Com 42,4 mil habitantes, Burlington é a maior cidade do estado, que tem uma população total de 625 mil habitantes. Como a representação de deputados federais é proporcional à população, Vermont conta com apenas 1 deputado no Congresso. Embora não tenha o poder de influenciar a política nacional, em 2000, foi o primeiro estado a aprovar a união civil gay e por anos proibiu a Walmart de abrir lojas em seu território. Ambientalismo é uma paixão à parte. Do momento em que se pisa no aeroporto de Burlington (que também é rodoviária), começa-se a ver placas sobre reciclagem. Os restaurantes enfatizam comida local. O lixo tem uma conta. Gerou mais quantidade, pagou mais pela disposição de resíduos.
Chris e Nate se conheceram há 10 anos. Houve namoro, amizade, idas e vindas. Ela morou em Montreal, bem perto de Vermont. Ele foi atrás dela em São Paulo, onde ficou 2 anos. E não é que se casaram?
O final feliz tem uma moldura idílica: a fazenda de 40 hectares, propriedade da família de Nate há 6 gerações, onde ele construiu sua casa, das paredes aos acabamentos e equipamentos, com as próprias mãos.
Em janeiro, Vermont está coberto de neve. Para chegar onde moram é preciso deixar a estrada e percorrer um trecho de 500 metros de terra, no momento, também transformado em um tapete nevado. “Construí essa casa com o espírito de viver uma vida mais simples”, diz Nate. “E movido pela vontade de economizar e reduzir o impacto ambiental fiz escolhas de acordo”.
A casa não está ligada ao grid de energia público. Em vez disso, conta com dois painéis solares de 75 watts que abastecem quatro baterias, semelhantes a de carros, embora mais potentes. Vermont tem uma dos menores índices de insolação dos EUA. Mesmo assim, no verão, os painéis são capazes de suprir cerca de 80% da energia elétrica consumida na casa. No último novembro, um mês já gélido por aqui, o sol brilhou além do comum, e o esquema supriu 60% do total consumido. Quando ele não dá as caras, é preciso recorrer a um pequeno gerador movido à gasolina para recarregar as baterias. Elas mantêm funcionando as luzes da casa, a bomba d’água do chuveiro, o aparelho de som, o liquidificador e o roteador Wi-Fi de internet (um dos itens que mais gasta energia).
Semana passada, fez 30 graus Celsius abaixo de zero. A calefação da casa é feita com um forno movido à lenha cortada dentro da própria fazenda. Se ele falhar, há um forno a gás, que funciona como plano B. Fogão e geladeira também são a gás.
O vaso do banheiro é seco. Isso quer dizer que, como a luz, igualmente não está ligado à rede pública, dessa vez de água. O sistema é simples. Há um assento normal de vaso sanitário, uma estrutura de suporte, e embaixo dela, escondido, um balde. A “descarga” fica ao lado: um outro balde cheio de serragem. Seja qual for o serviço, no final é só jogar serragem sobre os restos. Ela evita o cheiro e ali mesmo começa um processo de compostagem. Uma vez cheio, o balde é esvaziado em um canto certo do jardim. Os resíduos não recebem qualquer tipo de química, mas acabam virando adubo num processo que leva 3 anos. “Fico contente porque o ciclo se fecha. O lixo acaba voltando a virar vida na horta da casa”, diz Nate.
A primeira mudança de viver numa casa assim é passar a prestar atenção aguda no consumo de energia. Na sala, há um painel que mostra o percentual de carga das baterias. Hoje, quando chegamos às 15h30, marcava 97%. Perto das 23h30, marcava 78%. Nate ligou o gerador por uma hora e a carga voltou a 92%. Esta é uma casa de pilha e é preciso gastá-la com cuidado.
Tomar uma chuveirada liga a bomba de água, que é barulhenta. Garantido que o banho será mais curto, porque cada minuto debaixo d´água é um minuto culpado. Fechada a água, alívio, parou a bomba. Mas, epa, não dá para relaxar, a luz do banheiro continua ligada. É preciso se apressar em se vestir e apagá-la.
Na cozinha espartana não há forno de micro-ondas, mas pesadas panelas, destas que os chefs gostam porque mantêm o calor. Escureceu cedo, cozinhou-se com calma, e o jantar, um banquete que teve até farofa e goiabada, foi curtido com boa conversa e cerveja Long Trail, produzida na região, e cujo fabricante se gaba das suas práticas sustentáveis.
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Fonte: http://www.oeco.com.br/urbanoide/26871-uma-casa-sustentavel-perdida-entre-a-neve
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