Nesta temporada 123 animais, sendo 55 filhotes, foram avistados pelos técnicos do Projeto Baleia Franca, entre Moçambique e Torres
Eduardo Valente/ND
Francas estão há mais de duas semanas na região do Morro das Pedras, no Sul da Ilha
Depois de uma semana inteira de trabalho, o domingo de lazer teve motivos e significados especiais para a educadora Alda Lúcia da Silva, 40 anos. A professora saiu do Ribeirão da Ilha com parentes vindos de outras partes da cidade para observarem o grupo de baleias francas que descansam há semanas nas imediações da praia do Morro das Pedras, Sul da Ilha. Do alto do mirante da Casa de Retiros Fátima, construída em 1958, de onde ela diz ser o melhor pico de observação de baleias na Ilha, Alda contempla a vista com olhos no futuro. “É lindo esse contato direto com a natureza, como educadora levo isso para meus alunos, e que daqui a 40 anos eles também possam avistar baleias daqui”, disse, enquanto revezava o binóculo com os parentes. Apesar do Sul da Ilha estar dentro da APA da Baleia Franca, em Florianópolis não existem ações para impulsionar o conhecimento da espécie migratória e o turismo através da observação guiada.
Nascido em família de pescadores, Carlos Roberto Alberto conta histórias do tempo em que o avô participava da caça da baleia nas águas do Sul da Ilha, num tempo em que se aproveitava tudo do animal, desde a carne, a língua, a barbatana, até óleo e os ossos. Hoje, dono de um tradicional restaurante à beira da praia do Pântano do Sul, Carlos diz que o estímulo ao turismo de observação será capaz de resgatar a ligação histórica da caça nas primeiras vilas de pescadores com a conscientização ambiental.
Para criar instrumentos que possam cultivar tanto a consciência de preservação quanto alimentar o turismo, na noite desta segunda (30/09), durante audiência pública distrital na sede da Associação dos Açores, um dos pedidos da Associação de Moradores do Pântano do Sul será a inclusão do turismo de observação das francas no Plano Diretor Participativo.
Outra opção para incluir a atividade numa espécie de calendário organizado, com regras e informações turísticas durante a temporada da baleia, entre julho e novembro, é através do Projeto Orla, que envolve órgãos ambientais federais e municipais num trabalho de políticas costeiras e de preservação ambiental e patrimonial.
Trilhas das baleias
O turismo de observação embarcado foi suspenso por decisão da Vara Ambiental da Justiça Federal e está proibido desde o dia 17 de maio deste ano. O argumento é de que as embarcações seriam prejudiciais aos animais. A medida tem impedido inclusive o O Centro Nacional de Conservação da Baleia Franca, localizado em Imbituba, de fazer incursões no mar apara monitorar os animais. E enquanto a observação embarcada é debatida na Justiça, quem busca o contato visual com as francas precisa descobrir os pontos privilegiados para acompanhar a visita ilustre das gigantes.
Desde o caminho que leva ao Forte Marechal Moura de Naufragados, onde trilheiros têm avistado as francas, até a praia do Moçambique, a paisagem litorânea de Florianópolis descortina diversos picos para observação do animal. “No ponto do vigia, onde os pescadores ficam de prontidão durante a pesca da tainha, seria um bom ponto de observação de baleis, dali é possível avistar elas descansarem por dias, nas águas da praia dos Açores”, sugere Carlos Alberto, indicando a criação de um possível ponto de observação em terra firme.
Daniel Queiroz/ND
No Caldeirão, Marco Antônio surfa ao lado das francas
Pelas trilhas da Lagoinha, do Gravatá, do Saquinho, no pico do riozinho ou no Caldeirão, onde Marco Antônio Menti, 39, costuma surfar, por exemplo, não são raros os relatos de quem viu as francas. “Quando você surfa a poucos metros de uma baleia é o que há de melhor, uma sensação muito boa”, disse Marco Antônio, que aproveitou o domingo (29) para cair nas águas do Caldeirão, na praia da Armação, onde uma fêmea e um filhote descansam há semanas.
Só nesta temporada 123 animais, sendo 55 filhotes, foram avistados no sobrevoo de técnicos do Projeto Baleia Franca nos 280 quilômetros da costa entre as praias de Moçambique, em Florianópolis e Torres, no Litoral do Rio Grande do Sul.
Nenhum comentário:
Postar um comentário