quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Produção de mel de abelha nativa começa a ser comercializada


((o))eco - 20/08/14

Abelha-jataiAbelhas Jataí trabalham na produção de mel. Foto: Wikipédia.
Cultivado na Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba, chega esse mês aos mercados o mel de abelha nativa sem ferrão Jataí, produto apreciado na gastronomia. A comercialização é uma conquista dos produtores da Associação de Criadores de Abelhas Nativas da APA de Guaraqueçaba (Acriapa), criada em 2007 com objetivo de aliar geração de renda e conservação da biodiversidade.
Desde o nascimento da associação, há 9 anos, a Acriapa contou com o apoio técnico da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) para produzir 60 kg de mel por ano. Na colônia, são retirados no máximo um quilo de mel por comunidade de abelhas.
“O que começou como um pequeno projeto de meliponicultura (criação de abelhas nativas sem ferrão) hoje está crescendo e se tornando uma cooperativa capaz de gerar renda aos produtores locais e contribuir com o turismo de base comunitária”, diz Sueli Alves dos Santos, secretária da cooperativa e da associação.
A criação de abelhas nativas sem ferrão, conhecida como meliponicultura, é uma atividade de baixo impacto ambiental, pois é um modo de produção que minimiza a derrubada de árvores, usadas para abrigar colméias.
Prontas pro mercado
Por enquanto, a comercialização do mel se dá por meio de garrafinhas de vidro de 65 gramas com o custo de 12 reais + frete (O mel pode ser adquirido através do e-mail acriapaguaraquecaba@gmail.com). Em breve o produto estará disponível disponível em lojas de produtos alimentícios.
Os produtores moram em Áreas de Proteção Ambiental (APA), nas reservas Morro da Mina, Rio Cachoeira (em Antonina) e Serra do Itaqui (em Guaraqueçaba). O trabalho de apicultura está sendo financiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e Pan American Development Foundation (PADF).
 Fonte: http://www.oeco.org.br/urbanoide/28578-producao-de-mel-de-abelha-nativa-comeca-a-ser-comercializada

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Por que pesquisadores cruzam animais de espécies diferentes?

Tatiana Pronin
Do UOL

Você já ouviu falar no "ligre", uma mistura de leoa e tigre? E que tal ir ao zoológico para ver um "zebralo", mistura de zebra com cavalo? Animais híbridos como esses vez ou outra são encontrados na natureza, ou surgem naturalmente em grupos de animais mantidos em cativeiro.
Em alguns casos, porém, são fruto de experimentos com o objetivo de estudar características genéticas ou gerar animais com algum tipo de vantagem para o ser humano. É o caso da mula (cruzamento de égua e jumento), o híbrido mais conhecido no Brasil: ela é mais resistente que as espécies que lhe deram origem, portanto tem sido útil como animal de carga.
Até que ponto cruzar espécies diferentes pode ter implicação ética? Em primeiro lugar, é importante ressaltar que os híbridos "acontecem" na natureza. A bióloga Vera Solferini, professora do departamento de Genética e Evolução da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), explica que isso ficou ainda mais claro com o uso de métodos moleculares em pesquisa.
"Sabemos que houve muitos cruzamentos na natureza, por exemplo, entre lobos e coiotes", afirma. "Em alguns casos, a zona híbrida se mantém. Em outros, os animais deixam de ser híbridos para se transformar em uma nova linhagem."
Ela relata que é comum cientistas cruzarem drosófilas, as moscas-da-fruta, para obter conhecimentos sobre genética, o que não gera consequências para o meio ambiente.
Já entre criadores de gado, é frequente o cruzamento de espécies para a geração de animais mais robustos, ou que oferecem mais leite, assim como há o melhoramento genético para obtenção de frutas e outros vegetais de melhor qualidade.  Isso pode ser feito simplesmente com a união em cativeiro de espécies que vivem em áreas diferentes, como o gado europeu e o indiano. Ou também pode ser realizado via inseminação artificial.

Nem todos são inférteis

Muitos animais híbridos são inférteis, como é o caso, famoso, da mula. Mas nem todos. E essa característica nem depende da proximidade entre as espécies. "O que determina é o número de cromossomos", explica o veterinário Carlos Alberto Muller, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). O número varia entre as espécies e é preciso que haja um par resultante.
Recentemente, um zoológico particular em Oklahoma, nos Estados Unidos, colocou um leão em contato com uma "ligre" (mistura de tigre e leão), que já vivia no local.Houve um cruzamento e a fêmea gerou os primeiros "liligres" de que se tem notícia, provando que nem todo híbrido é estéril. 
A fim de evitar equívocos, Carlos Alberto Muller lembra que o cruzamento entre raças diferentes, como cães, não configura hibridismo. Os cachorros resultantes são mestiços, mas são da mesma espécie. Mesmo o husky siberiano, que muita gente acredita ser um híbrido, é uma raça canina, apesar de estudos apontarem o lobo como seu antepassado.

Híbridos humanos?

Se há tantos exemplos de animais híbridos na natureza, por que não vemos misturas envolvendo humanos? Simplesmente porque não convivemos com espécies diferentes de hominídeos. Lembre-se que macacos, bonobos e gorilas são de gêneros e famílias diferentes, embora esses animais e os homens façam parte da ordem dos primatas.
Estudos genéticos têm mostrado, no entanto, que um grupo de Homo sapiens primitivo chegou a conviver com os Homo neanderthalensis. E, bem, parece que eles se entenderam e geraram descendentes férteis. Dois estudos científicos recentes mostram, inclusive, que é possível encontrar até 20% de genoma neandertal em humanos modernos. E o cruzamento pode ter sido vantajoso para a espécie atual, tanto que só ela sobreviveu.

Quimeras

Há alguns anos, circularam alguns textos na internet criticando a facilidade com que os cientistas podem criar híbridos de humanos e animais em laboratório. Um deles até acompanhava a imagem de uma escultura da artista plástica Patricia Piccinini, uma mulher-cadela amamentando seus filhotes. (será que tem essa imagem aí? seria bem legal para ilustrar. A exposição se chamava "We are family"http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u38585.shtml)
Existem experiências envolvendo quimeras em laboratório, mas nenhuma delas resultou em um ser vivo híbrido até hoje. Em 2003, cientistas da Shanghai Second University, na China, fundiram células humanas a óvulos de coelhos. Os embriões se desenvolveram por alguns dias, mas foram destruídos para a retirada de células-tronco. O mais provável é que acabassem morrendo mesmo.
Outro exemplo conhecido é de cientistas da Mayo Clinic, em Minnesota, nos EUA, que chegaram a criar porcos com sangue humano para estudos (e eles não ganharam nenhum atributo de gente por causa disso). Vale lembrar que indivíduos receberam válvulas cardíacas de porcos e, tecnicamente, também são uma mistura entre espécies.
Estudos em biotecnologia são caros e envolvem financiamento, o que, por sua vez, depende da aprovação de rigorosos comitês de ética. Uma coisa é criar uma quimera em laboratório. Outra, bem diferente, é um embrião formado a partir de células derivadas de seres geneticamente diferentes sobreviver. Pelo menos por enquanto, estamos livres de encontrar um minotauro ou uma criatura parecida andando na rua.
 
Fonte: http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2014/08/19/clique-cienciapor-que-pesquisadores-cruzam-animais-de-especies-diferentes.htm

sábado, 16 de agosto de 2014

Estudo revela frenesi alimentar das baleias-minke-antárticas

As baleias-minke-antárticas participam de um frenesi alimentar subaquático, enchendo suas enormes bocas até 100 vezes por hora enquanto engolem quilos e quilos de krill (crustáceo similar ao camarão), durante o verão, revelou uma nova pesquisa publicada nesta sexta-feira.
A Divisão Antártica Australiana revelou que esta foi a primeira vez que se registrou este comportamento alimentar dos animais debaixo do gelo marinho e o ritmo frenético da atividade foi inesperado.
"Ficamos realmente surpresos", explicou à AFP o chefe científico da divisão, Nick Gales.
"Foi incrível realmente testemunhar e ver o incrível número (de botes na comida) e a forma inteligente como conseguiram usar seu comportamento para explorar o krill debaixo do gelo marinho", acrescentou.
Como outras baleias, as minke avançam com suas bocas escancaradas para coletar a comida, capturando um enorme volume d'água que expelem posteriormente, enquanto mantêm os peixes dentro.
Enquanto a enorme baleia-azul faz apenas duas ou três destas investidas durante um mergulho para pescar, a minke, bem menor, pode repetir o procedimento mais de 20 vezes, às vezes com intervalos de 30 segundos.
"É bem difícil viver na Antártica, capturar uma presa e quando estes caras encontram a sua, trabalham incrivelmente duro", disse Gales.
Os registros foram possíveis graças a marcadores de satélite, instalados por cientistas australianos e americanos nos animais na costa oeste da Península Antártica, em 2013.
Os marcadores mediram a orientação, a profundidade e a aceleração das baleias, disse Gales, acrescentando que o estudo também revelou que o comprimento da minke, de cerca de 9 metros, permite a ela ter acesso sob o gelo a áreas que a baleia-azul, bem maior, não consegue chegar.
"A presa favorita da minke, o krill antártico, se agrega sob o gelo marinho e atrai as baleias para o local, causando estes frenesis alimentares", acrescentou Gales em um comunicado.

"Qualquer mudança futura no gelo marinho tem o potencial de impactar os hábitos alimentares das baleias-minke", disse.

Fonte: http://noticias.terra.com.br/ciencia/estudo-revela-frenesi-alimentar-das-baleias-minke-antarticas,2fb116fd2abd7410VgnCLD200000b1bf46d0RCRD.html

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Água e floresta merecem gestão de longo prazo


Suzana M. Padua - 14/08/14

ipe-DSCN1496Viaduto sobre a represa de Nazaré Paulista (Sistema Cantareira), antes com sua estrutura de colunas coberta de água até uma altura elevada, agora bem abaixo do normal. Foto: Lizandra Mayra/IPÊ
A água agora está na mídia. Na verdade, é a falta de água que está ocupando os meios de comunicação como nunca antes. Pena deixar chegar a um ponto tão crítico antes dos gestores tomarem providências à altura da importância desse elemento vital. Como vamos fazer sem água?
Proteger a água é mais complexo do que se pensa. Ao ouvir uma palestra de Silvio Ferraz, professor de hidrologia da ESALQ (USP de Piracicaba), vários pontos me chamaram a atenção. Por exemplo, água e floresta estão interligados, o que parece óbvio, mas ambos se modificam em decorrência de fatores ambientais e antrópicos. Mesmo com muita água doce disponível na maior parte das regiões brasileiras, os centros urbanos consomem cada vez mais, e o que é distribuído pode não ser suficiente.
Floresta não produz água, mas ajuda na sua regulação e mantém todo o sistema vivo em equilíbrio: a qualidade do ar, do solo e seus nutrientes, e a própria água depende das matas que protegem os mananciais. Quando se planta árvores, estas também consomem água, principalmente durante a fase de crescimento. Mas é a médio e a longo prazo que seus efeitos benéficos são percebidos e os resultados se manifestam localmente e não em escala macro. Esses fatores certamente dificultam as decisões políticas de se plantar ou proteger as florestas que ainda existem, pois os benefícios podem demorar mais para serem percebidos do que o tempo dos mandatos.
O sofisticado papel das florestas
"As árvores servem como filtros naturais no processo hidrológico, e seus efeitos são percebidos conjuntamente, em florestas, e não isoladamente."
A floresta não retém a água da chuva, pois a maior parte passa por ela e cai sobre o solo, de onde as árvores tiram seu sustento. É o solo que age como uma esponja. Quando há árvores, a água das chuvas penetra no solo de maneira bem diferente de quando a vegetação foi suprimida. Na verdade, as florestas exalam água em sua transpiração, ou evapotranspiração. É aí que ajudam a preservar o sistema, pois retroalimentam o ambiente com a água que captam pelas suas raízes. E o mais fascinante é que cada espécie tem características distintas, não só na sua aparência ou na quantidade de sua evapotranspiração, mas também na profundidade em que as raízes buscam a água que necessitam para se manterem. Ou seja, o sistema funciona quando a natureza não foi interceptada de forma abrupta.
ipe-DSCN1504Represa do Sistema Cantareira, na região de Nazaré Paulista, comipe-DSCN1505Foto: Lizandra Mayra/IPÊ
As árvores servem como filtros naturais no processo hidrológico, e seus efeitos são percebidos em conjunto, nas florestas, e não isoladamente. Existem variações e muito está relacionado a onde as matas se encontram. Por exemplo, em encostas, as florestas têm uma função especialmente importante, por evitam deslizamentos de terra e perda do solo fértil. Mas, a floresta ripária, aquela encontrada em torno de cursos d'água, nem sempre é fácil de ser recuperada quando destruída, por conta das adaptações das espécies arbóreas de períodos de cheias a de vazantes, que em muitas regiões varia bastante. O replantio dessas áreas exige técnica, paciência e persistência, o que a natureza tem de sobra, enquanto nós conhecemos apenas indícios do que é necessário, além é claro da falta de vontade política.
Na natureza, quando uma árvore cai ou morre, abre lugar para outras que aguardavam o sol e o espaço para crescerem. Mas, quando o plantio, mesmo de árvores diferentes é simultâneo, as necessidades são similares e em grandes proporções. Mais cuidado ainda deve ser tomado com as monoculturas, que exigem o mesmo elemento concomitantemente e em grandes quantidades. Daí a importância de um manejo bem planejado, que pode reduzir impactos e prevenir desastres ambientais. O Prof. Ferraz chega a afirmar que as florestas ajudam na regulação hidrológica, mas em termos práticos, o manejo das áreas agrícolas pode ser mais eficiente para a gestão da água, já que hoje predominam na superfície do território brasileiro.
Bacias hidrográficas
"a estiagem prolongada que vivemos agora não é a única razão da crise de água em que se encontra a região de São Paulo"
Não é simples manter uma bacia hidrográfica em boas condições, pois são muitos os cenários que ocorrem ao mesmo tempo. Por exemplo, tem gente e cidades, agricultura em pequena ou grande escala, criação de animais, indústrias, e assim por diante, cada um demandando elementos da natureza que nem entram na contabilidade cotidiana. Mas, as florestas acabam sendo afetadas e em geral recebem toda a responsabilidade do que acontece com a água. O ideal é que o sistema fosse monitorado cuidadosamente, tanto o rural quanto o urbano, o que raramente acontece. E, sem um manejo adequado, espera-se muito mais das matas ciliares do que elas dão conta de suportar. Além disso, as práticas humanas são com frequência devastadoras – queimadas nas plantações de cana de açúcar, por exemplo, ou loteamentos desregrados. Todas as práticas têm consequências, sendo que a maioria das pessoas e mesmo da mídia não percebe a ligação entre o que causou desastres ambientais como deslizamentos de terra ou agora a falta de água, com as ações humanas anteriores. O fato é que a estiagem prolongada que vivemos agora não é a única razão da crise de água em que se encontra a região de São Paulo.
O argumento "plantar floresta" pode ser sedutor, mas deve ser usado com cautela, principalmente quando se pretende retirar as florestas antigas para replantar novas. Uma floresta madura oferece todos os serviços ambientais em seu ápice de qualidade, enquanto que o replantio em muitos aspectos exige mais do que oferece num primeiro momento. Por isso não se deve trocar florestas antigas por novas. Deve-se sim, plantar florestas novas protegendo as antigas, e analisar os dados sobre reflorestamento com essa perspectiva.
Perdas do novo Código Florestal
ipe-foto-2Represa do Sistema Cantareira, na região de Nazaré Paulista, comipe-foto-3Foto: Fernanda Pereira/IPÊ
"As áreas alagadas de várzeas, se não forem cobertos de florestas, causam danos aos rios (...) Por serem as mais produtivas, o proprietário nem sempre quer reflorestar "
Outros aspectos impactam a qualidade das florestas. Por exemplo a distância entre os fragmentos de matas ou a conexão entre eles influenciam os serviços ambientais que oferecem. Áreas que alagam muitas vezes são favoráveis a reflorestamento, mas não são protegidas pelo Código Florestal. Nesse sentido, as Áreas de Preservação Permanente (APPs) de 30 metros, como regia o antigo Código, ajudariam muito se tivessem sido levadas a sério, mas essa exigência caiu na nova lei. As áreas alagadas de várzeas, se não forem cobertos de florestas, causam danos aos rios, que acabam sendo assoreados e ainda recebem os aditivos agrícolas usados nas culturas locais que acabam na água. Por serem as mais produtivas, o proprietário nem sempre quer reflorestar, e quem acaba sofrendo é a água. Por isso, o planejamento deve também existir para as florestas e um estudo da paisagem, mesmo que complexo de ser implementado, deve ser contemplado na gestão de uma região.
Com as mudanças climáticas, os ciclos naturais estão mais desregulados. Se por um lado tudo acontece rapidamente, o planejamento passa a ser visto como secundário porque adota-se a postura de "apagar incêndios". É o que está ocorrendo em São Paulo, e é visível no Sistema Cantareira. Falta planejamento, falta assumir responsabilidades, falta vontade política. Muitos técnicos acreditam que obras resolvem. Com certeza engordam os bolsos de alguns, mas a questão é complexa e só obra é insuficiente para se enfrentar os desafios atuais. O fato é que assistimos a um triste cenário com perspectivas assustadoras que a maioria ainda não percebeu. São Paulo está sem água. Ano eleitoreiro piora a percepção e parece colocar tapa-olhos nos tomadores de decisão e candidatos. E, claro, existem resistências de se planejar a longo prazo porque os resultados podem não aparecer num mandato governamental, ou na gestão de um administrador. Uma lástima, porque mais uma vez a vida é colocada em um segundo plano em detrimento a interesses pessoais.
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Adendo:
Uma vez que a sede principal do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas se localiza às margens do Rio Atibainha, em Nazaré Paulista, estamos iniciando uma campanha De Olho no Cantareira. A ideia é monitorar as condições do reservatório com a participação de um público amplo, que pode postar fotos ou vídeos do que vê nas represas e rios que sofrem com a seca e com os desmatamentos (hashtag #olhonocantareira). Este é um meio de tornar pública a preocupação das pessoas com relação ao abastecimento e a conservação das áreas ao redor dos mananciais - um alerta para a necessidade da proteção dos recursos hídricos, incentivando a redução do consumo pelos cidadãos, bem como a tomada de decisões urgentes para o combate ao desperdício e para investimentos em melhorias da gestão hídrica pelo poder público.
O IPÊ irá monitorar esses materiais e compartilhará em suas redes sociais – FacebookTwiter e Instagram. Além desses canais, os registros serão divulgados na página do IPÊ e no hotsite do projeto Semeando Água.

Fonte: http://www.oeco.org.br/suzana-padua/28568-agua-e-floresta-merecem-gestao-de-longo-prazo

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Estudo revela que golfinhos guincham de contentamento


Os golfinhos costumam guinchar quando ganham um peixe, emitindo um som que lembra o de crianças brincando felizes.
Para cientistas americanos, autores de um estudo publicado nesta quarta-feira, estes ruídos não são apenas formas de sinalizar a outros indivíduos do grupo de que há comida nos arredores, mas expressões de puro contentamento.
A razão pela qual o som que os cetáceos produzem indica prazer é que ele combina com o tempo que o cérebro leva para liberar o hormônio dopamina.
O estudo, publicado no Journal of Experimental Biology, foi chefiado por Sam Ridgway, da Fundação Nacional de Mamíferos Marinhos de San Diego, Califórnia.
Ridgway e seus colegas trabalharam com golfinhos nariz-de-garrafa e baleias beluga, treinando-os para repetir comportamentos e os recompensaram com peixes.
Um estudo anterior, usando estímulos elétricos e química cerebral demonstrou que ratos e primatas têm sistemas de recompensa que envolvem neurônios produtores de dopamina.
Experiências feitas com um golfinho nos anos 1950 demonstraram que os animais também têm neurônios dopaminérgicos em áreas de recompensa de seus cérebros e que eles vocalizam depois que seu cérebro é estimulado.
Os cientistas analisaram anos de gravações de suas próprias pesquisas com golfinhos e belugas.
Eles descobriram que o intervalo entre a experiência prazerosa - a recompensa ou a expectativa da recompensa - foi apenas um pouco mais longo do que o tempo que leva para liberar a dopamina, normalmente cerca de 100 milissegundos.
 "Os golfinhos desfrutam, em média, de 151 milissegundos de tempo extra para esta liberação, enquanto as belugas aproveitam de um intervalo de cerca de 250 milissegundos", disse Ridgway.
"Acreditamos que (o guincho) tem um conteúdo emocional", continuou.

Pelo fato de golfinhos e belugas "serem animais altamente vocais, a personalidade, o ritmo e o contexto de seus sons podem revelar mais sobre seus estados emocionais e sobre a função de seus sons na comunicação", concluiu o estudo.

Fonte: http://noticias.terra.com.br/ciencia/estudo-revela-que-golfinhos-guincham-de-contentamento,3ccc1471781d7410VgnCLD200000b1bf46d0RCRD.html

Orca viva encalha em praia de Anchieta, Sul do ES


Animal tem cerca de cinco metros de comprimento e está doente. 
O bicho, que é da família dos golfinhos, foi avistado por populares.

Naiara ArpiniDo G1 ES
Baleia Orca foi avistada por populares (Foto: Divulgação/ Ipram)Baleia Orca foi avistada por populares (Foto: Divulgação/ Ipram)
Uma Orca de aproximadamente cinco metros de comprimento encalhou na praia da Boca da Baleia, em Anchieta, no Sul do Espírito Santo, na manhã desta quinta-feira (14). O animal, que é da família dos golfinhos, foi avistado por populares que passavam pelo local e acionaram os órgãos ambientais. Segundo a CTA Meio Ambiente, a Orca está viva, mas doente.
O animal foi avistado por volta das 9h30. Ele está há aproximadamente três metros da linha do mar e populares que estão no local tentam mantê-lo vivo jogando baldes com água no mamífero. Uma espécie de vala também está sendo aberta na areia para que água do mar chegue até o golfinho.
O bicho já está sendo atendido por veterinários do CTA. Equipes do Instituto de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos (IPRAM) e uma unidade de atendimento móvel estão à caminho do local. O atendimento e tratamento da baleia será feito na praia.
Em entrevista ao jornal A Gazeta, o diretor do Instituto Orca, Lupércio Araujo, disse que é a primeira vez em 30 anos de profissão que ele vê uma Orca encalhar no litoral do Estado. "Em 30 anos trabalhando com estes animais (marinhos) é a primeira vez que vejo uma Orca no Estado", comentou.
Populares ajudam a manter animal vivo até chegada de órgãos ambientais (Foto: Aline Souza/ TV Gazeta)Populares ajudam a manter animal vivo até chegada de órgãos ambientais (Foto: Aline Souza/ TV Gazeta)
Fonte: http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2014/08/baleia-orca-viva-encalha-em-praia-de-anchieta-sul-do-es.html

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Fernando de Noronha instala usina de energia solar







Reconhecida pela Unesco como Patrimônio Mundial Natural, Fernando de Noronha, arquipélago de Pernambuco, inaugura sua primeira usina solar fotovoltaica. Localizada em um terreno de cinco mil metros quadrados, terá potência instalada de 400 kWp (quilowatt-pico) gerando cerca de 600 MWh/ano, equivalente a 4% do consumo da ilha.
Com investimento de cinco milhões de reais, a Usina Solar Noronha I do Grupo Neoenergia é composta por 1.644 painéis de silício policristalino. A operação foi realizada por meio do Programa de Eficiência Energética da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe).
Até então, todo o abastecimento da ilha era proveniente da Usina Termelétrica Tubarão. A utilização da radiação solar como fonte renovável de energia, reduzirá o consumo em cerca de 200 mil litros de óleo diesel por ano. Após o período de um ano, a usina será doada ao Governo Federal, que terá uma economia superior a R$ 100 mil/ano referente ao consumo de energia.

Noronha II
Além da Usina Solar Noronha I, a ilha receberá também uma nova unidade solar fotovoltaica. Concebido pela parceria entre a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Sectec), e a Celpe, o projeto de Eficiência Energética ampliará o parque de energia renovável no arquipélago.
Os painéis fotovoltaicos da Usina Solar Noronha II serão instalados sob uma área de concreto de oito mil metros quadrados, pertencente ao Governo do Estado. O sistema que converte a radiação solar em energia elétrica terá potência instalada de 500 kWp, vai gerar cerca de 777 MWh/ano - o que corresponde a 6% do consumo da ilha. A energia produzida será injetada na rede de distribuição da concessionária.
Com a entrada em operação das usinas solares fotovoltaicas, o sistema elétrico de Fernando de Noronha será monitorado com o objetivo de definir a melhor estratégia para maximizar a geração renovável. A previsão é que a Usina Solar Noronha II entre em operação no primeiro semestre de 2015.

Fonte: http://ciclovivo.com.br/noticia/fernando-de-noronha-instala-usina-de-energia-solar

Abelhas vigiadas



por Dinorah Ereno, da Agência Fapesp
abelha Abelhas vigiadas
Zangão da espécie Apis mellifera africanizada com microssensor colado no tórax. Foto: Vale/CSIRO
Revista Pesquisa Fapesp – A população de abelhas registra um expressivo declínio em vários países, inclusive no Brasil. Em agosto do ano passado, a revista Time trazia na capa um alerta para o risco de desaparecimento das abelhas melíferas, com a chamada “O mundo sem abelhas” e o alerta: “O preço que pagaremos se não descobrirmos o que está matando as melíferas”.
O desaparecimento das fabricantes de mel preocupa não só pela ameaça à existência desse produto, mas também porque as abelhas têm chamado a atenção principalmente pelo importante papel que representam na produção de alimentos. Não é para menos. Elas são responsáveis por 70% da polinização dos vegetais consumidos no mundo ao transportar o pólen de uma flor para outra, que resulta na fecundação das flores.
Algumas culturas, como as amêndoas produzidas e exportadas para o mundo inteiro pelos Estados Unidos, dependem exclusivamente desses insetos na polinização e produção de frutos. A maçã, o melão e a castanha-do-pará, para citar alguns exemplos, também são dependentes de polinizadores.
Entre as prováveis causas para o desaparecimento das abelhas estão os componentes químicos presentes nos neonicotinoides, classe de defensivos agrícolas amplamente utilizados no mundo.
Além de pesticidas, outros fatores, como mudanças climáticas com maior ocorrência de eventos extremos, infestação por um ácaro que se alimenta da hemolinfa (correspondente ao sangue de invertebrados) das abelhas, monoculturas que fornecem pouco pólen como milho e trigo e até técnicas para aumentar a produção de mel, podem ser responsáveis pelo fenômeno conhecido como distúrbio de colapso de colônias (CCD, na sigla em inglês), que provoca a desorientação espacial desses insetos e morte fora das colmeias. O distúrbio já provocou a morte de 35% das abelhas criadas em cativeiro nos Estados Unidos.
Na busca por respostas que ajudem a combater o problema, o Instituto Tecnológico Vale (ITV), em Belém, no Pará, desenvolveu em colaboração com a Organização de Pesquisa da Comunidade Científica e Industrial (CSIRO), na Austrália, microssensores – pequenos quadrados com 2,5 milímetros de cada lado e peso de 5,4 miligramas –, que são colados no tórax das abelhas da espécie Apis mellifera africanizada (abelhas com ferrão resultantes de variedades europeias e africanas) para avaliação do seu comportamento sob a influência de pesticidas e de eventos climáticos. Uma parte do experimento está sendo conduzida na Austrália e a outra no Brasil.
No estado australiano da Tasmânia, ilha ao sul do continente da Oceania, será feito um estudo comparativo com 10 mil abelhas para avaliar como elas reagem quando expostas a pesticidas. Para isso, duas colmeias foram colocadas em contato com pólen contaminado e outras duas não. “Se for notada qualquer alteração no comportamento dos insetos expostos ao pesticida, como incapacidade de voltar para a colmeia, desorientação ou mesmo morte precoce, o produto passará a ser o principal suspeito do distúrbio de colapso de colônias”, diz o físico Paulo de Souza, coordenador da pesquisa e professor visitante do ITV.
O projeto foi iniciado em setembro do ano passado e seu término está previsto para abril de 2015, com a divulgação dos resultados no segundo semestre. “A principal razão para a escolha da Tasmânia é que se trata de um ambiente distinto, onde não há poluição e metade do território é composta por florestas”, diz Souza, que também é professor da Universidade da Tasmânia.
Como as melíferas australianas pesam em torno de 105 miligramas, o sensor representa cerca de 5% do seu peso. Já as abelhas da mesma espécie que vivem no Brasil pesam cerca de 70 miligramas – o que levou os pesquisadores a fazerem testes em túneis de vento para avaliar se o sensor poderia ter influência sobre a sua capacidade de voo. “Avaliamos a batida das asas e a inclinação do corpo em abelhas com o sensor e sem ele, e verificamos que não houve alteração na capacidade de voar”, diz Souza.
A parte do experimento que está sendo feita no Brasil tem como foco inicial o monitoramento de 400 abelhas durante três meses para avaliar em que medida as mudanças do clima, principalmente a alteração do regime de chuvas na Amazônia, afetam os insetos.
“Não sabemos como elas vão se comportar diante das projeções de aumento da temperatura e de alterações no clima devido ao aquecimento global”, diz Souza. Os estudos estão sendo feitos em um apiário no município de Santa Bárbara do Pará, próximo a Belém.
Leia a reportagem completa aqui.
* Publicado originalmente no site Agência Fapesp.
(Agência Fapesp) 

Fonte: http://envolverde.com.br/ambiente/abelhas-vigiadas/

Guia de Sinalização de Trilhas, por Pedro da Cunha e Menezes


Paulo André Vieira - 12/08/14

http://sinalizetrilhas.wikiparques.org.br/wp-content/themes/trilhas/images/sinalizetrilhas.png
Com exemplos colhidos em cerca de duas centenas de unidades de conservação em quase 50 países, oWikiParques está lançando hoje, como parte das comemorações do aniversário de 10 anos de ((o))eco, o Guia Prático de Sinalização de Trilhas. Escrito por Pedro da Cunha e Menezes, especialista em Unidades de Conservação urbanas e ex-diretor de Criação e Manejo de Unidades de Conservação do ICMBio, o guia tem acesso livre através de um site próprio. Em breve, haverá também uma versão para ser impressa ou consultada em tablets, celulares e leitores de livros eletrônicos. Clique aqui para acessar o guia.
A pegada com o Cristo na sola: sinalização direcional oficial da Trilha Transcarioca (Nacional da Tijuca).A pegada com o Cristo na sola: sinalização direcional oficial da Trilha Transcarioca (Nacional da Tijuca).Uma trilha nada mais é do que uma estrada para pedestres. E todas as estradas, desde sua concepção inicial, sempre incorporam a necessidade da sinalização. É com esta definição direta que o leitor é convidado a conhecer e aprender como sinalizar uma trilha, utilizando um padrão que tem sido implementado com sucesso no Parque Nacional da Tijuca há mais de 15 anos. Depois dos trabalhos de sinalização feitos no parque em 1999, a média de pessoas perdidas em suas trilhas caiu de mais de 100 para menos de 5 por ano.
Apesar de seus 75 milhões de hectares, o Sistema Federal de Unidades de Conservação Brasileiro tem menos de 300 km de trilhas sinalizadas. Para comparar, a Ilha de Dominica, um diminuto país caribenho, com 70 mil habitantes e 75 mil hectares de área total, conta com mais de 250 km de trilhas sinalizadas.
O guia já começará a ser usado durante o treinamento dos líderes que vão coordenar o mutirão de sinalização de toda a Trilha Transcarioca, que corta a cidade do Rio de Janeiro, da Restinga da Marambaia até o Pão de Açúcar. Marcado para o dia 14 de setembro de 2014 (domingo), o objetivo do mutirão é sinalizar todos os 150 km da trilha em um só dia, através de cerca de 500 voluntários trabalhando em 34 grupos simultâneos.
Apoiar o lançamento do guia é um esforço do WikiParques para compartilhar conhecimentos sobre nossosParques Nacionais e áreas protegidas. Disponibilizá-lo nos melhores formatos ajuda a todos que entendem o uso público e ecoturismo como um incentivo à conservação de áreas protegidas e que desejam contribuir para o manejo e sinalização corretos de suas trilhas.

Fonte: http://www.oeco.org.br/blog-do-wikiparques/28563-guia-pratico-de-sinalizacao-de-trilhas-por-pedro-da-cunha-e-menezes

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Quem brinca com água acaba se queimando


Fábio Olmos - 11/08/14

Chen-Ku-2013-07-22-Chichen-Itza-069Chen Ku, o “poço de deus” cheio de cianobactérias pouco saudáveis, na cidade maia de Chichen Itza. Foto: Fábio Olmos
A ciência diz que Chen Ku, um dos pontos mais importantes na metrópole maia de Chichen Itza, é uma dolina, uma caverna cujo topo desabou formando um poço. No caso, cheio de água vinda do lençol freático. Os maias que lá moravam achavam que era um local onde podiam se comunicar com Chaac, o deus da chuva e uma das deidades mais importantes para uma civilização de base agrícola.
A região habitada pelos maias está sujeita a secas e quando estas ocorriam a opção era aplacar Chaac com sacrifícios humanos e de objetos de arte lançados em Chen Ku. Obviamente estes sacrifícios tinham impacto zero sobre as chuvas, além de piorarem a qualidade da água.
"(...)a lista de povos orgulhosos que viraram história quando o mais importante recurso limitante deixou de ser disponível é extensa."
A civilização maia clássica entrou em colapso quando sua estrutura sócio-política teve que encarar uma seca intensa que destruiu sua agricultura, situação muito piorada pelo desmatamento realizado pelos ruralistas daquele império. Há evidências de que a classe dirigente, que dizia ter contato direto com os deuses e fazer chover, foi massacrada por revoltas populares quando caiu a ficha que eles não iriam entregar o que prometiam.
Os maias foram apenas uma das muitas civilizações que quebraram quando faltou água. Do Mediterrâneo da Idade do Bronze passando pelo Vale do Indus, pelos Anasazi e Roma, a lista de povos orgulhosos que viraram história quando o mais importante recurso limitante deixou de ser disponível é extensa.
Erros que se repetem
É fácil fazer piada dos maias (e outros) sacrificando crianças a Chaac para trazer chuva, mas eles não são diferentes dos brasileiros católicos que pedem o fim da seca no nordeste e dos norte-americanos evangélicos que pedem a mesma coisa em sua terra.
Se há algo que a história e a ciência ensinam é que rezar tem impacto zero sobre padrões climáticos, embora mantenha as pessoas ocupadas e as faça esquecer de cobrar seus governantes. Também aprendemos que quanto maior e mais complexa uma civilização maior o tombo, e que é uma boa ideia tratar muito bem os recursos escassos das quais ela depende. Especialmente a água.
O sudeste e nordeste do Brasil vivem uma seca que reduziu dramaticamente os reservatórios das hidrelétricas dabacia do Tietê-Grande-Paraná e do São Francisco, forçou o país a usar termoelétricas movidas a combustível importado – o que custará a bagatela de R$ 66 bilhões apenas esse ano - e paralisou hidrovias (veja aqui e aqui). Não deixa de ser interessante ver como a natureza, ao secar o São Francisco, pouco se importa com as promessas feitas sobre uma certa transposição.
O problema da seca é piorado graças ao desmatamento, que afeta negativamente padrões de precipitação, a perenidade das nascentes de água, a recarga dos aquíferos e o assoreamento dos cursos d'água e dos reservatórios. Podemos agradecer aos "heróis do progresso" que desmataram o que nunca deveria ter sido cortado e seus representantes no Congresso Nacional que garantiram que eles não consertarão o estrago.
Em meio à encrenca, a maior região metropolitana do país, São Paulo, se destaca como exemplo de como tratamos o alicerce do qual depende nossa civilização.
Enquanto escrevo, zerou o volume útil do Sistema Cantareira, que abastece mais de 50% da região metropolitana. Com o aval da Agência Nacional de Águas (ANA), a empresa de abastecimento, a SABESP, raspa o fundo do tacho sugando o chamado volume morto (veja o que é aqui e aqui) e o governador paulista garante que racionamentos são desnecessários, embora ele já esteja acontecendo. Os reis maias devem ter se comportado do mesmo jeito.
Cantareira está na bacia do rio Piracicaba e não há água suficiente para garantir a vazão desta, com impactos tanto sobre a população humana como os ecossistemas. Falta água para as pessoas e a famosa piracema do rio Piracicaba foi aniquilada.
Tiemplo-de-lkas-CalaverasTemplo de Ikas Calaveras: os maias tinham uma atitude positiva sobre a vida.... Foto: Fábio Olmos
A capital do desperdício
São Paulo e suas cidades-satélites sempre tiveram uma relação complicada com a água. Uma cultura que acha que progresso é sinônimo de concreto canalizou e retificou os rios da região, transformados em esgotos a céu aberto e inutilizados como mananciais. Isso obriga o uso de bacias distantes como a do Piracicaba, que pagam o pato.
Sucessivos governantes, incluindo o atual prefeito de São Paulo, obsessivamente impermeabilizaram a maior área possível, deixando poucas áreas verdes. Um resultado é a mudança no clima local, que fez a antiga "terra da garoa" ser hoje mais adequada a árvores do cerrado do que da mata atlântica, além de enchentes quando chove para valer, já que a água não é absorvida pelo solo.
A isso se soma a pressão populacional. Válvula de escape para problemas sociais de outras partes do país, a imigração para a Região Metropolitana de São Paulo fez com que a população explodisse de 8,17 milhões em 1970 para 19,7 milhões em 2007, o que aconteceu na ausência de planejamento urbano e políticas de habitação. O resultado é que, só na cidade de São Paulo, a população favelada foi de 72 mil pessoas (1,1%) em 1973 para 1,07 milhão (11,3%) em 1992. Gente que, em geral, foi morar onde não deveria.
A demanda por moradia tanto por pobres como por ricos cobrou um preço pesado das "áreas de proteção de mananciais" da região metropolitana. As áreas "de proteção" ocupadas por "assentamentos irregulares" sofreram uma urbanização mais rápida do que áreas sem proteção legal, o que mostra quão interessadas estavam autoridades que deveriam cuidar das mesmas.
Áreas vitais para o abastecimento foram e são presas de loteamentos e ocupações que sempre acabam legalizados graças ao "interesse social" e o dos políticos que cultivam seus currais nestas áreas.
O tal "interesse social" garante que o entorno dos reservatórios continue sendo ocupado e reservatórios como aGuarapiranga sejam um caldo de plantas aquáticas dominado por cianobactérias potencialmente produtoras de toxinas que afetam o sistema nervoso e causam câncer de fígado (veja aqui e aqui) Eu só tomo água que tenha passado por um filtro de carvão ativado.
Enquanto as opções de mananciais são limitadas e sua qualidade vai para o ralo, a SABESP, considerada "um padrão" entre as empresas brasileiras de saneamento e abastecimento, desperdiça 31% da água captada no trajeto entre a represa e a caixa d'água . Um desempenho que dificilmente pode ser justificado.
Um problema estrutural
"A gestão dos recursos hídricos no país mostra como é desastroso ter políticos apenas interessados em eleições e para os quais longo prazo é sinônimo de dois mandatos à frente de questões que demandam visão de longo prazo."
 
A má gestão da água na região metropolitana não é só culpa do governo estadual e dos municipais. A Agência Nacional de Águas (ANA) é a responsável por autorizar quanta água de cada manancial pode ser retirada e para qual fim, mediando os diferentes interesses.
Infelizmente a ANA tem um mau histórico. No final de 2003, quando vivíamos outra grande seca e o volume útil do sistema Cantareira zerou, ela tanto autorizou o uso do volume morto como, pior, usou uma canetada para transformar parte deste em volume útil (veja a história aqui), abrindo a possibilidade de lambanças futuras. Agora, ao invés de obrigar medidas de economia, que já deveriam ter começado há muito tempo, a ANA autorizou novamente o uso do volume morto, que é metade do que era em 2003.
Isso significa não só o uso do fundo do tacho, onde estão concentrados contaminantes, mas também que os reservatórios vão levar muito mais tempo para recuperar um volume útil que possa ser considerado seguro. É uma aposta que só dará certo se as chuvas voltarem a cair em abundância e um risco que não precisaríamos correr se houvesse planejamento (de novo).
A gestão dos recursos hídricos no país mostra como é desastroso ter políticos apenas interessados em eleições e para os quais longo prazo é sinônimo de dois mandatos à frente de questões que demandam visão de longo prazo.
Agências reguladoras como a ANA deveriam ser técnicas e evitar que chegássemos a situações assim, mas a gestão política as considera como moeda de troca... política. A tomada de decisões comumente passa ao largo do tecnicamente correto e/ou do interesse comum. Enquanto escrevo há uma disputa entre a ANA, o Operador Nacional do Sistema Elétrico e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários porque não há água suficiente para todos os interessados. Além de água faltou competência.
Nossos políticos preferem realizar grandes e caras obras para trazer água de centenas de quilômetros (a "solução" para São Paulo é trazer água da bacia do rio Ribeira de Iguape e a "solução" para o nordeste é a transposição do São Francisco...) e dão pouca atenção à água desperdiçada por canos furados e coisas simples como plantar árvores e proteger as bacias de captação, embora esta seja a estratégia seguida por metrópoles como Nova York, Tóquio e Quito. Será devido ao apetite por grandes obras das empreiteiras que bancam campanhas eleitorais?
A gestão política também acha que as coisas vão dar certo mesmo quando se faz tudo errado, fato também visível na nossa economia. Hoje precisamos de um milagre (ou desastre) climático, talvez temporais no final do ano trazidos por um El Niño que está se formando no Pacífico.
O Brasil glorifica a ignorância desinibida (basta olhar nossos dirigentes mais populares) e tem o jeitinho como sua maior característica cultural. Outros povos já perceberam que encostas que caem, rios que secam, hidrelétricas que não geram, crianças sem cérebro e universidades interditadas por causa de contaminação no solo são sinais de que meio ambiente é coisa séria, não perfumaria.
Infelizmente, aqui não é assim e não damos valor aos recursos dos quais nossa sociedade depende. O resultado é que somos mais vulneráveis do que acreditamos. Vemos isso a cada morro que despenca e a cada torneira que seca.
Uma saída
Muita gente já sugeriu o que deveria ser feito a respeito da atual crise de abastecimento de água. É consenso, pelo menos entre os técnicos, que as perdas no sistema de distribuição devem ser reduzidas, a vegetação nativa das bacias de captação dos reservatórios deve ser recuperada, e todo esgoto deve ser coletado e tratado possibilitando o reuso da água.
Tenho uma modesta contribuição.
"É duro ver empresas de limpeza urbana lavando calçadas e particulares fazendo o mesmo com seus carros durante uma estiagem, bancando o Nero enquanto Roma pega fogo."
Concessionárias como a SABESP deveriam pagar uma taxa por metro cúbico (m³) de água captada dos reservatórios. A taxa seria duplicada para cada m3 perdido ao longo do sistema de distribuição, esse valor punitivo não podendo ser transferido ao consumidor final. Assim a água perdida por ineficiência do sistema passaria a ter um valor que incentivaria a redução de perdas.
A arrecadação dessa taxa deve suprir tão somente três finalidades: 1) compra de terras em áreas de mananciais visando sua transformação em unidades de conservação; 2) recuperação da vegetação em áreas de proteção de mananciais, margens de rios e nascentes; e 3) pagamentos a proprietários de terras que sejam produtores de água e suprem mananciais de abastecimento (nos passos do Projeto Oasis, da Fundação Grupo Boticário).
Isso implica em maior custo para o consumidor? Talvez, mas o fato é que ninguém valoriza o que é de graça ou barato demais. Água mais cara seria um estímulo ao consumo consciente. É duro ver empresas de limpeza urbana lavando calçadas e particulares fazendo o mesmo com seus carros durante uma estiagem, bancando o Nero enquanto Roma pega fogo.
O El Niño talvez traga alívio para esta estiagem, mas outras certamente virão. Será que daqui a poucos anos estaremos falando, de novo, em volumes mortos e agências reguladoras desreguladas?
 Fonte: http://www.oeco.org.br/olhar-naturalista/28552-quem-brinca-com-agua-acaba-se-queimando