Por José Truda
Tanto as tartarugas como estas lagartixas são parte de um gigantesco comércio em que traficantes europeus, principalmente alemães, são o pesadelo das autoridades de conservação da fauna e das alfândegas de vários países. Feiras realizadas na Alemanha e outros países são anunciadas pela internet e os animais das espécies mais raras acabam sendo vendidos por centenas ou mesmo milhares de euros; sem a proteção da CITES, os governos europeus não tinham base legal para agir. O pior de tudo é que mesmo na mão dos “colecionadores” que se acham conhecedores das exigências de alimentação e cuidados com estas espécies raras e ameaçadas, os animais traficados experimentam mortalidades num ritmo bestial, já que muitos têm nichos ecológicos muito particulares e as suas condições de vida são dificílimas de reproduzir mesmo em zoológicos especializados. Assim, répteis e anfíbios comprados a peso de ouro acabam no lixo doméstico de algum tarado criminoso que não se importe de botar fora, ao mesmo tempo, seu dinheiro e nosso planeta.
Há poucos anos isso ocorria principalmente com papagaios e araras da América Latina; demorou até a CITES decidir pela proteção das espécies mais ameaçadas, e o poder dos traficantes era tal que conseguiu ao acabar, nas barbas do IBAMA, com as últimas ararinhas-de-Spix que viviam na nossa caatinga, e hoje vivem em criadouros nos Emirados Árabes, Ilhas Canárias e outros destinos do tráfico de fauna; o ICMBio hoje faz frenéticos esforços para coordenar ações visando, quem sabe um dia em que o país seja um pouco mais capaz, reintroduzir essa espécie no seu ambiente hoje deserto dos seus vôos antes espetaculares. No Brasil atual, aranhas e cobras sofrem sina similar, volta e meia aparecendo dentro de sapatos ou fundos falsos de europeus raramente apanhados com a boca na botija contrabandeando nossa biodiversidade.
Visita ao Parque Nacional de Khao Yai, refúgio de elefantes
Os heróis da floresta de Khao Yai não apenas são uma inspiração para que os quase dois mil delegados à CoP16 da CITES repensem junto a seus países essa aberração que é o tráfico e a matança de fauna e flora ameaçadas, quando ao redor do mundo cada vez fica mais claro que protegê-los é o que dá dinheiro
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Os heróis da floresta de Khao Yai não apenas são uma inspiração para que os quase dois mil delegados à CoP16 da CITES repensem junto a seus países essa aberração que é o tráfico e a matança de fauna e flora ameaçadas quando ao redor do mundo cada vez fica mais claro que protegê-los é o que dá dinheiro, mas ainda um motivo de vergonha para os ambientalistas de botequim que seguem defendendo que as “comunidades afetadas por áreas protegidas” ganhem direitos de predação sobre elas e sua fauna, como ocorre, escandalosamente, com as “Reservas Extrativistas” brasileiras e mesmo Parques Nacionais como a Lagoa do Peixe, um santuário único e inestimável de aves migratórias onde o turismo é desprezado e desestimulado mas os pescadores “tradicionais” são tolerados, predando a fauna aquática e espalhando quantidades pornográficas de lixo nas proximidades de seus malcuidados tugúrios. Questionados sobre os potenciais conflitos entre os elefantes e a agricultura de pequena escala que ocorre no entorno do Parque – já que eles regularmente saem dos limites protegidos e se banqueteiam com milho e outras plantações dos vizinhos – eles responderam que os problemas são mínimos, porque, graças à visitação, o Parque e seus elefantes geram tanto dinheiro para as comunidades do entorno através do turismo que ninguém pensaria em matar um elefante por isso. Uma lição desta vez não aprendida, já que não havia nenhum delegado de governo brasileiro na excursão ao Parque oferecida gratuitamente pelo governo tailandês.
É possível, claro, que todos estejam ocupadíssimos, trabalhando ativamente para conseguir os apoios ainda faltantes às propostas brasileiras de restrição do comércio de tubarões e raias-manta, que serão discutidas e votadas nesta segunda-feira.
Fonte: http://www.oeco.com.br/trudacites/26971-tartarugas-na-lixeira-e-elefantes-nas-montanhas
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