trazido a morfologia mongoloide e substituído as populações derivadas da primeira migração), pois em nenhum momento as populações ameríndias atuais se aproximam das atuais do lesta da Ásia, o que deveria ser o caso.
De novo, como o Rolando falou, a explicação óbvia e mais parcimoniosa é o inverso (o nosso modelo). A população que colonizou a Beríngia e a Europa pode ter sido derivada da pop. de Mal’ta, explicando a posição intermediária desta última. A similaridade ente Mal’ta e os nativos americanos é o que se espera entre ancestral-descendente, mas muito modificada por mais de 25 mil anos de deriva genética e algum fluxo gênico mais recente.
Nenhum dos autores é especialista no assunto, o que dá pra ver nas referências, pois sobre esse assunto uma grande parte é desatualizada ou fora de contexto ou já irrelevante. Se você olhar com atenção, algumas são nitidamente ridículas. Eles citam revisões de 10, 15 anos atrás para demonstrar a falta de consenso atual! Eles citam um artigo de 1999 do Goebel como referência para o que se sabe hoje sobre o povoamento!
Finalmente, tenho vários questionamentos sobre algumas decisões metodológicas que eles usaram.”
É isso, ciência é complicada, dá trabalho e envolve incerteza, gente. Mas é um bocado divertido ;-)

Reinaldo José Lopes é jornalista de ciência e autor do livro Além de Darwin

Bom Futuro: morte de policial mostra precariedade da Flona


Daniele Bragança

A morte do policial Pedro Luiz Souza Gomes, soldado da Força Nacional de Segurança, durante confronto com invasores da Floresta Nacional do Bom Futuro, em Rondônia, expôs a fragilidade da questão fundiária na região, que sofre com grilagem desde os anos 90. Em outubro do ano passado, a Justiça já havia determinado a desocupação imediata da área protegida.
O plano de desocupação previa a chamada sensibilização dos ocupantes e a execução da ordem de remoção das pessoas. Assim foi feito, porém a Bom Futuro sofreu nova invasão, detectada durante fiscalização no final do mês passado.
Nos dias 13 e 14 deste mês, armados com pedras, foices e facas, os manifestantes conseguiram frear a operação de reintegração de posse na Floresta Nacional. No conflito, foi morto o soldado da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, Pedro Luiz. Em seguida, os invasores deixaram o local por medo de represália. Pedro havia sido cedido há 2 meses à Força Nacional.
“Sobrevoamos o local e não encontramos ninguém, mas isso não descarta a possibilidade de estarem escondidos na mata”, explica Ronilson Vasconcelos, chefe de unidade de conservação na Floresta Nacional de Bom Futuro, em entrevista a ((o))eco por telefone.
A operação para evitar a ocupação de grileiros continua. Policiais militares estão patrulhando a Vila Pardo, local que já pertenceu à Floresta Nacional de Bom Futuro e foi desafetada em 2010, após anos de ocupação irregular e desmatamento.
Redução, ocupação e conflito

Tudo começou no dia 01 de novembro. Após denúncia de nova invasão, uma equipe formada por 2 fiscais e 9 policiais foi surpreendida por um grupo de cerca de 40 homens armados de foices e pedras. Em menor número, os fiscais negociaram a saída e se retiraram. Os invasores permaneceram na área.Criada em 1988 com 288 mil hectares, a unidade passou anos só existindo no papel. Em 2010, perdeu 65% de seu território, do qual restou 97 mil hectares. Foi na Vila Pardo, com cerca de 7 mil moradores, que aconteceu o confronto que resultou na morte do policial Pedro Luiz, no dia 14 de novembro.
“Numa total inversão de valores, quem teve que sair foi o poder público”, explica Ronilson.
Após o incidente, criou-se um comitê gestor de crise, formado por membros da Secretaria de Segurança Publica de Rondônia, ICMBio, IBAMA, Polícia Federal, Exército e Força Nacional. O comitê decidiu pela retirada dos novos invasores da área e lançou uma nova ofensiva.
A área foi sobrevoada por um helicóptero do Ibama, na terça-feira (12). Constatou-se um acampamento de cerca de 20 barracos de lona e um grupo entre 60 e 100 pessoas no local.
No dia seguinte (13), a equipe de fiscalização chegou ao local dentro da Floresta Nacional para desocupá-la. Eram 3 equipes formadas por 77 homens -- sendo 8 servidores do ICMBio, 4 servidores IBAMA, 8 Policiais Federais, 13 Policiais da Força Nacional, 14 Policiais da Policia Militar Ambiental de Rondônia, 2 Policiais da Policia Militar de Rondônia, 2 Bombeiros Militares de Rondônia e 26 Policiais da Companhia de Operações Especial de Rondônia/COE.
Os invasores se recusaram a sair e o clima esquentou. A polícia deteve 10 invasores e apreendeu 18 motocicletas. Os acampamentos provisórios de lona foram destruídos. A prisão e a apreensão das motos aumentou a tensão.
A tentativa da polícia de levar os detidos e as motos revoltou os invasores, que revidaram. De acordo com os policiais, eles obstruíram a estrada usando árvores e pedaços de madeira com pregos camuflados em poços de lama. Pontes foram destruídas. “Nos deparamos com barricadas de madeira em chamas e um grupo de aproximadamente 200 pessoas extremamente agressivas exigindo a soltura dos detidos, entrega das motocicletas e que a equipe não retornasse ao interior  da Unidade de conservação”, detalha Ronilson. Mesmo com a tentativa de bloqueio, todos os detidos e as motocicletas apreendidas foram encaminhadas à delegacia de polícia, em Porto Velho.
Enquanto a equipe seguia de carro, 2 policiais da Companhia de Operações Especiais de Rondônia foram monitorar os pontos de obstrução da estrada de motocicleta. No meio do caminho, cruzaram com um grupo de aproximadamente 25 invasores. Foram agredidos. “Um dos policiais atirou na perna de um dos invasores, que foi socorrido por uma viatura de resgate do Corpo de Bombeiros Militares de RO, que compunha nossa equipe”, disse Ronilson .
DSC07773Vista aérea das bases policiais depredadas em Vila Pardo. Foto: Divulgação.
Quase ao mesmo tempo, manifestantes atacaram uma base provisória de apoio logístico, instalada fora da Floresta Nacional. No local havia uma van, um caminhão e a viatura de resgate do Corpo dos Bombeiros. Um grupo formado por 25 pessoas colocou fogo no caminhão. Um policial foi perseguido com armas brancas e o outro foi atingido por um coquetel molotov. Os militares conseguiram fugir na van.
“Os policiais que estavam no quartel foram resgatados por colegas da Companhia de Operações Especiais. Às 5h30 da quinta-feira é que todas as equipes conseguiram voltar a base da Floresta Nacional e depois para Porto Velho”, explica Ronilson Vasconcelos, dessa vez por email.
Antes, a equipe da Força Nacional, composta por 20 policiais, foi acionada para dar apoio ao grupo que estava fazendo a desocupação e que ficou encurralado. A Força Nacional seguia para a Floresta Nacional de Bom Futuro  quando recebeu ordens para retornar, pois a equipe principal já tinha conseguido chegar à base. Ao passar pela Vila de Rio Pardo, houve confronto. Por volta de meio-dia o policial Pedro Luiz Souza Gomes levou o tiro que o matou.
“Sinceramente, não acredito que o grupo de pessoas que atacou nossa equipe seja constituído de agricultores e trabalhadores. Eles agiram como um grupo criminoso que emprega táticas de guerrilha e que despreza a sociedade e suas leis” disse Ronilson.
Para o chefe da Flona, a nova invasão aconteceu por boatos envolvendo o loteamento da unidade de conservação: “Os que foram presos relataram que estavam lá para tentar conseguir terras, uma vez que, nas cidades vizinhas à Floresta Nacional do Bom Futuro, estava sendo divulgado por terceiros que as terras da Unidade de Conservação seriam loteadas e distribuídas”, explica.
Floresta Nacional de Bom Futuro
Localizada há 180 quilômetros de Porto Velho, capital de Rondônia, a Floresta Nacional de Bom Futuro é um exemplo de Unidade de Conservação "de papel". Ela ainda não tem Plano de Manejo, apesar de ter sido criada há 25 anos.
Dispõe de 2 servidores para cuidar da área. O conselho consultivo está em fase de formação. “Continuamos com a intenção de formá-lo tão logo tenhamos passado essa problemática atual. Temos recursos de compensação ambiental a serem disponibilizados para a implementação da UC e planos para a recuperação das áreas degradadas (cerca de 13% dos seus quase 97 mil hectares)”, conclui Ronilson.
O governo retirou dos limites da Floresta Nacional às áreas degradadas onde já havia propriedades. Não foi o suficiente para manter a integridade da Floresta Nacional: novas invasões ocorreram seguidas de operações de reintegração.
Apesar do desfecho trágico do dia 14 e das sucessivas invasões, a equipe do ICMBio mantém a esperança de que a Floresta cumpra sua vocação: “Por mais que eu possa parecer um sonhador, a Floresta Nacional do Bom Futuro tem sim possibilidades de fazer jus ao seu nome”, afirma.