Rafael Motta
Do UOL, em Santos
Quando o pescador Manoel Raimundo Valentim, 59, pôs seu barco no mar, na quarta-feira (10), não imaginou voltar para casa com um peixe que jamais havia visto - e uma nova história, verdadeira. O animal que se prendeu em sua rede era oval, estreito e pesava quase cem quilos.
Trata-se de um peixe-lua, capturado a 500 metros da praia de Boraceia, em Bertioga, a 103 km de São Paulo. Não é uma espécie rara e o exemplar não era dos maiores. Porém, causou surpresa por ser um bicho que, normalmente, vive em águas oceânicas, a mais de 200 quilômetros da costa.
"O peixe ainda estava vivo", conta, surpreso, o pescador. "Ele ficou enrolado na rede e, no dia seguinte [quinta-feira], às 6 horas, levei quatro homens para a praia. Não medi nem pesei, mas o peixe devia ter uns 250 a 300 quilos porque sete homens não aguentaram levantar e colocar o bicho na caminhonete."
Ao ver fotos do peixe, entretanto, Michel Donato Gianeti, que trabalha na seção de Ictiologia do Museu de Zoologia da USP (Universidade de São Paulo), diz acreditar que o peso do peixe não tenha passado de cem quilos. "Talvez tenha de 50 a 80 quilos. Como é desajeitado, dá a impressão de pesar 300, mas [tenho] quase certeza de não ser isso."
Ele afirma ser "muito raro" que peixes-lua sejam vistos a pouca distância das praias e também desconfia de que o animal estivesse quase morto quando foi encontrado. Isso teria feito com que nadasse para longe de seu habitat e não se enroscado na rede de Valentim.
"Não é um peixe de água costeira, e o pescador deve ter soltado a rede mais para o fundo", afirma. "O peixe-lua tem um corpo grande, é pesadão e não tem a mesma agilidade de outros peixes."
Segundo o pescador, além de pesado, o peixe-lua era duro. "[Meu colega] Cortou o peixe aqui em casa, mas a carne é estranha: por dentro, parecia [a de] uma água-viva. Por fora, era difícil de cortar. A pele tinha uns três dedos de grossura, tipo uma moldura."
Sabor, um mistério
Por isso, os técnicos da USP não terão condições de examinar o peixe-lua de Bertioga. Restará saber que gosto tem. O sabor ainda não foi descoberto pelos pescadores locais, mas os testes poderão ocorrer logo.
"Um vizinho meu, que é pedreiro, levou todo o peixe daqui ontem mesmo [no dia 11]. Levou para outro vizinho, que ia botar [os pedaços que ganhou] no freezer e ficar comendo. Se não for bom, vai enterrar tudo", disse Valentim.
"[O paladar] Até pode ser bom, mas a aparência, às vezes, não atrai pescadores. É preciso retirar as vísceras, que contêm toxinas como as do baiacu. Nunca conheci ninguém que tivesse comido peixe-lua", comentou Michel Gianeti.
Os peixes-lua (Mola mola) vivem em águas profundas e alimentam-se de outros peixes, moluscos, crustáceos e estrelas-do-mar. O maior exemplar já visto tinha 3,3 metros de comprimento e pesava 2,3 toneladas.
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