segunda-feira, 20 de maio de 2013

Especialista em biodiversidade marinha recomenda mais áreas de proteção como Reserva Biológica Marinha do Arvoredo



Canadense Boris Worm participa de congresso que debate preservação de espécies do mar

Especialista em biodiversidade marinha recomenda mais áreas de proteção como Reserva Biológica Marinha do Arvoredo Julio Cavalheiro/Agencia RBS
Dr. Boris Worm alerta que recursos pesqueiros no Brasil devem ser explorados de forma conscienteFoto: Julio Cavalheiro / Agencia RBS
Gabrielle Bittelbrun
Até um país tão conhecido por suas riquezas naturais como o Brasil precisa ficar atento no quesito biodiversidade marinha. É o que alerta uma das referências no assunto mundialmente, Boris Worm, que está em Florianópolis, participando do Congresso Brasileiro de Biologia Marinha, que ocorre até o próximo dia 23. Em conversa com o Diário Catarinense, o pós-doutor em Ciência Marinha defende o aumento de unidades de conservação integral no país a pesca sustentável. 

Diário Catarinense — Na sua avaliação, como está a biodiversidade marinha no mundo? 
Boris Worm —
 Está melhor do que as espécies em terra. Poucas espécies sofrem ameaças de desaparecer, o oceano ainda está muito vivo. Mas particularmente nas regiões costeiras, a produção tem sido comprometida, principalmente pelos efeitos da pesca predatória, da poluição, da destruição de habitats como corais, por exemplo. As mudanças climáticas, as alterações de temperatura e a elevação do nível do mar são problemas adicionais. O problema principal é transformar a pesca predatória em sustentável. 

DC — Quais são as espécies que merecem mais cuidado? Por quê? 
Worm —
 Estou muito preocupado com os tubarões e raias. Eles são como as pessoas, crescem devagar, amadurecem tarde e não produzem muita descendência. São poucos todos os anos. Eles são muito diferentes dos outros peixes e essa é a razão porque eles estão em poucos volumes. Não há espécies que sumiram do mundo, mas há regiões que não têm mais seus tubarões. 

DC — A redução dos alimentos deles também não influencia? 
Worm —
 Isso também acontece, mas não é tão preocupante como a matança dos tubarões ou a pesca. Um problema é que, no mundo, eles matam os tubarões para cortar suas nadadeiras e vendê-las para a Ásia em um preço muito alto. As nadadeiras são secas e elas são usadas em pratos tradicionais chineses. São sopas muito caras, que chegam a custar US$ 100 o prato. Os tubarões são muito valiosos. Na China, com o crescimento econômico, muitas pessoas podem pagar por isso. Isso tem causado a extinção de tubarões em muitas regiões. A prática já é ilegal em muitos países (no Brasil, há restrições na pesca e comercialização de tubarões. A pesca ao tubarão galha branco oceânico, por exemplo, foi proibida em março). 

DC — No Brasil, existe alguma área em que não há mais tubarões? 
Worm —
 No Arquipélago de São Pedro e São Paulo, em Pernambuco, costumava ter muitos tubarões e agora está totalmente sem esses animais, pela pesca comercial que começou nos anos de 1960. O último tubarão foi visto na região em 1993. Nós publicamos um trabalho há poucos meses dizendo que 100 milhões de tubarões são mortos a cada ano no mundo. Isso dá 11 tubarões morrendo por hora ao longo de todo o dia, todos os dias. Os tubarões são como policiais no ecossistema, eles que mantêm todo mundo em ordem. Eles também comem muitos animais doentes e ajudam a manter o ecossistema saudável. 

DC — Existem populações marinhas que já aumentaram com o desaparecimento dos tubarões? 
Worm 
— No Brasil, eu não tenho certeza. Mas ouvi falar de algas e águas vivas que ficaram mais abundantes ao redor do mundo. 

DC  Como você considera o Brasil em termos de biodiversidade? 
Worm 
—Estou preocupado com o Brasil. Eu fui informado que Brasil tem crescido muito economicamente e o governo decidiu aumentar a pesca. Não sei se isso pode funcionar pela forma com que isso é feito. Espero que o Brasil invista na costa para uma pesca consciente e não só gastando o potencial pesqueiro porque isso poderia ser complicado para as espécies. 

DC  Quais seriam alguns exemplos de pesca sustentável? Poderíamos fazer isso no Brasil? 
Worm 
— A pesca sustentável significa que não se está tirando mais peixes do que a capacidade da espécie de se recuperar em número na temporada seguinte. Isso pode ser alcançado por melhores controles de pesca (permitindo-se a captura apenas em determinadas épocas e com cotas específicas), estudos científicos, com dados estatísticos do que é capturado, e trabalhos com pescadores e comunidades pesqueiras. Áreas protegidas também ajudam, porque mantêm alguns peixes longe da pesca e pode ajudar no estoque de recuperação de peixes. 

DC  Como você considera as espécies em Santa Catarina? 
Worm 
— Não sei muito sobre as espécies, mas soube que já há grupos de tubarões que são mais raros, como em muitas áreas onde houve excesso de pesca. Mas também escutei que há uma área de proteção integral aqui (a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo) e isso já é algo positivo. 

DC  Como poderíamos melhorar em termos de biodiversidade no mundo e no Brasil? 
Worm 
— Os Estados Unidos, por exemplo, têm tomado longos passos para recuperar as espécies marinhas. Eles não pescam algumas espécies quando as populações de peixes caem, apenas quando se recuperam. Eles também têm muitas áreas de proteção marinha. O Brasil poderia ter mais parques marinhos, com áreas protegidas (apenas 2% dos 3,6 milhões de quilômetros quadrados de mar do país estão em área de proteção, enquanto o índice recomendado pela Convenção da Diversidade Biológica, das Nações Unidas, é de pelo menos 10% em cada país). A maior diversidade é boa para as pessoas porque melhora o turismo, a qualidade da água. Ao se preservar as espécies, se protege também a costa contra os processos erosivos. 

DC  Quais são as áreas no mundo que são motivo de maior preocupação? 
Worm 
— Fizemos um trabalho sobre os impactos que atingem a vida marinha, como estava o bom manejo pesqueiro, como está a biodiversidade e chegamos a cinco áreas mais preocupantes. São elas: Indonésia, Sudeste da África, como Moçambique, por exemplo, Norte da África, como Senegal, o Golfo do México e o Mar Vermelho, no Egito. A pesca tem aumentado nesses locais sem uma preocupação com o manejo e eles têm muitas espécies na região, o que pode significar que muitos podem estar sendo ameaçados. 

DC  E quais as áreas que estão bem em termos de manejo das espécies?
Worm 
— Estados Unidos, Austrália, alguns países do Pacífico como Laus, Nova Zelândia. Eu diria que o Brasil está no meio termo. Uma boa coisa é que o Brasil está crescendo, o que aumenta a capacidade para investir em parques, em áreas protegidas, para o bem da biodiversidade e das pessoas. 

DC — O professor estuda também o atum. Por quê ele traz preocupação? 
Worm 
— Porque são muito valiosos e estão sendo pescados muito intensivamente. Uma espécie que costumo mencionar é o atum azul do Atlântico, que é um dos que mais estão em perigo no Atlântico. Há 50, 60 anos, populações da espécie costumavam passar pelo nordeste brasileiro. Em função da pesca, não existe mais esse atum na região, só são encontrados no Atlântico Norte. É uma espécie muito valiosa, um indivíduo foi vendido ano passado por US$ 1 milhão. Mas normalmente eles valem algumas dezenas de milhares de dólares, ainda é muito. Eles são valiosos para os japoneses, são usados para alguns tipos de sushi. 

DC — Você recomendaria, então, que se parasse de comer sushi? 
Worm 
— Esses grandes e caros, sim, pelo risco de desaparecerem. Eu pessoalmente, não como nenhum. Currículo Especialista em biodiversidade marinha e biologia, é professor do Departamento de Biologia da Dalhousie University, no Canadá. É responsável pelo Laboratório "Worm Lab" (wormlab.biology.dal.ca), de conservação à biologia marinha e é uma das referências mundiais no assunto. Desde 2004, tem pós-doutorado em Ciência Marinha no Leibniz Institute, na Alemanha.

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