terça-feira, 12 de março de 2013

A pedra que canta



por Delfim Netto*
Itaipu 300x190 A pedra que canta
Foto: Divulgação/Internet
Há 40 anos terminavam as obras civis da Usina de Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo, no Rio Paraná, construída na divisa de Brasil e Paraguai por um consórcio das mais importantes empreiteiras nacionais. Suas turbinas iniciaram o fornecimento de energia aos dois países em 1984. Logo Itaipu passou a fazer parte da lista universal das sete maravilhas construídas pela mão do homem no século XX.
Itaipu, ou “pedra que canta”, é a denominação em guarani do local onde foi erguida a barragem, poucos quilômetros acima das cataratas do Rio Iguaçu, principal afluente na margem esquerda. A hidrelétrica, que começou a operar dois anos após o término da construção, é responsável pela geração de 17% da energia consumida hoje no Brasil. Suas turbinas produzem entre 90 e 94/95 milhões de MWh, anualmente, uma oferta de energia superior à que vem conseguindo a hidrelétrica chinesa de Três Gargantas, a maior do mundo em capacidade de geração, mas cujo recorde de fornecimento foi de 79,5 milhões de MWh em 2009, atrás do recorde da nossa Itaipu, que gerou 94,6 milhões de MWh em 2008.
É interessante notar que uma realização dessa natureza não desperta nenhum entusiasmo (pelo menos alguma curiosidade deveria…) nos ativistas das organizações não governamentais – as notórias ONGs, estrangeiras em maioria – que se apresentam como defensores do meio ambiente e participam em pleno século XXI de campanhas financiadas do exterior para impedir a expansão da oferta de energia limpa entre nós. Basta sentir o seu desinteresse (fruto da ignorância, talvez) em comemorar o fato de que a energia limpa conduzida por milhares de quilômetros a partir da Usina de Itaipu corresponde a eliminar a sujeira de 500 mil barris de petróleo, que teriam de ser consumidos diariamente para atender à demanda nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil e no leste paraguaio.
Quando se discutiam os prós e contras do aproveitamento da energia naquele ponto do Rio Paraná, muitas pessoas temiam a degradação da rica natureza numa das regiões mais belas e interessantes do mundo, com prejuízos irreparáveis para a flora, a fauna e “custos sociais intoleráveis” por causa do deslocamento de uma população de aproximadamente 25 mil pessoas que vivia nas áreas que seriam tomadas pela formação do lago após a construção da barragem. A renda do turismo seria gravemente afetada nos municípios do entorno de Foz do Iguaçu, pois se imaginava que o volume das águas das famosas cataratas poderia ser dramaticamente reduzido. Era algo meio surreal dado que até os cordeirinhos da fábula de Esopo sabiam da localização da queda do Rio Iguaçu, a jusante da barragem do Paraná… Hoje, a imensa barragem e os equipamentos de geração constituem atração turística que rivaliza com as visitas às cataratas que, muito justificadamente, foram eleitas uma das sete maravilhas da natureza universal.
Nessas quatro décadas que se sucederam à construção da hidrelétrica, ficou demonstrado que os “prejuízos” causados à região e os “custos sociais” derivados da produção da energia não eram mesmo mensuráveis: de uma população de aproximadamente 40 mil pessoas no início da década de 70, o município de Foz do Iguaçu conta hoje com 260 mil residentes, cuja renda anual per capita (entre 21 mil e 22 mil reais em 2010) é 25% superior à média brasileira. Antes de se completarem duas gerações, a renda da região alçou-se a níveis que aproximam seus habitantes dos padrões de vida dos brasileiros que vivem hoje nas ricas cidades do interior paulista e nos progressistas municípios de Mato Grosso que estão transformando o estado numa potência agrícola.
Futuro semelhante se espera para a região do extremo-oeste brasileiro, com a operação das Hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, que começam a gerar energia já a partir de 2013, impulsionando principalmente o desenvolvimento de Rondônia e Acre. Num horizonte de três a quatro anos o mesmo processo de desenvolvimento se dará a partir da região de Altamira, no Pará, em pleno coração da Amazônia, com o término da construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu.
Por ora, ainda se repetem tentativas de retardar a expansão da matriz energética brasileira, mas aos poucos se vai reconhecendo mundialmente que, além de ser a mais limpa de todas e de ter o maior potencial hidrelétrico já catalogado, é seguramente a que oferece a maior diversidade de origens não poluentes e de menor impacto ambiental.
Delfim Netto é economista, formado pela Universidade de São Paulo e professor de Economia. Foi ministro de Estado e deputado federal.
** Publicado originalmente na coluna do autor, no site da revista Carta Capital.
(Carta Capital) 

Fonte: http://envolverde.com.br/economia/a-pedra-que-canta/

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