Era, de fato, um mundo muito distinto aquele em que governos de vários países, Brasil inclusive, firmaram em 1973 a Convenção para a Regulamentação do Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Silvestre Ameaçadas de Extinção – CITES, que passou a controlar o movimento internacional de animais e plantas cujo tráfico pudesse agravar seu status de conservação. Seria simplesmente impensável, no mundo deste nem tão admirável século XXI, que governos nacionais aceitassem impor a si mesmos tais normas – basta ver a impossibilidade de fazer andar, inter alia, a Convenção da Diversidade Biológica, que estabelece metas e prazos para a criação de áreas protegidas que já viraram piada pela sua falta de implementação.
A Convenção CITES, cujos países-membros reúnem-se a cada três anos em média para avaliar seu funcionamento, trabalha basicamente através de duas listagens de espécies de fauna e flora: o Apêndice I, no qual constam (ou deveriam constar) as espécies já muito ameaçadas e para as quais nenhum comércio internacional é permitido, salvo exceções de trânsito de material de interesse científico ou exemplares para programas de reprodução, e o Apêndice II, em que constam espécies de risco menos imediato mas para as quais o comércio internacional possa agravar significativamente seu status, e que exige documentação específica para sua exportação.
Na sua primeira década e meia de vigência, a Convenção CITES funcionou muito bem; foram listadas muitas espécies ameaçadas, e havia quase concordância geral das delegações a suas Conferências das Partes quanto à importância de revisar e ampliar as listagens de espécies. Então, algo sério começou a acontecer: passaram a ser propostas para controle da Convenção, em grande parte pela pressão da sociedade civil em diversos países, não apenas aquelas espécies ameaçadas em que o tráfico era de pequena importância comercial, mas também dois grupamentos de espécies que mudariam para sempre a cara da CITES: espécies florestais madeiráveis e peixes pelágicos.
Armadilhas ideológicas
"A velha guarda do Itamaraty tomou de assalto a delegação brasileira. Por um defeito mental incurável, esse grupo enxerga qualquer acordo internacional que favoreça a conservação como 'barreira não-tarifária' "
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Ainda sofrermos – vide o fiasco retumbante da Rio+20 – a má influência dos dinossauros anti-conservação que são maioria no atual Executivo. Entretanto, mudou a posição do Brasil, vide a recente tomada de posição dos Ministérios de Relações Exteriores e de Meio Ambiente por uma “postura ofensiva a favor da conservação” na CITES, segundo as palavras do Ministro-Conselheiro Paulino Franco de Carvalho Neto, Chefe da Divisão do Meio Ambiente do MRE. Ela sinaliza o possível retorno de nosso país a uma posição de liderança em favor das espécies ameaçadas, contra o tráfico internacional, doa a quem doer.
Tudo isto está à prova desde domingo, 3 de março, quando começou a 16ª. Conferência das Partes da CITES, em Bangkok, Tailândia, e que deverá analisar propostas de inclusão de novas espécies em seus Apêndices de restrição ou proibição do comércio internacional.
Reviravolta e ameaças
"(...) outras espécies estarão em discussão, algumas emblemáticas, como os elefantes africanos e rinocerontes, a quem o tráfico de marfim e chifres segue desbaratando à luz do dia."
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Muitas outras espécies estarão em discussão, algumas emblemáticas, como os elefantes africanos e rinocerontes, a quem o tráfico de marfim e chifres segue desbaratando à luz do dia. Outro caso é o dos ursos polares, ameaçadíssimos pelo recrudescimento das mudanças climáticas, mas que o Canadá insiste em manter como espécie de caça amadora e quer seguir exportando “troféus”. Há também outras espécies mais obscuras mas não menos ameaçadas, como várias tartarugas asiáticas de água doce.
Em Bangkok, até onde sabemos, este seu escriba e Paulo Guilherme Cavalcanti “Pinguim”, empresário de mergulho e ativista (representando a campanha Divers for Sharks – Mergulhadores pelos Tubarões) serão os únicos brasileiros presentes como sociedade civil. ((o)) eco cobrirá com exclusividade as discussões e decisões da 16ª. COP da CITES através de nossos boletins. Será possível retomar em Bangkok o espírito pró-conservação que norteou a criação da Convenção em 1973, ou os lobbies e máfias predatórios vão prevalecer uma vez mais? Descubra conosco nas próximas duas semanas, aqui neste espaço.
Fonte: http://www.oeco.com.br/trudacites/26946-em-liquidacao-tubaroes-elefantes-e-ursos
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