19 de Março de 2013
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Este exemplo de homossexualidade em uma espécie animal é explicável em um contexto evolutivo onde machos são mais raros do que fêmeas (no caso, os machos são 41% da população), e são sempre necessários dois parceiros para criar um filhote. Todavia, não se pode descartar que as moças se juntem simplesmente por gostarem umas das outras, já que namoram e cortejam da mesma maneira que os casais heterossexuais.
Não apenas os albatrozes
Os albatrozes-de-laysan são uma entre cerca de 1.500 espécies animais, de primatas (incluindo o Homo sapiens) a nematoides, que já foram documentadas engajadas no que tecnicamente se chama comportamento homossexual. A homossexualidade feminina parece especialmente comum em aves marinhas, porém há espécies de lagartos que dispensaram totalmente os machos. Nesse caso, existem apenas fêmeas partenogenéticas que precisam realizar “pseudo-cópulas” para ovularem (nenhum mamífero é capaz de nascimentos virgens, apesar de algumas histórias, e mesmo se fosse os bebês também seriam fêmeas).
Entre machos, há exemplos de uniões estáveis entre pinguins, abutres e cisnes-negros. Os últimos podem parear com fêmeas em um ménage que dura até os ovos serem postos. A(s) fêmea(s) é(são) então expulsa(s) e os rapazes criam os filhotes com um sucesso maior que o de casais heterossexuais.
Entre os mamíferos, há carneiros domésticos que se recusam a copular com ovelhas, fazendo-o apenas com outros carneiros (o que está associado a diferenças neurológicas), botos-cor-de-rosa que gostam desexo nasal, e girafas, elefantes e leões que podem dedicar-se ao sexo homossexual com frequência até maior que ao sexo heterossexual.
Os exemplos são variados e há uma série de explicações idem, de estratégias que maximizam o sucesso reprodutivo em determinadas circunstâncias (como entre as albatrozes) a comportamentos que emergem da interação entre a plasticidade neuronal e a ação de hormônios. Além, é claro, do fato óbvio de sexo ser divertido e os bichos – sem as travas culturais humanas - gostarem do que fazem.
Estes comportamentos são certamente escandalosos para pessoas como Marco Feliciano, deputado e pastor evangélico, que hoje macula a presidência da Comissão de Direitos Humanos de nossa já muito maculada Câmara dos Deputados. Se as albatrozes fossem gente, ele certamente negaria o direito ao reconhecimento de sua união e da maternidade conjunta de seus filhotes.
Comportamentos que parecem “imorais” aos olhos de alguns são inconvenientes para quem ignora os últimos dois milênios de filosofia e ainda acha que a Natureza reflete a mente de um Criador que pensa da mesma maneira que seus “representantes”. Entretanto, e curiosamente, essas pessoas costumam usar a palavra “antinatural” para condenar aquilo do que discordam.
A verdade é que a Natureza é amoral. Invocá-la como guia da moralidade humana é artifício retórico das ideologias, basta uma leitura seletiva.
Muita água correu embaixo da ponte entre a teocracia do ano 538 AC e o Iluminismo, quando surgiram os conceitos sobre direitos e garantias individuais que servem de base das relações entre as pessoas, e destas com o Estado.
Reconhecer que todos têm direito à felicidade e assegurar direitos e deveres comuns para que cada indivíduo busque a sua - independente da crença, orientação sexual e posição social - é um dos maiores avanços da civilização ocidental. E também um dos mais frágeis.
Estes princípios, com o amparo informado da disciplina cabível ao caso, e não preconceitos justificados por alguma fé, é que devem nortear o desenvolvimento de leis e sua aplicação pelo Estado em assuntos como uniões homoafetivas, células-tronco e aborto, para citar exemplos onde preconceitos têm contaminado a discussão e atrasado o bonde da História.
Infelizmente, existem sempre falsos profetas por aí que querem impor sua visão de mundo a quem dela não compartilha, apelando para a vontade divina e o que é “natural”.
Fonte: http://www.oeco.com.br/olhar-naturalista/27005-animais-gays-nao-tem-pastores-homofobicos
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