Em nosso quinto artigo desta série, a SAMBIO, entrevistou o Dr. Flávio César Thadeo de Lima da UNICAMP.
SAMBIO: O que é a ZUEC?
Flávio: ZUEC é o acrônimo para o Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Campinas “Adão José Cardoso”, anteriormente Museu de História Natural “Adão José Cardoso”.
SAMBIO: Qual seu nome, formação acadêmica e função na ZUEC?
Flávio: Meu nome é Flávio César Thadeo de Lima, sou graduado (bacharel) em Ciências Biológicas pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, com mestrado e doutorado pelo mesmo instituto, tendo desenvolvido essas etapas da minha carreira acadêmica no Museu de Zoologia da USP, sob orientação do dr. Heraldo Britski. Fui pós-doutorando nessa mesma instituição e, desde 2011, sou pesquisador colaborador e atualmente exerço a curadoria da coleção ictiológica da ZUEC. Tenho um projeto de Jovem Pesquisador em Centros Emergentes, recém-aprovado, que será conduzido nessa coleção, sobre diversidade de um grupo de peixes de pequeno porte das águas doces da América do Sul, as piabas ou tetras (família Characidae).
SAMBIO: Quais as Coleções Biológicas existentes na UNICAMP?
Flávio: A ZUEC possui coleções de todos os grupos de vertebrados (peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos), além de coleções de vários grupos de invertebrados (insetos, crustáceos, aracnídeos, moluscos, equinodermos, poliquetos). Além disso, a UNICAMP possui um herbário, o Herbário UEC.
SAMBIO: Qual a importância destas Coleções para os Programas de Pós Graduação?
Flávio: É de grande importância, porque uma parte considerável da pesquisa praticada pelos alunos de pós graduação em Ciências Biológicas depende, direta ou indiretamente, da existência e manutenção de coleções biológicas.
Flávio: Qual a importância destas Coleções para o restante da comunidade acadêmica e científica?
Flávio: Mais ou menos a mesma resposta dada acima. Coleções biológicas alicerçam o conhecimento taxonômico/sistemático da biodiversidade, e baseado nesse conhecimento outros ramos da biologia podem desenvolver pesquisas usando determinados organismos ou conjunto de organismos como modelos para entender os múltiplos aspectos da manifestação biológica, do funcionamento celular à estruturação das comunidades biológicas.
SAMBIO: Qual a importância destas Coleções para a sociedade?
Flávio: Ao ajudar a estruturar o conhecimento em biodiversidade, as coleções prestam um grande serviço à sociedade ao serem mais uma peça a ajudar a entender “o mundo lá fora”, ao qual somos inevitavelmente interconectados e com o qual temos uma relação de interdependência, quer reconheçamos isso, quer não.
SAMBIO: Qual o papel e significado de um Curador de uma Coleção Biológica?
Flávio: Muito importante, já que o curador, além de coordenar o trabalho de armazenamento, conservação e identificação do acervo cientifico, é responsável por direcionar o crescimento de uma dada coleção. Idealmente, a expansão de um dado acervo cientifico deve se dar dentro de um programa planejado de aquisição de material que procure documentar lapsos de conhecimento da biodiversidade, taxonômicos ou geográficos.
SAMBIO: Um único Curador atende a todos os grupos biológicos ou é conveniente um Curador para cada grupo? Por quê?
Flávio: Como ressaltado acima, a figura do curador não é a de um administrador passivo, e sim de um pesquisador engajado na pesquisa sobre a diversidade de um dado grupo. Assim, coleções com curadores não-especialistas poderão, no máximo, atuar na conservação de um acervo pré-existente, mas dificilmente na expansão e consequente ampliação do potencial de conhecimento de um dado grupo taxonômico que pode ser proporcionado por uma coleção.
SAMBIO: Quais as demais funções necessárias em uma Coleção Biológica? Que níveis de formação são recomendáveis para cada função?
Flávio: Técnicos de nível superior, com formação em Ciências Biológicas, são fundamentais para auxiliar na curadoria das coleções. Técnicos de nível médio são bastante importantes em diversas atividades curatoriais de manutenção do acervo.
SAMBIO: Quais são hoje as principais dificuldades que as Coleções Biológicas brasileiras atravessam hoje em dia?
Flávio: As mesmas que outras coleções biológicas através do mundo – falta de investimentos, tanto em recursos materiais como humanos. Essas questões tornam-se particularmente agudas e prementes quando consideramos a crise da biodiversidade global e o papel do Brasil como um dos países megadiversos e que provavelmente detém a maior biodiversidade do mundo. Algumas falsas prioridades da comunidade cientifica também me parecem ser um obstáculo adicional a uma maior alocação de esforços e recursos no estudo e conservação da biodiversidade.
SAMBIO: Quais as formas de superar estas dificuldades?
Flávio: A tomada de consciência por parte de grande parte da sociedade do papel que as coleções biológicas exercem como repositório da informação sobre biodiversidade e portanto, serem uma peça fundamental no planejamento da conservação dessa biodiversidade. Infelizmente, a conservação efetiva da biodiversidade demanda um estágio de conscientização e maturidade das sociedades que aparentemente ainda não alcançamos, e a falta de valorização das coleções biológicas que observamos é naturalmente um reflexo disso.
SAMBIO: Você conhece as Coleções Biológicas do Museu de Biologia Mello Leitão? Qual a importância destas coleções no cenário nacional?
Flávio: Conheci recentemente, em junho de 2013. Minha percepção é a de que o MBML é uma importante coleção biológica, sem dúvida a mais completa a documentar a fauna e flora do extremamente biodiverso estado do Espírito Santo.
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