segunda-feira, 15 de abril de 2013

“Cães e gatos não deveriam habitar unidades de conservação”


Animais que amamos como cães e gatos viram perigosos predadores de espécies nativas quando entram em áreas de conservação. Para evitar a extinção de espécies ameaçadas em várias partes do mundo, algumas autoridades recorrem ao extermínio dos invasores. O debate já chegou ao Brasil. É o que mostramos em uma reportagem publicada na revista Época.
O tema da reportagem inspirou uma reflexão do biólogo Raulff Ferraz Lima, coordenador executivo da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas). Sua organização é a principal entidade brasileira que combate a captura e venda ilegal de espécies nativas.
Escreve Raulff:
Muitos pesquisadores e protecionistas esquivam-se desta discussão que é tão polêmica. Independente de qual seja a postura, é difícil assumir a responsabilidade de que animais, domésticos ou silvestres, serão sacrificados. O fato é que cães e gatos não deveriam, sob hipótese alguma, habitar unidades de conservação, por que existe uma competição direta com os predadores silvestres por alimento, abrigo e território, comprometendo inclusive a sobrevivência de espécies ameaçadas de extinção. Os cães abandonados que formaram matilhas dentro do Parque Nacional de Brasília, por exemplo, se alimentam das mesmas presas do lobo guará e da onça parda. No entanto, lobos e onças têm por hábito caçar sozinhos, enquanto os cães ferais caçam em grupo. A estratégia dos cães é muito eficaz, uma vez que catetos, emas e veados não sabem se defender de vários predadores ao mesmo tempo.
Causa-me estranheza as ‘soluções’ apontadas pela representante da organização estrangeira WSPA para tentar resolver esta situação. Concordo que o problema foi originado pelos humanos e cabe a nós apresentarmos uma resposta, mas capturar animais domésticos em um parque nacional não é o mesmo que resgatar gatinhos no parque Trianon em São Paulo, com a ajuda de meia dúzia de senhorinhas bem intencionadas. O discurso covarde e inconsistente sobre o que é ético não se aplica neste caso, pois afinal de contas quem paga o preço pela ignorância e pela omissão é a fauna silvestre. Desta forma é preciso ter coragem para assumir posições que nem sempre são politicamente corretas.
As propostas apresentadas pela WSPA estão mais detalhadas em uma entrevista com Rosângela Ribeiro, gerente de programas veterinários da entidade no Brasil, publicada neste blog.
(Alexandre Mansur)

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