por Emilio Godoy*
A dessalinização é vista como uma arma efetiva contra a falta de água doce, embora os riscos de contaminação decorrentes do processo tenham disparado vários alarmes.
Cidade do México, México, 13 de maio de 2013 (Terramérica).- Diante da seca que ameaça o México, a dessalinização da água aparece como uma opção viável, embora especialistas questionem seus efeitos ambientais. Um dos métodos é a filtragem por meio de membranas semipermeáveis para reter os sais.
“Esta e outras tecnologias buscam resolver problemas de certas áreas com baixa disponibilidade do recurso e para isso é preciso apenas acesso ao mar ou a zonas de água salobra”, explicou ao Terramérica o pesquisador Rodrigo González. “Representam uma oportunidade para zonas costeiras com características áridas ou semiáridas”, ressaltou este especialista do Departamento de Ciências da Água e do Meio Ambiente do Instituto Tecnológico de Sonora (Itson, estatal).
Para experimentar esse método e atender as necessidades hídricas do Estado de Sonora, o Itson e a local Comissão Estatal da Água criaram o Centro Regional de Pesquisa e Desenvolvimento da Água e da Energia, cuja função é armar e instalar plantas dessalinizadoras.
No ano passado, o México sofreu uma dura e persistente seca que afetou especialmente uma vasta área entre o centro e o norte do país, com forte impacto sobre a agricultura, a pecuária e o bem-estar de dezenas de comunidades. A previsão para este ano não é muito diferente, com especial prejuízo para o norte.
A disponibilidade de água neste país, hoje com 117 milhões de habitantes, era, em 2010, de 4.250 metros cúbicos por pessoa, que cairá para 3.936, em 2020, e para 3.822 em 2025, um nível considerado entre médio e muito baixo, segundo projeções da Comissão Nacional da Água (Conagua). As estatísticas de 2010 indicam que 77% da água encanada eram destinada a usos agrícolas.
A dessalinização ou dessalgação, “é uma opção viável, mas deve ser a última após se esgotarem todas as outras”, disse ao Terramérica o diretor do Escritório Noroeste do não governamental Centro Mexicano de Direito Ambiental, Agustín Bravo. “O problema do abastecimento em zonas desérticas ou semidesérticas tem a ver com a falta de uma política hídrica integral e ecossistemática que atenda e privilegie as necessidades humanas entre outras”, criticou.
O recurso potável
Existem diversos métodos de dessalinização, como destilação, cristalização ou congelamento, e a absorção ou mudança iônica, que requerem o uso de energia, enquanto a osmose inversa, ou filtração, e a eletrodiálise, ou filtração seletiva, ocorrem com a passagem da água por membranas mediante pressão mecânica.
As águas salobras contêm entre um mil e dez mil partes por milhão (ppm) de sais, as chamadas salinas entre dez mil e 30 mil ppm, e as do mar entre 30 mil e 50 mil ppm, enquanto a potável apresenta menos de um mil ppm. A água marinha contém principalmente clorito, sódio, sulfato, magnésio, cálcio e potássio.
Existem no mundo 15.988 estações de dessalinização, que possuem capacidade instalada superior a 66 milhões de metros cúbicos diários, e atendem mais de 300 milhões de pessoas, segundo os últimos dados da Associação Internacional de Dessalgação. O estatal Instituto Mexicano de Tecnologia da Água lista 435 plantas em operação, a maior funcionando no Estado de Baixa Califórnia Sul com capacidade de 200 litros por segundo. A maioria dessas instalações trabalha para o setor turístico.
Porém, esse método de tornar a água potável não conta neste país com um contexto regulatório que aborde os processos e o despejo dos resíduos líquidos. Na verdade, a única norma de qualidade estipula um nível máximo de sólidos dissolvidos totais de um mil ppm.
“Persiste um limbo jurídico. Não está claro exatamente como serão regularizados todos os passos para dessalinizar. Se será competência das autoridades nacionais, dos Estados e dos municípios, e, também, os possíveis efeitos negativos sobre o meio ambiente”, disse ao Terramérica o acadêmico César Nava, do Instituto de Pesquisas Jurídicas da Universidade Nacional Autônoma do México.
Os riscos do benefício
A dessalinização implica benefícios como a redução do consumo de água doce, o fim da redução dos aquíferos e a possibilidade de recarregá-los. Mas os especialistas insistem nos possíveis danos ecológicos desta tecnologia, cujo custo por metro cúbico equivale a US$ 0,50.
No processo “é gerada uma salmora, mais concentrada do que no mar, que é preciso dispor de uma maneira segura e, além disso, separar o sal exige um consumo importante de energia”, afirmou González, que construiu junto com sua equipe modelos de osmose inversa, eletrodiálise e termossolar.
Os pesquisadores instalaram este mês uma planta dessalinizadora em um cultivo de manga, sorgo e beterraba no Vale do Yaqui, região agrícola do sul de Sonora. A meta é contar, no prazo de dois anos, com um centro de produção e montagem de estações, cujo custo é de aproximadamente US$ 8 milhões.
A mistura é depositada em lagoas de secagem, onde a água evapora e o sal fica confinado ou é lançado no oceano. Mas esta opção pode prejudicar bancos de coral, pastagens e espécies marinhas. “As águas lançadas no mar não diluem, seu comportamento hidrodinâmico é como um fluido, vai emigrando e seus danos não estão devidamente estudados nem avaliados”, assegurou Bravo.
O governo do presidente Enrique Peña Nieto pretende apresentar este ano ao parlamento um projeto de nova lei de águas nacionais, que incluirá a abordagem deste método e delimitará situações como a propriedade do recurso dessalinizado quando se entregar em concessão o serviço a particulares.
“Meu medo é que se atenda a questões políticas, porque então os governos locais de zonas costeiras com escassez de água serão os que ficarão com a decisão final. Se a lei não contemplar cláusulas de proteção, prevalecerão favoritismos e a amizade e assim poderá haver uma orientação que não vai salvaguardar o interesse público”, alertou Nava.
Desde 2010 está pronta para aprovação uma regulamentação a respeito, da qual González participou, mas o governo ainda não deu luz verde. Envolverde/Terramérica
* O autor é correspondente da IPS.
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